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2019: ano em que investimentos de risco se deram bem

Quem se arriscou mais neste ano acabou conseguindo ganhos maiores: veja como estão os retornos de algumas aplicações financeiras no acumulado até esta sexta, a quatro pregões do fechamento anual, quais as únicas seis ações do Ibovespa que estão negativas no ano e relembre o que agitou os mercados nos últimos 12 meses

Bárbara Leite

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Investir em ativos de maior risco requer conhecimento; entrada na renda variável deve ser gradual–Foto: Pixabay

A quatro pregões para o fim de 2019, já dá para afirmar que quem apostou em investimentos de maior risco se deu bem neste ano.

Lógicas do mercado financeiro foram quebradas: como a máxima de que quando a Bolsa sobe, o dólar e o ouro caem, por exemplo.

Em 2019 até esta sexta-feira (20), o Ibovespa, índice de referência da B3, a Bolsa brasileira, acumula alta de 31%, caminhando para alcançar a maior rentabilidade da década, acompanhando o bom desempenho da Bolsa americana. No período, o S&P 500 avança 28,50%.

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O Ibovespa também bateu seu recorde de pontuação em 2019, ultrapassando a barreira dos 115 mil pontos e ainda há quem veja que nos próximos quatro pregões possa quebrar outra marca psicológica. Na última sexta, o índice alcançou os 115.131 pontos, nova máxima de fechamento na era do Plano Real, iniciada em 1994.

Todos os papéis do índice fecharam 2019 positivos até agora, à exceção de seis empresas: Cielo (CIEL3), que recua 5,89% no ano; Cemig (CMIG4), com baixa de 1,44%; CVC (CVCB3), com tombo de 28,79%, Embraer (EMBR3), queda de 9,79%, Smiles (SMLS3), que caiu 9,79%; e grupo Ultra (UGPA3), que diminuiu 7,48%, segundo levantamento do investidor Tito Alencar.

Mesmo com o mercado de ações indo bem, com maior calmaria geral, o ouro e o dólar acumulam com retornos positivos no ano. Apostas em cenários de turbulência, o metal precioso valoriza 21,84%, enquanto a moeda americana, que está perto de R$ 4,10, avança 6,14%.

No primeiro semestre, em meio aos receios de uma desaceleração geral, com a guerra comercial entre EUA e China, até os bancos centrais aumentaram sua compra de ouro, como forma de proteção, para garantir que poderão honrar seus compromissos financeiros, o que pode explicar o bom desempenho do ativo apesar do otimismo ter aumentado nos últimos meses.

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Já o dólar ante o real seguiu valorizado muito por conta das crises na América Latina e a falta de fluxo, que acabou não vindo devido ao corte mais forte nos juros brasileiros e à frustração com o formato dos leilões de petróleo do pré-sal, apesar da reforma da Previdência ter sido aprovada. No ano, a divisa dos EUA bateu recorde histórico, chegando a encostar nos R$ 4,26.

As criptomoedas voltaram a tomar conta do mercado, com o Bitcoin perto de se tornar a aplicação financeira mais rentável do ano entre os principais investimentos do país, somando retorno de 96,7% em 2019 até esta sexta (20).

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Também se deu bem quem apostou em renda fixa mais agressiva, como títulos públicos indexados ao IPCA (inflação oficial), como os Tesouro IPCA+ (NTB-B). Até esta sexta, o IMA-B, índice de referência da Anbima (entidade do mercado de capitais) que mede a performance do Tesouro IPCA+, avança expressivos 20,64% no ano. Só capta esse ganho quem vende os papéis antes do vencimento.

Veja o retorno dos ativos de maiores risco em 2019:

Ativos/ÍndicesRentabilidade em 2019*
Ibovespa (Bolsa brasileira)31,00%
S&P 500 (Bolsa americana)28,50%
Ouro21,84%
Dólar6,14%
Bitcoin96,70%
IMAB-5**20,64%

Fonte: B3, Investing, Valor Pro *Até dia 20 de dezembro **índice que serve de referência para fundos de renda fixa um pouco mais arriscados que aplicam no Tesouro Inflação+

Além da baixa dos juros, que estimulou as aplicações em renda variável, os títulos do Tesouro Direto se valorizam quando há redução do risco-país, o que também ocorreu em 2019.

“Apesar de todas as notícias negativas e receios de uma recessão global foi um ano muito positivo para ativos de risco a despeito de um cenário um pouco mais pesado”, disse Ronaldo Guimarães, sócio-diretor da Modalmais, durante a MoneyTalks2, evento organizado pelo banco digital.

O investidor que quer se arriscar deve saber que rentabilidades passadas não garantem retornos no futuro. Investir em ativos com maior risco requer conhecimento e a entrada para esse tipo de ativos deve ser gradual e diversificada.

