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Retrospectiva da economia em 2019: Guedes, ‘Touro de Ouro’, Trump, BC, IPOs e muito mais
Relembre principais fatos e acontecimentos no noticiário da economia e do mercado financeiro que agitaram a Bolsa e o dólar neste ano
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Bárbara LeiteO 2019 está acabando e chegou o momento de relembrar o que de mais importante aconteceu na economia e o que agitou a B3, a Bolsa brasileira, e o câmbio no ano. Com a ajuda do #fintwit, o investidor dobrou sua presença no mercado de ações nacional. Gestores de fundos, traders e investidores viraram “influencers” e as “tretas” entre os usuários rolaram soltas.
Os tuítes de Donald Trump, foram um capítulo à parte- foi até criado um indicador pelo banco JP Morgan, o “Índice Volfefe”, para medir o impacto das mensagens no Twitter do presidente americano na volatilidade nas taxas de juros dos EUA, que inverteram a curva, e chegaram a antecipar que o país iria entrar em uma recessão por conta da guerra comercial com a China, que terminou o ano com expectativa de ter um alívio, dando alegria aos investidores.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, se firmou como o “posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro, conseguindo a aprovação da reforma da Previdência, que deve gerar uma economia de R$ 800,3 bilhões para a União e de R$ 55,4 bilhões para Estados e municípios em dez anos, com a ajuda do centrão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e de Davi Alcolumbre (DEM- AP), presidente do Senado, além da arrecadação de R$ 103,1 bilhões em privatizações.
O “patrão” Guedes, porém, também protagonizou algumas declarações polêmicas e teve várias baixas em sua equipe econômica, uma delas, a do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, por querer a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) para bancar a desoneração da folha de pagamento das empresas.
A economia brasileira começou a reagir no terceiro trimestre e o desemprego caiu, mas ainda muito suportado pelo emprego informal, com a geração de vagas por conta própria batendo recordes.
O governo deu uma “mãozinha” para estimular o consumo e o crescimento econômico e liberou os saques de até R$ 500 (que aumentaram para R$ 998 para quem possuía até esse valor em 24 de julho) por conta ativa e inativa do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Também foi criada uma nova data promocional no varejo, a Semana do Brasil, para alavancar as vendas em setembro, mês tradicionalmente fraco para o segmento. A chegada em força da gigante americana Amazon mexeu com o varejo online brasileiro.
A inflação seguiu controlada, apesar da disparada do dólar, que bateu recorde e rondou os R$ 4,26, mas terminou o ano perto de R$ 4, e do preço da carne, com a alta das exportações, sobretudo para a China.
Também foi o ano de recordes do Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, mesmo sem o “choque” do investimento estrangeiro. Também houve recorde de lançamento de ações e quatro IPOs (Oferta Pública Inicial, naa sigla em inglês), quando uma empresa lista suas ações na Bolsa, foram destaque, três pelo sucesso e um por não ter avançado, e que marcou o fim da “bolha dos unicórnios”.
O Banco Central (BC), de Roberto Campos Neto, levou a taxa básica de juros, a Selic, para o menor nível da história e abaixo da marca psicológica de 5%. A autoridade anunciou regras para elevar a concorrência do setor bancário e baratear juros, como a imposição de um teto para os juros do cheque especial.
No fim do ano, a Comissão de Mercado de Valores (CVM) abriu audiência pública para estabelecer a regulação para a criação de uma nova Bolsa de Valores no Brasil. O grupo ATS Brasil, que tem como sócio o dono da Bolsa de Nova York, pretende lançar uma plataforma no país.
O Bitcoin fechou o ano como o melhor investimento em 2019, com valorização de 95,62%, mas as fraudes envolvendo as criptomoedas cresceram em 2019.
A companhia aérea Avianca abriu falência, suas slots da ponte aérea Rio-São Paulo foram distribuídas e a Azul entrou na rota mais rentável no país. Também chegaram quatro aéreas low cost (de baixo custo) ao país, com o objetivo de baratear as passagens aéreas, duas delas ultra low cost.
Também foi o ano dos protestos contra a desigualdade social ou políticas locais pelo mundo, principalmente na América Latina.
Após 20 anos de negociações, o Mercosul fechou o acordo com a União Europeia, mas corre o risco de não se concretizar por conta da crise com as queimadas na Amazônia.
