Economia Bárbara
  

Dicas Bárbaras

Veja onde investir em 2020 com a Selic em 4,50%

Confira o que especialistas em finanças recomendam aplicar o dinheiro com a queda da taxa básica de juros para o menor nível da história

Bárbara Leite

Publicado

em

O investidor vai precisar diversificar e arriscar mais com a nova Selic, que deve permanecer nesse nível no ano que vem–Foto: Pixabay

Ganhar dinheiro no Brasil com investimentos financeiros está virando um desafio cada vez maior. A taxa básica de juros, a Selic, caiu, há duas semanas, de 5% para 4,50% ao ano, menor nível de sempre, e assim deve permanecer ao longo do ano que vem. Estudo, diversificação e risco são as palavras de ordem para o investidor brasileiro.

“Não é preciso se assustar com a nova taxa”, avalia a educadora financeira Cíntia Senna. “Quem já começou o hábito de economizar, com a nova taxa pode começar a ampliar a visão para outros produtos financeiros não atrelados à Selic”, diz.

Para o consultor financeiro André Massaro, “o número 5 é uma barreira psicológica. A gente começa a chegar a uma taxa real negativa. A renda fixa típica na melhor das hipóteses vai te preservar o valor do investimento. O Brasil vai começar a ter um padrão de investimento mais similar ao que se pratica no primeiro mundo. A renda fixa será mais uma reserva de emergência ou proteção na carteira, que tenderá a ser majoritariamente de renda variável”.

Leia também: 2019: ano em que investimentos de risco se deram bem

“Se os juros permanecerem nessa trilha, voltamos a afirmar a necessidade dos investidores para, de forma racional e comedida, aprenderem a assumir riscos”, sugere o professor de finanças do Ibmec, Giácomo Diniz.

Para saber onde investir em 2020 com o juro básico no menor nível da história veja abaixo a recomendação dos especialistas.

Poupança deve perder para a inflação mas serve de ‘escola’

O mais tradicional dos investimentos deve seguir perdendo para a inflação em 2020. Com a Selic em 4,50%, a poupança paga 70% do juro básico, que é 3,15% ao ano. Como a inflação projetada para o IPCA (inflação oficial) no ano que vem é de 3,60%, de acordo com o Boletim Focus, a caderneta terminará 2020 com um retorno negativo de 0,43%. Ou seja, ela vai render 3,15% mas com a inflação maior, na prática, o poupador vai perder poder de compra.

Leia também: Ibovespa deve chegar aos 250 mil pontos em 2022, mas ‘gringo não vem’, diz gestora do Dahlia

Levantamento da Economatica mostra que a última vez em que a caderneta de poupança não teve ganho real no acumulado no ano foi em 2015.

E agora? Fugir da poupança? Para Cíntia, a aplicação ainda segue válida para quem nunca investiu. “Vale a pena a poupança porque para esse investidor não importa só o rendimento, mas o ato de poupar parte do que ganha. É melhor aplicar na poupança do que não investir em nada e não ter reserva nenhuma”, avalia.

Massaro avalia que grande parte dos brasileiros tem suas economias na poupança e a única explicação para isso “é emocional”, já que retorno da aplicação vem perdendo para outros investimentos. “O brasileiro tem muito apego à poupança. Fomos acostumados. É uma zona de conforto”, lembra ele.

Fabrizio Gueratto, financista do Canal 1Bilhão Educação Financeira, diz que o “brasileiro que estiver neste investimento (poupança) ficará mais pobre”. “São mais de R$ 820 bilhões ‘investidos’ na poupança, que serão ‘comidos’ pela inflação”, calculou. “Não é uma questão de ganhar mais, mas de deixar de perder dinheiro”, finaliza. 

Alternativas à caderneta: Tesouro Direto, CDBs e LCIs

Com os cortes na Selic–em 2019 foram quatro de meio ponto percentual, de 6,50% para 4,50%–, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), índice de referência de investimentos em renda fixa, está em 4,40%, tornando mais difícil achar aplicações financeiras menos desvantajosas.

