O dólar comercial dispara nesta quinta-feira (30) e já bateu a marca dos R$ 4,27, com receios sobre o impacto do coronavírus no crescimento da economia mundial e com o mercado “testando” a tolerância do Banco Central (BC).
O mau humor é geral. No exterior, o dólar, considerado um refúgio para os investidores em caso de turbulência, também bate as divisas dos emergentes.
Pelas 13h06, a moeda americana era negociada em R$ 4,268, com alta de 1,16%; mais cedo, a divisa foi a R$ 4,271. Na véspera, a moeda fechou com valorização de 0,59% a R$ 4,219, maior valor de fechamento desde 29 de novembro.
O noticiário desta quinta aumentou o temor dos efeitos no crescimento econômico. A Índia se tornou o mais recente a relatar um caso, assim como as Filipinas, enquanto que a Rússia informou que vai fechar a fronteira com a China para evitar a propagação do vírus.
A preocupação e medo provocaram protestos na Coreia do Sul e ameaças de greves em Hong Kong.
“A mais nova grande repercussão dos mercados em relação ao novo vírus se dá em função da análise de diversos dados oficiais de turismo que apontam para uma queda brusca no período em que o setor tem o maior movimento do ano na China: o ano novo lunar chinês”, diz a Guide Investimentos, em relatório matinal.
Empresas interrompem suas operações na China por conta do coronavírus. O McDonald’s e a Disney foram os primeiros a tomar medidas na semana passada. Google e a sueca Ikea também pararam os negócios em território chinês
A Starbucks fechou metade de suas 4,2 mil cafeterias na China. Várias grandes empresas também começaram a restringir viagens de seus funcionários à China. Gigantes da tecnologia como Facebook e Microsoft recentemente pediram que seus colaboradores cancelassem qualquer viagem ao país que não fosse essencial.
De acordo com o último balanço, os mortos com coronavírus subiram de 132 a 170 e o número de infectados passa de 7,7 mil.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode declarar nesta quinta estado de emergência global, medida tomada quando um evento com implicações para a saúde pública ocorre de maneira inesperada, superando as fronteiras do país de origem e demandando uma ação internacional imediata.
A medida foi adotada anteriormente em apenas 5 ocasiões: em 2009, durante a epidemia da gripe H1N1, em 2014, durante a propagação do vírus causador da poliomielite, outra vez em 2014, para conter um surto de ebola no oeste da África, em 2016 com o zika vírus aqui no Brasil e por fim, no ano passado, mais uma vez frear o quadro severo de mortes causadas pelo Ebola, no Congo.
No pior das hipóteses, é estimado que o impacto deste risco de epidemia global, custe aos chineses, cerca de 1% do crescimento de seu Produto Interno Bruto em 2020, o que levaria a China, principal parceiro do Brasil, a crescer algo em torno dos 5% este ano.
Na véspera, o presidente do Fed (banco central dos EUA), Jerome Powell, disse que está monitorando os impactos do surto e admitiu que ele pode impactar a economia chinesa e “provavelmente” a mundial.
Mercado ‘testa paciência’ do BC
Além dos temores com a proliferação do surto, o mercado também está testando a tolerância do BC. O dólar está na faixa em que o BC interveio para conter a depreciação, usando reservas em leilões à vista pela primeira vez em uma década.
No último dia 28 de novembro, o BC fez um leilão de US$ 1 bilhão no mercado à vista após a moeda americana ultrapassar a marca de R$ 4,26 durante o pregão.
Neste mês, a autoridade monetária não agiu no mercado de câmbio.