Confira abaixo mais detalhes dos principais fatos que marcaram a economia em 2019:
1. Reforma da Previdência
Esperada pelo mercado e prioridade do novo superministro do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, a reforma da Previdência entrou em vigor em 13 de novembro. O investidor estrangeiro duvidou de que o Brasil pudesse mexer nas regras para a aposentadoria e contribuição ao INSS nos nove meses em que tramitou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 6 no Congresso Nacional.
Com algumas derrotas para o governo impostas pelo Congresso, o texto aprovado prevê que a Previdência economize R$ 800 bilhões em dez anos, com novidades como exigência de uma idade mínima para se pedir a aposentadoria, ajudando a equilibrar as contas públicas.
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A redução no déficit das contas públicas era uma condição essencial para o país conseguir de volta o grau de investimento, o chamado selo de bom pagador, que atrai investidores ao país, e tende a ajudar no crescimento econômico e a baratear o dólar.
Também era vista como fundamental para o empresariado voltar a ter confiança no país.
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A discussão iniciou em 2016, com a PEC 287 do ex-presidente Michel Temer, e voltou à pauta em 20 de fevereiro. A PEC paralela, que inclui Estados e municipoios na reforma, foi aprovada pelo Senado em 19 de novembro e está em tramitação na Câmara dos Deputados.
Além da PEC, outros três projetos ligados à área, como mudanças da aposentadoria de militares e a medida provisória do pente-fino no INSS, vão aumentar a economia aos cofres públicos para R$ 1,308 trilhão em dez anos.
2. ‘Patrão’ Guedes, CPMF, Tarcísio e privatizações
O superministro da Economia, Paulo Guedes, se consolidou no cargo. Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro admitiu que Guedes era o seu patrão na área de economia, e não o contrário. “Eu que tenho que me alinhar a ele, não ele a mim. Ele que é meu patrão nesta questão, não eu o patrão dele”, disse.
Como “patrão”, Guedes escolheu o ex-deputado e seu secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, para articular no Congresso a aprovação da reforma da Previdência e foi bem-sucedido. Guedes o qualificou como o “senhor reforma”.
Na área de privatizações, o governo arrecadou R$ 103,1 bilhões com a venda de participação em 67 empresas, o dobro do esperado por Guedes, que segue defendendo a venda de “todas as estatais”, a despeito da posição contrária de Bolsonaro.
A Petrobras (PETR3) fez parte da agenda de privatizações, com a venda do controle na BR Distribuidora, o que rendeu R$ 9,6 bilhões.
A agenda de privatizações incluiu leilões de petróleo, ferrovia e aeroportos. Um dos principais foi o megaleilão do excedente do petróleo da cessão onerosa, que arrecadou R$ 69,98 bilhões, mas foi considerado um fracasso porque não atraiu investidores estrangeiros, fazendo o dólar disparar. A expectativa era arrecadar R$ 106,5 bilhões.
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Ainda na área de petróleo, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as rodadas de licitações realizadas em 2019 tiveram 48 blocos arrematados, levantando mais de R$ 78,89 bilhões.
Em outros setores também houve leilões. Em março, o governo arrecadou R$ 2,377 bilhões à vista com leilão de 12 aeroportos, em uma disputada dominada por empresas estrangeiras.
Foram leiloados ainda 13 terminais portuários e na área de ferrovias, houve o leilão do trecho de 1,5 mil quilômetros da Ferrovia Norte-Sul vencido pela Rumo (RAIL3) com lance de R$ 2,719 bilhões.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, também foi um dos destaques do ano, ao liderar esses leilões e conseguir conter a “fúria” dos caminhoneiros, que ameaçaram várias greve ao longo de 2019, tentando repetir maio de 2018, mas nenhuma teve sucesso, pois a categoria estava dividida, a maior parte alinhada com o ministro.
No entanto, houve projetos de privatização que ainda não saíram do papel. Um dos principais foi o da Eletrobras.
A equipe econômica sofreu duas baixas importantes, o ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff Joaquim Levy, presidente do BNDES, que ficou 5 meses no cargo, e Marcos Cintra, em setembro.
Este último caiu porque um assessor seu divulgou publicamente os planos da recriação da CPMF, o “imposto maldito”, como classifica agora Guedes, tributo impopular entre Bolsonaro e o Congresso, que continua nos planos de Guedes, que admitiu tributar em 20% os dividendos após a suspensão da volta do tributo sobre pagamentos, ou tributar os pagamentos digitais para bancar seus planos de desonerar a folha das empresas.