Apesar da renda fixa ficar com ganho menor, os especialistas continuam recomendando que é preciso continuar tendo ativos mais conservadores na carteira, como os títulos do governo brasileiro, ofertados na plataforma Tesouro Direto.

Leia também: Em três dias, B3 tem três pedidos de IPO; outros 12 estão na fila: veja quais

“Ativos como Tesouro Direto e CDBs (Certificados de Depósito Bancário) devem continuar recebendo atenção, principalmente para reserva de emergência. O investidor nunca pode deixar todos os ovos na mesma cesta. Ter consciência de seus objetivos financeiros é o primeiro passo para definir sua estratégia de investimento e diversificação”, segundo Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

Para o curto prazo, a dica são os títulos Tesouro Selic; para médio e longo, os Tesouro IPCA+, de prazos maiores.

Entre os CDBs, a educadora financeira recomenda os que pagam mais que 100% do CDI, que podem ser encontrados em bancos menores, por meio de corretoras de valores.

Segundo Cíntia, também as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que não pagam Imposto de Renda (IR) e dão retorno acima de 85% do CDI, são boas alternativas no novo cenário de juros baixos.

Leia também: 57 livros sobre investimentos que você precisa ler

Ela lembra que títulos têm a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), espécie de seguro de investimentos que cobre até R$ 250 mil por CPF, em caso de falência da instituição financeira.

Fundos imobiliários e ETFs, iniciação à renda variável

Para quem quer começar a expandir os investimentos para ativos mais arriscados em busca de retornos maiores, os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) e os ETFs (Exchange Traded Funds, que são fundos de índices comercializados como ações) são recomendados.

“Os FIIs são a porta de entrada ideal para a renda variável. São geradores de renda, e o brasileiro tem afinidade com imóveis. É um território mais confortável”, disse André Massaro.

Cíntia refere que os fundos imobiliários estão dando retorno médio entre 6% a 7% ao ano, melhor do que estão conseguindo os donos de imóveis que colocaram suas unidades para alugar, na faixa de 3% a 4% ao ano.

Basicamente, os FII aplicam dinheiro em variadas possibilidades dentro do ramo imobiliário, e existem dois grandes tipos: os de “tijolo” (são aqueles investem majoritariamente em empreendimentos físicos como na aquisição, construção ou aluguéis de imóveis ditos como comerciais, a exemplos dos shopping centers, faculdades, galpões e armazéns, escritórios) e os de “papel”, que investem em títulos financeiros que estão ligados ao mercado imobiliário.

Veja também: 15 filmes e séries obrigatórias sobre o mercado financeiro

A recomendação é optar por um FII de “tijolo”, que tenha vários empreendimentos em sua carteira. Nunca investir em fundos monoativos (com um único imóvel) sempre terão maior risco de vacância enquanto os que possuem imóveis alugados para uma única empresa sofrem também o risco de inadimplência.

O investidor tem duas formas de ganhar dinheiro com um FII. A primeira é com o rendimento gerado por mês com aluguéis e serviços, os dividendos mensais, que têm a vantagem de serem isento de IR. A segunda é com a possível valorização da cota, caso o valor dos imóveis que ele investe direta ou indiretamente sejam vendidos a um preço maior do que o da compra. Lembrando que quando o investidor vender sua cota, aí já paga IR (alíquota de 20% sobre o ganho do capital).

O professor Diniz também recomenda investimento em FIIs e lembra que para escolher um bom fundo, a orientação é verificar o histórico de pagamento de dividendos, a reputação do gestor e os ativos em que ele investe.

Veja também: Gestor da Daycoval: Selic deve subir a 6% em 2021; veja vídeo

Alessandro Vedrossi, sócio-diretor e responsável pela área imobiliária da gestora Valora Investimentos, diz estar “cautelosamente otimista” com o mercado imobiliário. “A crise nos últimos três a quatro anos foi muito profunda e ainda vai levar algum tempo para a recuperação. O grande driver será a microeconomia. Há oportunidades para os fundos em determinados bairros e cidades do país”, avançou Vedrossi.

