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Ata do Copom ‘afasta’ taxa Selic a 4% ou abaixo desse nível em 2020

Documento da última reunião do comitê do BC, em que o juro básico caiu de 5,50% para 5% ao ano, reforça a cautela em relação a novos cortes da taxa; veja argumentos

Bárbara Leite

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Próxima reunião do Copom do BC ocorre em 11 de dezembro, a última de 2019–Foto: Agência Brasil

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em que a taxa básica de juros da economia, a Selic, caiu de 5,50% para 5% ao ano, reforça a cautela em relação a novos cortes no juro básico, deixando mais longe as projeções anteriores do mercado de que a taxa pudesse cair a 4% ou abaixo desse nível no ano que vem.

Uma Selic em 4% ou em patamar inferior deixaria o retorno de investimentos em renda fixa negativo.

A ata, divulgada nesta terça-feira (5), volta a sinalizar que o Copom vai promover um novo corte de 0,50 ponto percentual na Selic no dia 11 de dezembro, última reunião do ano, deixando a taxa a 4,50%. A partir daí, a cautela vai nortear as decisões da autoridade.

“Nosso entendimento é que o Banco Central será bastante cauteloso com a condução de política monetária, passando a depender de evidências muito claras do lado da inflação, da retomada da atividade e do avanço das reformas para romper a barreira dos 4,5%. Acreditamos que o BC consiga levar a Selic até 4,25% em fevereiro, patamar que deve ser mantido até o final de 2020, de acordo com os economistas da XP Investimentos.

Para os economistas do Renascença DTVM, o documento trouxe “viés levemente mais hawkish (alta das taxas)”, “ao trazer uma linguagem mais otimista a respeito da atividade econômica e ao declarar que os membros do Comitê decidiram ‘reforçar’ a recomendação de cautela em eventuais novos ajustes do grau de estímulo a partir da primeira reunião de 2020”.

Em vários trechos da ata, o comitê dá indícios de que vai pausar os cortes depois de dezembro ou fazer, no máximo, um ligeiro ajuste (não mais de 0,50 percentual) na Selic em 2020. O documento que acompanhou a decisão do Copom na quarta-feira passada (30) já sinalizava essa cautela, mas a maior parte dos economistas ainda esperavam um ou dois ajustes de 25 pontos em fevereiro e março.

Veja abaixo os argumentos que reforçam a cautela e devem deixar a Selic acima de 4% em 2020:

1. PIB deve acelerar

O Copom diz, no parágrafo 11 (veja abaixo conteúdo na íntegra), que a economia deve ter crescido no terceiro trimestre e deve acelerar a alta nos trimestres seguintes. Embora aponte que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) será gradual, diz que a economia vai crescer mais rápido, sinalizando que não precisará de novos cortes nos juros para o crédito ficar mais barato, e assim estimular consumo e investimento.

Parágrafo 11: “Comitê estima que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter apresentado crescimento no terceiro trimestre. Os trimestres seguintes devem apresentar alguma aceleração, que deve ser reforçada pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos do FGTS e PIS-PASEP – com impacto mais concentrado no último trimestre de 2019. O cenário básico do Copom supõe que o ritmo de crescimento subjacente da economia, que exclui os efeitos de estímulos temporários, será gradual”.

2. Ciclo de ajustes sem comparativo histórico

Outro ponto que aponta cautela é o fato do comitê ressaltar, no parágrafo 15, que falta evidência histórica para o atual ciclo de corte de juros, segundo avalia a XP.

“O comitê destaca que as características do atual ciclo econômico, marcado pela menor participação do Estado, maior participação de recursos livres e do mercado de capitais no mercado de crédito, podem afetar a sensibilidade de variáveis macroeconômicas de uma forma ainda não totalmente conhecida, uma vez que faltam comparativos históricos para o atual grau de ajuste”, dizem os analistas, em nota.

3. Risco à inflação

Na ata, o comitê diz que a inflação seguirá controlada, mas vê alguns riscos para os preços administrados. Também diz que “o cenário com taxa Selic extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante produz inflação abaixo da meta para 2020” e apenas “ligeiramente” abaixo da meta para 2021. Se houver riscos à inflação, o Copom não corta juros, já que autoridade tem como missão deixar a inflação sob controle e dentro das metas.

“Nos parágrafos 17 e 18, o comitê destaca que a inflação se comportará de forma benigna, mas destaca algum risco para os preços administrados, que compensaram algumas surpresas desinflacionárias. Além disso, no parágrafo 18 o comitê ressalta que suas projeções de inflação para 2021 (horizonte relevante para a política monetária) estão “ligeiramente” abaixo da meta, revelando alguma preocupação”, afirma a XP Investimentos.

4. Necessidade de avanço das reformas

O comitê também destaca que serão precisas as reformas econômicas para a consolidação da queda do juro básico e que o atual ciclo econômico exige cautela. Isto quer dizer que possíveis cortes estarão dependentes do avanço das medidas.

Segundo a XP, “nos parágrafos 20 e 26, o comitê volta a destacar a necessidade do avanço das reformas para a consolidação da queda da taxa de juros, enquanto os parágrafos 22 e 27 voltam a ressaltar que o atual ciclo econômico exige cautela na condução da política monetária”.

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