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Guedes também se envolveu em polêmicas. Em uma delas, em setembro, declarou que Brigitte Macron, mulher de Emmanuel Macron, presidente da França, “é feia mesmo”, ao comentar o episódio em que Bolsonaro falou sobre a esposa do presidente francês. Mais tarde, o ministro se desculpou.
Em novembro, Guedes disse a jornalistas em Washington (EUA) para não se assustarem caso alguém peça o AI-5, ato da ditadura brasileira, diante de “quebradeira” nas ruas. Em seguida, disse que a democracia brasileira não admitiria um ato de repressão.
3. Falência da Avianca e chegada de aéreas low cost
A Avianca Brasil, que era a quarta maior companhia aérea do país, entrou com o pedido de recuperação na Justiça de São Paulo. Este anúncio teve desdobramentos por todo o primeiro semestre, gerou impacto na oferta aérea e, consequentemente, no preço das passagens.
Após o início do processo, a companhia anunciou o fim de suas rotas internacionais para Santiago, Nova York e Miami. A decisão foi seguida do fechamento de bases em diversas cidades do Brasil e do encerramento de dezenas de rotas domésticas, o que resultou no cancelamento de mais de 2 mil voos nos primeiros quatro meses.
Simultaneamente, a companhia viveu um drama em relação à devolução de aeronaves. Empresas de leasing entraram com pedido na Anac para os aviões de volta por falta de pagamento. A Avianca conseguiu manter as aeronaves por meio de recursos, mas após a aprovação de seu plano de recuperação judicial, que dividiu a empresa em sete Unidades Produtivas Individuais (UPIs), a empresa perdeu as aeronaves e viu sua frota ser drasticamente reduzida.
Sem aeronaves, sem voos, sem rentabilidade e com uma dívida próxima a R$ 3 bilhões, a empresa não conseguiu garantir pagamentos de seus funcionários e de verbas rescisórias, o que culminou em uma greve no início de maio. O cenário levou a Anac a suspender as operações da companhia no dia 24 de maio. Os slots (autorizações de pouso e decolagem de um aeroporto) da Avianca foram distribuídos e a Azul passou a operar a ponte aérea Rio-São Paulo, a rota mais rentável do país.
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Também foi o ano em que a cobrança de bagagens acelerou o processo de entrada das empresas low-cost (de baixo custo) no Brasil. A primeira delas foi a Norwegian, que iniciou operações entre Rio de Janeiro e Londres no mês de março.
Além dela, também já iniciaram voos a Sky Airlines (Santiago – São Paulo, Florianópolis, Salvador e Rio de Janeiro), além das ultra low cost , a chilena Jetsmart e a argentina Flybondi.
4. Acordo UE-Mercosul e queimadas na Amazônia
No fim de junho, foi assinado o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), após 20 anos de negociações, com expectativa de elevar em US$ 9,9 bilhões as exportações do Brasil para o bloco europeu e potencial de gerar 778,4 mil empregos, segundo cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No fim do mês de julho, a divulgação de uma pesquisa do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que afirmava que o desmatamento na Amazônia havia crescido 278% em relação ao mesmo período de 2018 desencadeou uma grave crise no governo. Na época, tanto o presidente da República, Jair Bolsonaro, quanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desmentiram os dados do instituto. O caso ganhou repercussão internacional e pode pôr em causa até o acordo entre os blocos, por conta da rejeição da França.
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Empresas, como a H&M, segunda maior varejista de moda do mundo, pararam de comprar couro do Brasil temporariamente devido a preocupações ambientais ligadas a incêndios na Amazônia.
5. Selic abaixo da marca psicológica de 5% e BC
A taxa básica de juros, a Selic, sofreu um corte de dois pontos em 2019, saindo de 6,50% em julho até os atuais 4,50% ao ano, menor nível da história. A redução deixou os investimentos em renda fixa menos atrativos e começou a “empurrar” os investidores para aplicações financeiras mais arriscadas. Resultado: o número de investidores na B3, a Bolsa brasileira, dobraram e chegaram a mais de 1,6 milhão.
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O Comitê de Política Monetária do Banco Central avaliou que era possível cortar os juros em meio à inflação estável e crescimento ainda gradual da economia. A expectativa é que o IPCA, a chamada inflação oficial, termine 2019 em 4,04%, abaixo do centro da meta perseguida pela autoridade, que é de 4,25%.