Mais conservadores sofreram

Já quem ficou em investimentos mais conservadores como os atrelados ao CDI, que rende 5,83% em 2019, e os Certificado de Depósito Bancário (CDB), que somam rentabilidade de 5,76%, teve retornos menores.

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Já a nova poupança, os depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012, teve ganho em torno de 4%, sendo que com a nova Selic em 4,50%, a caderneta passou a pagar 3,15% ao ano, menos que a inflação esperada para 2019, 3,86%, e 2020 (3,60%).

Guerra comercial EUA-China

A guerra comercial entre os EUA e a China, que desacelerou as economias mundiais, gerando temores de uma recessão global, foi o grande evento do ano.

O vaivém entre acirramento e avanço das negociações para pôr fim à guerra de tarifas com tuítes do presidente americano, Donald Trump, ora animando ou derretendo o mercado, trouxe volatilidade ao mercado de ações e ao câmbio, mas o acordo parcial acertado há duas semanas veio animar os investidores em Bolsa.

Crises e protestos na América Latina e efeito no dólar

Segundo relatório do banco Fator, 2019 “foi marcado por crises políticas na América Latina, independentemente de calendários eleitorais”.

“Na Argentina, a crise já estava posta desde o fim de 2018, com o fracasso do governo Macri em atingir suas metas com política econômica dita liberal. Na Bolívia, o resultado da eleição foi contestado e o processo invalidado sob acusação de fraude por Evo Morales. No Equador, no Chile, na Colômbia e no Peru, conflitos de rua, prisões e mortes decorreram de descontentamento popular com condições de trabalho e de vida, além de acusações de corrupção”, relembra a nota.

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Para os economistas do Fator “a diferença entre o Brasil e seus vizinhos não é clara para o investidor estrangeiro, de modo que a tensão no continente também contagiou o real”.

E isso explica porque o dólar seguiu em alta apesar do bom humor do mercado de ações brasileiro. Quem puxou o Ibovespa foi o investidor local, que dobrou em número atingindo 1,6 milhão de pessoas, muitas por conta da queda dos juros, que deixou aplicações mais conservadoras menos rentáveis.

Queda dos juros, PIB, reformas, privatizações e risco-país

A queda dos juros no Brasil e nos EUA ajudam a justificar o bom desempenho dos ativos de maior risco nos dois países.

O ano foi de políticas estimulativas do crescimento econômico mundo afora. No Brasil, foram quatro cortes de meio ponto percentual, deixando a taxa básica de juros, a Selic, nos atuais 4,50% ao ano, menor nível da história, “empurrando” os investidores para ativos mais arriscados.

A baixa da Selic em ritmo maior ao corte nos juros nos EUA acabou tendo outro efeito: afastou o investidor que aplicava no Brasil em busca de juros altos, e isso puxou o dólar.

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Apesar da indicação de cautela, há quem acredite que os cortes na Selic não param em 2020.

O Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) reagiu à queda das taxas de juros e à melhora da confiança no país, com a aprovação da reforma da Previdência e agenda de novas reformas, que promete baixar mais impostos das empresas, investir em infraestrutura e equilibrar as contas públicas. No terceiro trimestre, os números vieram melhores do que o esperado, bem como os dados dos vários setores da atividade econômica em outubro, o que gerou revisões em alta para o PIB de 2019 e 2020, outro motivo que explica a performance do mercado de capitais brasileiro.

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Com isso, o risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos seguiu em baixa e está abaixo da marca dos 100 pontos, no nível de país com grau de investimento, o chamado selo de bom pagador, que costuma atrair investidores ao país. Há indicação que o Brasil pode ter “upgrade” na nota por agências de classificação de risco em 2020, mas ainda não para grau de investimento.

Também animou o mercado o início da agenda de privatizações. Segundo o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, foram realizada R$ 100,5 bilhões em privatizações em 2019, como a venda da TAG, BR Distribuidora, Liquigás, ações da Neoenergia e da IRB, além de campos de petróleo da Petrobras.

Brexit e manifestações em Hong Kong

Outros eventos externos agitaram o mercado mas não foram suficientes para desanimar o investidor local.

O Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) que não aconteceu como previsto, criando receios de que a retirada do país do bloco europeu ocorresse sem acordo, o que poderia ter impacto no setor financeiro europeu e respingar no resto do mundo. Após a vitória dos conservadores nas eleições neste mês, a expectativa é que a novela termine em 2020, mas pode trazer alguma instabilidade ainda.

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As manifestações pró-democracia em Hong Kong a partir de junho também catalizaram o noticiário e chegaram impactar no mercado financeiro brasileiro, pelo receio de que os protestos poderiam ter em um acordo comercial entre EUA e a China.

A ex-colônia britânica de 7,4 milhões de pessoas voltou ao domínio chinês em 1997, e os manifestantes, principalmente estudantes, querem eleições democráticas e fim da interferência chinesa. O Congresso americano aprovei lei apoiando os manifestantes, que foi sancionada por Trump.


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