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Com coronavírus, ‘Kit China’ leva Ibovespa a perder ‘duas Eletrobras’; dólar vai a R$ 4,21

Medo de contágio do surto chinês, que já matou 82, infectou quase 3 mil e pôs outros 30.450 em observação, e seu impacto no crescimento da economia global, além de receios de que os números oficiais de vítimas sejam maiores do que os divulgados, derrubaram a Bolsa brasileira e levaram o índice da B3 a cair 3,29%, o maior tombo em 10 meses; a moeda americana se afastou das máximas do dia, mas subiu 0,58%

Bárbara Leite

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'Touro de Ouro' se protege do coronavírus: Ibovespa seguiu 'contaminada' pelos receios de contágio do surto e seus reflexos no PIB mundial–Foto: Pablo Syper/Mirae Asset

Os receios do impacto do coronavírus no crescimento da economia chinesa, do mundo e na retomada do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) do Brasil e de que o número de casos seja maior do que o divulgado levaram o Ibovespa, índice de referência da B3 (Bolsa de Valores brasileira), a fechar com queda de 3,29%, nesta segunda-feira (27), e a perder R$ 120 bilhões, o equivalente ao valor de mercado de “duas Eletrobras”.

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Trata-se da maior queda do índice em 10 meses, desde 27 de março de 2019. A pontuação de fechamento, 114.481 pontos, é a mais baixa desde 18 de dezembro. O giro financeiro da sessão somou R$ 23,9 bilhões. Dos 73 papéis que compõem o Ibovespa, apenas cinco fecharam no azul.

Em Wall Street, o mesmo cenário de pessimismo. O Dow Jones recuou 1,57%, enquanto o Nasdaq tombou 2,07%. Antes Europa e Ásia, também fecharam no vermelho. Tóquio recuou 2,03%. As Bolsas chinesas e de Hong Kong seguem encerradas por conta do feriado local até sexta-feira (31). Foi confirmado que a negociação por lá volta na próxima segunda (3).

‘Kit China’ derruba índice acionário

As maiores produtoras de “commodities” do Brasil–Vale (VALE3), Petrobras (PETR3, PETR4), Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA4) e Suzano (SUZB3)–, dependentes da demanda chinesa e dos preços das matérias-primas, estiveram entre as mais penalizadas no Ibovespa nesta segunda.

O receio da queda da demanda chinesa e do mundo fez os preços das “commodities” despencarem. O petróleo tipo Brent, referência mundial e da Petrobras, encerrou com queda de de 2,25%, a US$ 59,32 por barril, enquanto que petróleo WTI, negociado nos EUA,recuou 1,93%, a US$ 53,14 o barril.

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Sobre o minério de ferro, a Bolsa de referência para a negociação desta commodity (Dalian) está fechada por conta do feriado chinês do Ano Novo Lunar. Em Singapura, porém, os contratos do minério recuaram 6%.

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A Vale e a Petrobras perderam cada uma mais de R$ 16,8 bilhões em valor de mercado. A mineradora fechou com a queda de 6,12%, enquanto as ações da petrolífera perderam 4,33% (PETR4) e 4,21% (PETR3), respectivamente. Também afetou a Vale a decisão da mineradora de elevar o nível de alerta da Barragem Sul Inferior, em Minas Gerais, citando fortes chuvas na região. 

Desde o início das notificações de coronavírus, em 3 de janeiro deste ano, a Vale acumula uma perda de R$ 18 bilhões. A Petrobras, R$ 29,8 bilhões.

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Os papéis da siderúrgica CSN tombaram 7,78% e da empresa de celulose e papel, Suzano, 6,7%.

Também os frigoríficos JBS (-6,83%), Marfrig (-7,27%), BRF (-6,06%) e Minerva (-8,17%), que vendem para o mercado chinês, terminaram bem negativos.

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Companhias aéreas também tombaram, com receio de que o medo do contágio reduza viagens. As ações da Gol recuaram 6,66%; a Azul, 3,33%.

 “Existe mais receio quanto à disseminação do coronavírus. Agora, o mercado começa a questionar de que forma a doença pode impactar a capacidade de crescimento da China e do mundo”,avalia Rafaerl Antunes, sócio da Inove Investimentos.

O analista destaca que grande parte desse temor surge por conta das futuras medidas que Pequim pode adotar para conter o vírus. Por ora, já suspendeu as comemorações de Ano Novo, estendeu o feriado por três dias até domingo (2) e fechou cidades onde o vírus tem foco de transmissão.

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“O receio sobre eventuais fechamentos de portos e aeroportos, o que consequentemente atrapalharia a dinâmica da economia como um todo, é o que preocupa o mercado”, disse.

Dólar fecha longe das máximas, mas volta a R$ 4,21

O dólar, que chegou a disparar a R$ 4,23, fechou longe das máximas do dia e subiu 0,58% para R$ 4,21.

“O coronavírus está gerando muita especulação. Os nossos fundamentos estão num estágio muito melhor não só de estágio atual como de prognóstico do que seis meses atrás. O cenário externo está acabando com a gente”, disse Fernando Bergallo, diretor da FB Capital.

A moeda americana é considerada um ativo de refúgio em momentos de instabilidade.