Nem a disparada do dólar ou do preço da carne, em dezembro, segundo a prévia, a alta está na casa dos 20%, fez a autoridade mudar a política estimulativa.
O BC também criou condições para que as “fintechs” (startups que atuam na área financeira) possam fazer mais concorrência para os bancos tradicionais, que elevaram as demissões e fecharam agências para enfrentar a nova concorrência dos bancos digitais, que não cobram tarifas em vários serviços.
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A autoridade também impôs um teto de 8% ao mês para os juros do cheque especial a partir de 6 de janeiro.
A redução da Selic levou a uma “briga boa” entre os bancos nos juros do crédito imobiliário, com a Caixa liderando as baixas e criando uma nova modalidade de empréstimo habitacional atrelado ao IPCA com juros fixos mais baixos.
A queda dos juros e a maior geração de vagas fez o setor da construção civil iniciar sua retomada.
6. PIB, saques do FGTS e desemprego
O mercado começou o ano com muitas expectativas, mas a economia não correspondeu ao esperado. O país deve crescer 1,17% em 2019, contra expectativa de 2,53% em dezembro de 2018. A partir do terceiro trimestre, porém, o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) começou a reagir, e a previsão é que a economia cresça perto de 2,50% no ano que vem.
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Para ajudar no crescimento econômico, que não deslanchava nem com a agenda liberal do novo governo nem com a esperada aprovação da reforma da Previdência, o governo lançou duas medidas: liberou os saques de até R$ 500 (que subiu para R$ 998 para quem tinha até esse valor em 24 de julho) por conta ativa e inativa do FGTS e criou a Semana do Brasil, data promocional na semana do 7 de Setembro, para alavancar as vendas do varejo.
O varejo online continuou a ganhar força, e a chegada do Amazon Prime, pacote de serviços da gigante americana do comércio eletrônico, no Brasil, fez a concorrência começar a oferecer frete grátis e entregas mais rápidas.
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A melhora do consumo e da confiança do empresariado se refletiu na abertura de vagas no país. Os empregos com carteira assinada somaram quase 100 mil em novembro. No ano, foram criadas 948.344 vagas formais, desempenho mais forte para o período desde 2013 (1,547 milhão de postos).
O desemprego está caindo, mas ainda atinge 11,9 milhões e a queda está mais sustentada pela informalidade, como o emprego por conta própria, que está em níveis recorde, do que pelo aumento da ocupação.
7. Trump tuiteiro e a guerra comercial com a China
No cenário externo, o que dominou o noticiário ao longo do ano foi a guerra comercial entre EUA e a China, que foi acirrada mas fechou 2019 com perspectivas de um alívio, e o presidente americano Donald Trump foi protagonista com seus tuítes.
O acirramento da guerra levou o mercado a temer que o mundo registrasse uma recessão, penalizando a Bolsa e puxando o dólar.
Em dezembro, as duas potências chegaram à primeira fase de um acordo parcial, que cancelou a nova rodada de tarifas sobre US$ 160 bilhões em produtos chineses a partir de 15 de dezembro. Além disso, serão reduzidas de 15% para 7,5% as taxas sobre outros US$ 120 bilhões em importações da China. Pelo Twitter, o presidente deu a boa notícia ao mercado.
Getting VERY close to a BIG DEAL with China. They want it, and so do we!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 12, 2019
Ao longo do ano, além dos tuítes contra a China e o presidente chinês Xi Jinping, Trump destilou seu veneno contra o presidente do Fed (Banco Central dos EUA), Jerome Powell, por considerar que o corte dos juros promovidos pela autoridade- três de 0,25 ponto percentual desde julho- foram menores do que ele desejava para estimular mais o crescimento e baratear o dólar, e com isso, tornar as exportações americanas mais competitivas.
“Jay Powell e o Federal Reserve falham novamente. Sem coragem, sem noção, sem visão! Um péssimo comunicador!”., disse ele, em dos seus tuítes polêmicos.
Jay Powell and the Federal Reserve Fail Again. No “guts,” no sense, no vision! A terrible communicator!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 18, 2019
Neste ano, as decisões e falas de membros do Fed voltaram a mexer com o humor do mercado.
Além de gerar volatilidade no mercado com seus tuítes e declarações, Trump termina 2019 alvo de impeachment, que foi aprovado na Câmara, mas tem poucas chances de avançar no Senado, onde o seu partido, o Republicano, tem a maioria dos assentos.
