Mercado está apreensivo por discurso de Bolsonaro na ONU
Presidente vai abrir a 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas em meio à indignação global com o tratamento do governo ao desmatamento da Amazônia; Brics, Mercosul-UE e parceria com EUA devem ser outros temas que serão abordados pelo líder brasileiro nesta terça (24)
O mercado está apreensivo com o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24), em Nova York (EUA).
Normalmente, os discursos dos presidentes brasileiros, que por tradição abrem a assembleia-geral da ONU, não costumam ser aguardados com tanto interesse quanto agora. Mas, com as queimadas na Amazônia, o governo Bolsonaro virou um dos grandes assuntos internacionais das últimas semanas. O tratamento do governo com o desmatamento causou indignação. As principais lideranças do mundo, como Emmanuel Macron, presidente francês, fizeram declarações sobre o tema, e a imprensa estrangeira cobriu de forma intensa os desdobramentos do caso.
O governo acredita que as críticas internacionais são injustas, mas suas ações mostram que está preocupado com as possíveis consequências econômicas do episódio.
Fundos de 30 países que movimentam US$ 16 trilhões em ativos exigem ações contra o desmatamento, ao mesmo tempo em que congressistas europeus fazem fila para atacar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. O Parlamento da Áustria rejeitou o acordo nesta semana.
Em resposta, o governo Bolsonaro lançou uma campanha afirmando a soberania do Brasil sobre a Amazônia e o compromisso de proteger e desenvolver de forma sustentável a floresta. Agora, o presidente vai levar esta mensagem para a ONU.
“Estou me preparando para um discurso bastante objetivo, diferente de outros presidentes que me antecederam”, disse Bolsonaro, na live feita pelo Facebook, na última quinta-feira (19). “Ninguém vai brigar com ninguém lá, pode ficar tranquilo. Vou apanhar da mídia, que sempre tem do que reclamar, e vou falar como anda o Brasil nesta questão. Eles querem desgastar a imagem do Brasil para ver se criam um caos aqui. Quem se dá bem? O pessoal lá de fora. Se a nossa agricultura cair, outros países que vivem disso vão se dar bem”, afirmou.
De acordo com porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, o principal objetivo da presença do Brasil na assembleia-geral da ONU será mudar no cenário internacional a imagem de que o país não cuida do meio ambiente.
“O Brasil expressava uma imagem de grande sociabilidade. Apesar da violência, a diplomacia, a música, a tolerância religiosa, eram aspectos importantes da imagem brasileira. As falas de intolerância modificam essa percepção. Não apenas o Brasil mostrou que o meio ambiente não é prioridade, como também a ciência”, disse à Bloomberg Andreza dos Santos Souza, diretora do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford.
Impacto negativo
A indignação com os incêndios na Amazônia tem potencial para prejudicar o Brasil. Antes do G-7, Macron ameaçou anular o acordo comercial UE-Mercosul em função do que descreveu como “mentiras” de Bolsonaro sobre seu compromisso com as mudanças climáticas.
A empresa VF Corporation, dona da Timberland, Kipling Bags e The North Face, e a H&M, segunda maior varejista de moda do mundo, suspenderam as compras de couro brasileiro, e os dois maiores investidores da Noruega alertaram as empresas globais sobre a contribuição para danos ambientais. As embaixadas brasileiras também foram alvo de protestos.
A Nestlé informou que estava reavaliando a sua compra de cacau ao país devido à questão amazônica.
A Fitch Solutions Macro Research emitiu dois relatórios alertando para “maior escrutínio” e “riscos econômicos” após os incêndios. “Acreditamos que a preocupação internacional com o desmatamento na bacia amazônica brasileira criará ventos contrários à exportação e entradas de investimentos”, escreveu a Fitch.
Ditaduras de esquerda, acordo entre Mercosul e UE e relações com EUA
De acordo com o jornal “O Globo”, Bolsonaro também aproveitará o discurso na ONU para atacar as ditaduras de esquerda de Venezuela e Cuba. Muito provavelmente, mudará o tom brando que seu antecessor, Michel Temer, adotou em relação à ditadura do venezuelano Nicolás Maduro nas duas últimas assembleias-gerais.
Bolsonaro não deve deixar de citar os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o Mercosul. E possivelmente também fará um aceno à União Europeia, que precisa ratificar o acordo comercial fechado em junho com o bloco sul-americano.
O estreitamento das relações comerciais com os EUA também deve ser outro dos temas que serão abordados por Bolsonaro na ONU.