Além do temor de que a escalada do coronavírus possa reduzir as exportações brasileiras para a China, principal parceiro comercial do Brasil, o dólar subiu também com o aumento da chance de corte na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) da quarta-feira que vem, 5 de fevereiro. A probabilidade de um corte de 0,25 ponto na taxa, de 4,50% para 4,25% ao ano, subiu a 80%.

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O mercado passou a ver maior expectativa do juro básico cair uma vez que o coronavírus vai afetar a economia chinesa, e por consequência, as economias dependentes de “commodities”, como a brasileira. A inflação estável já sustentava as apostas de que o Copom continuaria o ciclo de baixa de juros, apesar da sinalização de pausa no último encontro de 2019. Agora a possibilidade da retomada da economia ser afetada pela desaceleração chinesa abre mais espaço para o corte dos juros.

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O BC corta a Selic para baratear o crédito, e assim, estimular o consumo e os investimentos no país, e dessa forma, puxar o crescimento do PIB, cuja previsão está em alta de 2,5% em 2020. Em 2019, o país deve ter crescido perto de 1%.

O Boletim Focus, com as projeções de cerca de cem analistas do mercado financeiro, divulgado nesta segunda (27), já trouxe que a maioria do mercado acredita que a Selic termine 2020 em 4,25% ao ano. Ou seja, que para os analistas haverá um corte na taxa até ao fim do ano. Nas semanas anteriores, a previsão estava em 4,50% ao ano, o que significava que eles não acreditam que houvesse mexidas na taxa neste ano.

O aumento da chance da Selic cair a 4,25% ao ano puxa o dólar ante o real nesta segunda (27), uma vez que um corte nos juros aqui sem que o Fed (banco central dos EUA acompanhe a trajetória, aumenta ainda mais o diferencial de juros aqui e nos EUA, reduzindo o apetite pelo chamado “carry trade”. Os investidores preferem deixar seu capital investido em títulos americanos ou em outros emergentes, que paguem um retorno maior, vez de investirem no Brasil.

Com expectativa de menos dólares entrando, o mercado “corre” para comprar a moeda americana, puxando a sua cotação.

Risco-país bate 100 pontos

 O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, o indicador do risco-país, do Brasil negociava abaixo de 100 pontos na semana passada, voltou aos 105,85 pontos nesta segunda, mas chegou aos 108 pontos pela manhã. É o maior patamar em um mês.

Agenda a partir de 4ª pode trazer mais volatilidade ao câmbio

A volatilidade tende a ser maior a partir desta quarta-feira (29), quando o Fed vai decidir sobre o rumo dos juros por lá, lembrou José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos. Ele recomendou os exportadores esperarem antes de venderem seus dólares.

A expectativa é que a taxa nos EUA permaneça no intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano, mas a fala de Jerome Powell, presidente da autoridade, pode mexer com o humor do mercado.

No dia seguinte, sai o IGP-M, a chamada inflação do aluguel, de janeiro, o primeiro grande índice de preços que será divulgado antes do Copom. O mercado vai monitorar se os preços seguem estáveis.

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Também será divulgado o PIB americano de 2019 e a taxa de desemprego no Brasil no último trimestre do ano passado.

Mortes sobem de 26 para 82; quase 31 mil em observação; feriado é ampliado, viagens suspensas e OMS admite ‘erro’

O coronavírus de Wuhan, cidade chinesa onde foi detectado o primeiro caso em 7 de janeiro, se espalha rapidamente e já atinge 15 países de 4 continentes, além da China. O último balanço desta segunda (27), divulgado pela CCTV, é que o número de mortos subiu para 82; na sexta (24), após o fechamento do mercado, eram 26; neste domingo (26), 56. O número de pessoas infectadas subiu a 2.900. O total de pessoas em observação atinge expressivos 30.450.

Neste sábado (25), o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou que a situação é grave. A confirmação de que o novo vírus é contagioso mesmo antes de aparecerem os sintomas trouxe uma preocupação adicional.

Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou nesta segunda (27) que cometeu um erro e passou a classificar como “elevado” o risco internacional de contágio do novo coronavírus.

Nos EUA, os casos eram cinco neste domingo (26), com suspeita de outras 110 pessoas infetadas.

Nesta segunda, a China suspendeu viagens internacionais e de ônibus para tentar conter o vírus durante o feriado de Ano-Novo Lunar, que foi estendido por mais três dias até domingo (2). Os chineses já voltariam ao trabalho nesta sexta (31), o que deve afetar comércio, indústria e serviços, com risco de impactar a economia mundial.

Com o mesmo intuito, gigantes corporativas chinesas, incluindo o Alibaba Group Holding e a Tencent Holdings, disseram ter pedido a suas equipes que trabalhem de casa por uma semana após o término do feriado do Ano Novo Lunar, previsto para esta quinta (30).

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Em Hong Hong, que decretou emergência, o feriado para as escolas vai durar até 17 de fevereiro.

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) previa uma queda de 1,2 ponto percentual no PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país) chinês com baixa de 10% no consumo de transporte e entretenimento no feriado, mas as viagens, só no 1º dia, caíram 30%.

*Com O Globo e Valor

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