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Um telefonema entre o presidente americano e Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, foi gatilho para o processo. Na ligação, o americano teria exigido do ucraniano que investigasse possíveis atos de corrupção de Robert Hunter Biden, filho de Joe Biden, possível rival de Trump na eleição de 2020. A investigação seria a condição imposta por Trump para fornecer ajuda militar na guerra contra separatistas no Leste do país.
8. Bolsa e dólar batem recorde; risco-país despenca
As expectativa de uma retomada mais robusta no crescimento da economia e a redução das tensões comerciais entre China e EUA fizeram o risco-país cair abaixo dos 100 pontos, menor nível desde 2010, quando o país possuía grau de investimento, o chamado selo de bom pagador, que costuma atrair investimentos ao país.
Apesar da queda do risco-país, o dólar ante o real fechou o ano com valorização de 3,63%, mas recuou a R$ 4,01, longo dos recordes históricos que alcançou, de R$ 4,26, em 2019.
Vários motivos explicam a alta, como a frustração com os leilões do petróleo, a queda dos juros no Brasil em amplitude maior do que nos EUA que “afugentaram” os especuladores, diminuindo a atração pelo chamado “carry trade”, o fato dos investidores estrangeiros estarem comprados no mercado futuro de dólar (que se beneficiam com a alta da divisa americana) e os protestos na América Latina.
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A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a constitucionalidade da prisão após a condenação em segunda instância, que libertou o ex-presidente Lula da Silva, chegou a penalizar o dólar , mas teve impacto limitado no mercado financeiro.
Já a queda dos juros para as mínimas históricas, a queda nas tensões na guerra comercial e a previsão de crescimento econômico mais forte em 2020 levaram o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, a bater 37 recordes no ano.
O último foi alcançado na quinta-feira passada, dia 26, nos 117.219 pontos. Em dezembro, o indicador valorizou 6,85%, consolidando 2019 como um dos melhores dos últimos 10 anos para a Bolsa, com ganhos de 31,58%, a maior alta desde 2016, quando o indicador subiu 38,94%. Em 2017, o avanço foi de 26,86% e, em 2018, de 15,03%.
Das 68 ações que compõem o índice, apenas seis fecharam em queda em 2019. As construtoras tiveram fortes valorizações assim como os frigoríficos, que foram beneficiados pela liberação das exportações à China, que sofreu com a peste suína africana que dizimou rebanhos.
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9. Inversão da curva de juros nos EUA — e o medo de uma recessão global
Em agosto, um fato chamou a atenção dos economistas e investidores de todo o mundo. Invertendo a lógica de sempre, os títulos de longo prazo da dívida americana foram negociados com juros mais baixos do que papéis de curto prazo. Em alguns países europeus, eles chegaram a ser negociados com taxas negativas. Se você não se impressionou com esse fato, vale lembrar que foi a primeira vez que isso aconteceu desde 2008, nos meses que antecederam a crise financeira global.
A queda das taxas de juros é um reflexo dos temores sobre uma nova crise global. O medo de uma recessão fez com que os investidores buscassem títulos mais longos da dívida do governo dos EUA — considerado um dos ativos mais seguros do mundo. Essa corrida fez com que o preço desses ativos subissem, derrubando assim a rentabilidade desses títulos. Como a demanda pelos papéis de curto prazo não se acelera na mesma velocidade, esses títulos ofereciam taxas de juros mais elevadas do que as de longo prazo.
Esse cenário permaneceu por algumas semanas, mas com o enfraquecimento da guerra comercial entre EUA e China, a curva de juros voltou ao desenho mais usual, com papéis de longo prazo oferecendo rentabilidade maior do que os títulos de curto prazo.
10. Os 4 IPOs (ou quase IPOs) destaque em 2019: XP inc., Vivara, Saudi Aramco e WeWork, e o fim da ‘bolha de unicórnios’
O mercado brasileiro viveu uma onda de lançamentos de ações em 2019. Estrearam na Bolsa empresas como a loja de departamentos C&A, a joalheria Vivara, o banco BMG, a holding Neoenergia e o grupo SBF, dono da rede Centauro.
Foi o ano com o segundo maior volume lançamentos de ações, incluindo as estreias (IPO na sigla em inglês, Oferta Pública Inicial) e follow-ons (quando a empresa emite novas ações e já está na Bolsa): R$ 89,6 bilhões. 2019 perdeu apenas para 2010, ano que contabiliza a megacapitalização da Petrobras de R$ 120 bilhões. A estreia da Vivara, que acabou aproximando o investidor mais da Bolsa, foi a mais aguardada do ano.