Queda dos juros aliado à perspectiva de crescimento mais acelerado para a economia, que tendem a puxar a demanda das por espaços maiores e os aluguéis, são positivos para o segmento. Uma alta do consumo também favorece os shoppings, que estão no portfólio de vários FIIs.

Para Massaro, os ETFs, que viraram no mundo “o ativo de renda variável de menor resistência dos investidores”, são boas opções para o aplicador iniciar em investimentos de maior risco.

Os especialistas recomendam os ETFs que seguem o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira. Se o Ibovespa sobe, seu dinheiro sobe na mesma proporção, mas se o Ibovespa cai, seu rendimento também cai.

Neste ano, até à ultima sexta, o Ibovespa acumula valorização de 31%. Quem comprou ETFs no início do ano e as vendeu na última sexta ganhou a variação do índice descontando a taxa de administração, que nesses fundos varia entre 0,20% e 0,80% ao ano. A expectativa do mercado é que o Ibovespa siga batendo recordes em 2020 (veja abaixo).

Fundos multimercados

Para a educadora financeira, outra opção são os fundos de investimentos multimercados, que investem em vários produtos diferentes, tanto de renda fixa quanto de variável, como ações, moedas estrangeiras e commodities (matérias-primas).

A variedade de fundos multimercados é enorme – são 9.225 ou 49,6% da indústria total de fundos de investimentos no país.

A mesma regra para a escolha dos FIIs também vale para os multimercados: ver histórico do gestor e performance do fundo e onde ele investe. Também se deve evitar fundos que cobram mais de 1% de taxa de administração, segundo Cíntia Senna.

Em 2019, este tipo de ativos estão se beneficiando da alta do dólar e da Bolsa, por exemplo.

Bolsa, o mercado de ações: para quem está seguro que quer arriscar

Com a era dos juros historicamente baixos, o investidor brasileiro deve passar a olhar o mercado de ações como opção de investimento, segundo os especialistas. Mas essa entrada deve ser gradual. Se não tem tempo de ficar analisando o mercado, opte por um ETF ou recorra a um profissional.

Massaro é defensor da tese que o pequeno investidor não vai conseguir escolher as ações que mais podem valorizar em 2020. A indicação é diversificar.

O professor Diniz recomenda que o investidor opte por “empresas que têm vantagens competitivas”. “Um setor que merece atenção é a construção civil. As ações de varejo também podem ser uma boa opção”, disse. “As empresas de varejo estavam na ‘bacia das almas’ e podem recuperar”, acrescentou.

Além do varejo, analistas também citam empresas ligadas à infraestrutura e siderurgia, que podem se beneficiar do maior crescimento da economia–o mercado espera que o país cresça o dobro de 2019, em 2,28%. O programa de privatizações agressivo do ministro Paulo Guedes, de vender 300 estatais, também pode ser uma oportunidade para os investidores.

Segundo o professor, o investidor deve, porém, ter cuidado e não participar dos IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês), quando uma empresa vai para a Bolsa, sem uma boa avaliação.

O JP Morgan sugere que o investidor deve escolher ações pagadoras de dividendos.

Leia também: Número de investidores na Bolsa dobra até novembro

Neste ano, quem investiu no mercado de ações se deu. Alguns analistas chegam a projetar o Ibovespa acima de 133 mil pontos. Neste ano, o Ibovespa já subiu 31%. Se no próximo ano esse crescimento for mantido, o índice passará de 150 mil pontos. Nas projeções mais pessimistas o índice deverá estar nos 120 mil pontos. Nesta segunda (23), o indicador já bateu uma nova máxima intradiária nos 115.288 pontos. 

Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes da B3, acredita que os 19 milhões de brasileiros com mais de R$ 5 mil na poupança devem migrar para a Bolsa. “É uma questão de tempo”, sentencia Paiva.

Publicidade
Subscreva nossa Newsletter!
Cadastre seu e-mail para receber nossa Newsletter com dicas semanais.
Invalid email address

Mais Lidas