O dólar fechou com queda de 0,47% ante o real para R$ 3,993 nesta terça-feira (5), na véspera do megaleilão de petróleo do pré-sal, que pode elevar a entrada de dólares no país, e com os mercados digerindo o pacote econômico apresentado pelo governo e a ata com tom mais duro do Comitê de Política Monetária (Copom).
Pela manhã, apesar do otimismo com o acordo comercial entre EUA e China, após a notícia do “Financial Times” na véspera de que os americanos estariam dispostos a retirar as tarifas impostas aos chineses em setembro, a moeda chegou a ser negociada a R$ 4,025, com as incertezas em relação ao megaleilão de petróleo, marcado para esta quarta-feira (6).
A expectativa inicial era de que a licitação fosse gerar um bom fluxo de dólares ao país, mas aumentou o receio de que liminares possam suspender o certame, o que pode atrasar essa entrada de capital, e que duas das quatro áreas-Atacou e Sépia-possam ficar sem lances, por falta interesse de estrangeiros. Sem lances para esses dois blocos, a entrada de capital seria reduzida em R$ 36,6 bilhões.
O receio deriva, por um lado, do fato da Petrobras, que já opera os blocos que serão licitados, apenas ter exercido do direito de preferência sobre duas das quatro áreas– Búzios e Itapu–, o que poderia ser uma sinalização de que os outros blocos teriam menos interesse econômico para a estatal. Por outro, haverá mais dificuldades de definir o faturamento nesses blocos já que eles são na fronteira de outros poços.
Duas gigante petrolíferas, a francesa Total e a britânica BP, se habilitaram para o leilão, mas já comunicaram que não vão participar, anúncios que aumentaram os receios de que grandes players internacionais possam ficar de fora no que pode ser o maior leilão de petróleo do mundo.
O Morgan Stanley estima que US$ 8,5 bilhões devem ingressar até o fim do ano, por conta do megaleilão, enquanto o Credit Suisse fala em entrada de US$ 9 bilhões, que pode chegar a US$ 18 bilhões.
“Pacotão de Guedes”
À tarde, ajudou na queda do dólar o detalhamento do primeiro pacote do plano econômico pós-reforma da Previdência, elaborado pela equipe de Paulo Guedes, ministro da Economia, que foi entregue nesta terça ao Congresso.
O pacote com três propostas que alteram a Constituição, as PECs, preveem aumentar repasses de dinheiro a Estados e municípios, melhorar o controle dos gastos e deixar o orçamento público menos engessado.
São elas: PEC do Novo Pacto Federativo (chamada pelo governo de Plano Mais Brasil), que traz um novo regime fiscal e propõe uma mudança na distribuição de recursos entre União, Estados e municípios; a PEC da emergência fiscal (ou PEC dos gatilhos), que define gatilhos automáticos de contenção dos gastos públicos em caso de crise financeira na União, Estados e municípios, com o objetivo de reduzir gastos obrigatórios;e a PEC dos fundos, que revê a vinculação de receitas com 281 fundos públicos em vigor atualmente para liberar R$ 220 bilhões que hoje estão travados.
As PECs foram detalhadas e estabelecem várias mudanças, que precisarão ser aprovadas por deputados e senadores. Os principais pontos:
- Injeção de R$ 400 bilhões nas contas de Estados e municípios em 15 anos
- Criação de um conselho com integrantes dos 3 poderes para monitorar a situação das contas públicas;
- Extinção de municípios com menos de 5 mil habitantes e baixa arrecadação
- Unificação dos pisos para investimento em saúde e educação
- Fim de 281 fundos públicos com quase R$ 220 bilhões parados
- Adoção de medidas emergenciais, como corte de salário e jornada de servidores, quando União, Estados ou municípios estiverem com as contas em colapso.
Ata do Copom
Outro ponto que beneficiou o real ante o dólar foi a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), da última quarta (30), em que a taxa básica de juros da economia, a Selic, caiu de 5,50% para 5% ao ano que reforçou a cautela em relação a novos cortes no juro básico.
A queda da Selic em mínimas recordes e a possibilidade de reduções mais agressivas vinham pressionando o real nos últimos meses, por diminuírem a atratividade da moeda como ativo.
Logo após a divulgação da ata, o Itaú Asset Management, que havia chamado a atenção por ser a instituição mais otimista em relação à postura do Copom elevou suas projeções para Selic em 2019 e 2020. Agora a gestora de investimentos do Itaú prevê que a Selic caia a 4,25% em 2020, e não mais a 3,75%. Para 2019, a estimativa elevou dos anteriores 4% para 4,50% ao ano.
*Com G1