Lá fora, três IPOs merecem destaque. O da brasileira XP Inc., dona da XP Investimentos, que levantou US$ 2,25 bilhões e conseguiu fixar o valor por ação acima do intervalo indicativo, já que a demanda bateu 14 vezes a oferta. A listagem na Bolsa americana Nasdaq foi o nono maior IPO do mundo em 2019. Além dos valores envolvidos, a estreia da XP fez o investidor passar a olhar investimentos em Bolsas no exterior.
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A Arábia Saudita vendeu apenas 1,5% da Saudi Aramco e arrecadou US$ 25,6 bilhões no maior IPO de todos os tempos. Após quatro anos de adiamentos, o regime saudita anunciou a abertura das ações da empresa petrolífera, maior do mundo em reservas conhecidas e responsável por 10% da produção mundial de petróleo. A entrada na Bolsa ocorreu em dezembro, com uma avaliação de US$ 1,7 trilhão.
A listagem aconteceu meses após a petrolífera ter sido alvo de um ataque massivo de drones que chegaram a parar a produção da companhia por vários dias, puxando o preço do petróleo no mercado e dos combustíveis no Brasil. Às vésperas da oferta, a Arábia Saudita não revidou o Irã, que foi o autor do ataque.
O terceiro merece destaque por ter sido um fiasco: o quase IPO da WeWork, empresa que aluga imóveis em várias cidades ao redor do mundo e os converte em espaços de coworking (compartilhamento de trabalho) modernos e convidativos, principalmente a empreendedores, e chegou a ser avaliada em US$ 47 bilhões.
Hoje, a companhia está presente em mais de 100 cidades de cerca de 30 países, incluindo o Brasil.
O problema surgiu quando a empresa fez seu pedido de abertura de capital, e o mercado avaliou que o crescimento rápido da empresa não era acompanhado de expectativa de lucro. A empresa gasta demais- só em 2018, o prejuízo foi de US$ 1,9 bilhão contra o US$ 1,8 bilhão de receita. O negócio foi avaliado em US$ 47 bilhões pelo SoftBank (que desde 2016 é praticamente o único investidor da We Company), mas esse valor foi considerado superestimado.
Também se começaram a questionar algumas ações do ex-CEO (presidente executivo), Adam Neumann, como a promoção de festas no trabalho e a locação de seus imóveis para a WeWork. Neumann apresentou sua demissão em 24 de setembro e o IPO na Bolsa de Nova York foi cancelado.
Para a Gavekal Research, o episódio resultou no estouro da “bolha de unicórnios (startups que não estão em Bolsa e estão avaliadas acima de US$ 1 bilhão), mas que até agora teve poucas ramificações”. Aparentemente, o mercado está rejeitando companhias com potencial de crescimento mas que apresentam avultados prejuízos e ainda assim têm avaliações astronômicas.
11. Protestos na América Latina e Hong Kong; e a novela do Brexit
O ano foi de protestos ao redor do mundo, uns pedindo mais Estado na economia, outros, menos. Houve ruas ocupadas, confrontos políticos e mortes em sete países na América do Sul– Chile, Bolívia, Equador, Peru, Argentina, Venezuela e Paraguai. Foram manifestações que começaram por motivos bastante específicos, mas que acabam por refletir a insatisfação da população com a situação geral de seu país, um descontentamento com a queda da qualidade de vida e com a classe política.
O real acabou por não se valorizar tanto apesar dos indicadores econômicos mais favoráveis, da aprovação da reforma da Previdência e queda do risco-país porque o investidor estrangeiro entendeu que os protestos nos vizinhos poderiam contagiar brasileiros a ir para a ruas.
Na estável economia do Chile, as manifestações começaram contra aumento da tarifa de metrô em Santiago. O presidente chileno Sebastián Piñera atendeu aos pedidos das ruas e vai realizar um plebiscito em abril de 2020 para estabelecer uma nova Constituição, substituindo a atual que remonta ao período de ditadura militar. A população quer ver na Constituição uma obrigação maior do Estado na prestação de serviços básicos, como saúde e educação.
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Já na antiga colônia britânica, que agora está sob a gestão da China, Hong Kong, conhecida por sua prosperidade, protestou exatamente pelo contrário, por menos intervenção estatal.
