Crescimento da economia chinesa, reforma tributária, aumento do lucro e dividendos das empresas e reavaliação dos preços das ações diante de uma taxa de juros mais baixa devem levar o Ibovespa, índice da B3, Bolsa brasileira, a atingir os 250 mil pontos em 2022, mas será o investidor local a puxar essa valorização, segundo Sara Delfim, gestora e sócia-fundadora do Dahlia Capital.
“A gente acha que o gringo não vem. Você não tem mais a exportação de juro real. A gente nunca foi o maior exportador de minério ou de soja, a gente sempre foi o maior exportador do mundo de juro real. Isso acabou. Você não tem mais esse incentivo desse dinheiro vir”, disse a sócia da administradora de recursos na 2ª edição do MoneyTalks, evento organizado pelo banco digital Modalmais, nesta segunda-feira (16).
A projeção para o Ibovespa em três anos da gestora de recursos representa um aumento de 123,42% de valorização para o índice se considerado o patamar de fechamento desta segunda (16), nos 111.896 pontos.
Para Sara, quatro motivos explicam a projeção otimista da gestora para 2022:
- Aumento de lucro e dividendo das empresas: “O crescimento do lucro das empresas deve subir entre 10% a 15% por ano e o crescimento do dividendo na casa de 5%. Aí já dá uns 50% de upside (potencial de alta)”.
- Reavaliação dos preços das ações com a Selic menor: “A gente veio de uma taxa de desconto que o mercado usa para precificar as ações muito alto. A cada 100 pontos base de corte nos juros, os valores das empresas sobem mais uns 20%”.
- Reforma tributária: “Não sabemos o que vai sair, mas se caírem os impostos para as empresas, temos mais uns 10% de upside”
- Crescimento da China: “A gente acha que a China vai ficar mais forte do que as pessoas acham. e isso para as ‘commodities’ (matérias-primas) é balístico. 30% do nosso índice é ‘commodities’. tem mais 10 a 15% de upside daria para chegar para 250 mil pontos. para final de 2020, um crescimento para a Bolsa entre 15% a 20%. apoiado no investidor local. tem chances de ir mais.
Para a gestora, o possível corte de impostos das pessoas jurídicas, que deve ser incluído na reforma tributária, é um dos fatores que deve impulsionar o mercado de ações.
“Os EUA fizeram isso, e o S&P é uma linha reta, que só sobe. Se a gente colocar isso no Brasil, as empresas vão estar gerando mais resultado para investir mais, para crescer mais ou pagar mais dividendo. A Índia fez isso no dia 20 de setembro, e nesse dia, quando anunciou esse corte de imposto para empresas, o índice da Bolsa lá subiu 10%”, explicou ela.
Também o crescimento da economia chinesa deve puxar a economia e as empresas brasileiras. Segundo ela, dois grandes eventos podem estimular a economia chinesa nos próximos três anos. Em 2021, o Partido Comunista faz 100 anos e, em 2022, acontece a cerimônia que vai reconduzir Xi Jinping de novo à Presidência. Por isso, ela acredita que, no próximo ano, a China já vai estimular a economia para ganhar popularidade antes desses eventos.
“Isso é bastante favorável para mercados emergentes como o Brasil”, disse.
Para 2020, a gestora também está mais otimista que o mercado, que prevê uma valorização do índice entre 15% a 20%. “Tem chances de ir mais alto”, afirmou.
A gestora acredita que ações atreladas ao PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país), como setor de varejo e aéreo, além de commodities, devem ter bom desempenho.
‘Ibovespa não é atrativo para gringo: 30% de bancos e não tem tecnologia’
Para Sara, o Ibovespa não é atrativo para o investidor estrangeiro. “Olhando globalmente, o Brasil é muito pequeno. Não tem tanta atratividade assim. O Ibovespa não é um índice bom. Tem 30% de bancos, que é um setor que ninguém sabe quanto mais vai viver. Os outros 30% a 40% são commodities, que podem até ir bem. O índice em si não tem tecnologia. Não sei se atrai o investidor estrangeiro”.
Segundo a gestora do Dahlia, “se tiver bons IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) ou follow-ons (ofertas de ações para quem já está listado na Bolsa), o gringo vem, mas virá pontualmente, não de forma consistente como a gente viu no passado”.