Desde junho, manifestantes pró-democracia lutam contra o controle da China. Os protestos iniciaram por causa de um projeto de extradição agora arquivado que permitiria que as pessoas fossem enviadas à China continental para julgamento e depois evoluíram para apelos mais amplos à democracia.
Foram cerca de 900 manifestações, procissões e reuniões públicas, muitas terminando em confrontos violentos. Quase 6.000 pessoas foram presas. Em novembro, eleições parlamentares na ilha deram ampla vitória a candidatos alinhados aos protestos, que também receberam apoio de Trump.
Líbano, Iraque e Catalunha (Espanha) também protagonizaram manifestações ao longo do ano.
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A novela do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) foi outro evento que agitou o cenário internacional. A falta de apoio ao acordo de saída fez cair a primeira-ministra britânica Theresa May. No seu lugar entrou Boris Jonhson, que costurou um novo acordo para a saída do país do bloco, que foi também contestado internamente, mas levou a eleições antecipadas em 12 de dezembro, com vitória expressiva do partido Conservador, de Jonhson. Uma saída brusca poderia levar caos ao mercado financeiro britânico, e contagiar o resto do mundo.
O acordo de Jonhson é semelhante ao alcançado por sua antecessora Theresa May. A maior diferença surge na criação de um estatuto “especial” para a Irlanda do Norte, que é parte da Grã-Bretanha. A República da Irlanda é um país independente que faz parte da União Europeia. Neste acordo, desaparece o polêmico mecanismo de salvaguarda para impedir uma fronteira física entre as duas “Irlandas” (backstop), o que garante que o Reino Unido não fica indefinidamente “preso” às regras da UE e que tal cláusula não fica condicionada à assinatura de um novo acordo de livre comércio.
12. Negócios do ano: fusão da Peugeot com a Fiat e Natura-Avon
Dois negócios em 2019 merecem atenção. O primeiro foi a fusão das montadoras: grupo PSA, detentor da Peugeot e Citroën, e a Fiat Chrysler, duas das maiores fabricantes de automóveis do mundo. Juntas, valem US$ 50 bilhões. Os conselhos de administração das empresas afirmam que não será fechada nenhuma fábrica. A companhia resultante será a quarta maior montadora do mundo, vendendo 8,6 milhões de veículos por ano.
O segundo foi a compra pela fabricante brasileira de cosméticos Natura (NTCO3) da americana Avon por aproximadamente US$ 3,7 bilhões. Com a aquisição, foi criado um grupo avaliado em US$ 11 bilhões. A Natura controla cerca de 76% do grupo.
13. ‘Touro de Ouro’ e #fintwit
O ano foi do surgimento de novos influenciadores digitais relacionados a investimentos e finanças pessoais, que ajudaram a elevar o número de investidores em Bolsa- são 1,6 milhão, um crescimento de quase 100% em um ano- e dos interessados sobre o tema. No Twitter, essa comunidade, que engloba gestores de grandes fundos, traders, analistas, economistas e ainda perfis anônimos, se autoproclama de #fintwit (nome que deriva das palavras financeiro (fin) e Twitter (twit)).
Um dos que gerou mais barulho em 2019 foi o de Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae e colunista do Economia Bárbara, site que também fez sua estreia neste ano.
Com seu “Minuto Econômico”, lançado em outubro, Syper ganhou mais de 50 mil seguidores por seus vídeos com resumos e orientações do que pode mover o pregão e seu “Touro de Ouro”, objeto que virou uma espécie de amuleto das altas e dos recordes do Ibovespa. O mercado fez romaria para tocar no “Touro de Ouro”, que passou a ter uma réplica na B3.
Outros perfis no Twitter agitaram geral, como o de gestor Henrique Bredda, do Alaska Asset Management, e de Sérgio Machado, sócio e gestor da SF2 Investimentos. Houve debates sérios, ensinamentos, mas muitas “tretas”.
O perfil bem humorado de um anônimo, gestor das antigas, Faria Lima Elevator, que se define como “mercado financeiro raiz”, ganhou neste ano uma versão carioca, o Leblon Elevator, perfil que se autodenomina concorrente ao do Faria Lima Elevator, só que no “condado do Leblon, BVRJ (bolsa do Rio de Janeiro), primeiro mercado brasileiro”.
*Com G1, Época Negócios e Valor.com
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