Após uma semana conturbada em que suas declarações em Washington (EUA) caíram mal para o mercado financeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu uma entrevista ao jornal “O Globo”, publicada neste domingo (1º) em que fala sobre a polêmica do AI-5, ato que marcou o início da ditadura militar no país, as reformas econômicas, a agenda de privatizações e a limitação de juros a 8% ao mês no cheque especial, entre outros temas.
Confira abaixo os principais trechos da conversa com a publicação:
Reformas
“O presidente apoiou o programa até hoje. Apoiou a reforma da Previdência, o pacto federativo, mas diz que é uma questão de timing político. É falso dizer que o presidente não apoia a reforma administrativa, por exemplo”
“A mídia também tem apoiado 100% a agenda econômica. Então estou superfeliz.”
“Hoje, Senado e a Câmara dos Deputados estão abraçando as reformas”.
“O presidente me assegurou que apoia a reforma administrativa . O problema é timing . Você não quer dar um pretexto pro sujeito fazer quebra-quebra na rua”.
“Agora, tem também o processamento político das reformas. Nós estávamos em um caminho. E aí, de repente, começa a confusão na América Latina . Bagunça, desordem, aí o timing politico começa a mudar”.
“De forma alguma (haverá paralisação da agenda de reformas”. O pacto federativo tem três relatores trabalhando à máxima capacidade. Fora isso, a Câmara tem uma agenda fortíssima. O (presidente da Câmara) Rodrigo Maia está mandando o projeto de lei do saneamento (…). É uma das reformas mais importantes para o país”
“Devemos apresentar ainda este ano, dentro de uma ou duas semanas, a primeira fase da tributária, que é a do IVA Dual (tipo de imposto sobre valor agregado)”.
“A mais conveniente pra este ano, para chegar a pelo menos o primeiro turno na Câmara, era a administrativa , não há dúvida. Infelizmente ela deu uma descansada. Daí o meu lamento”.
AI-5
“Eu falo: olha, eu defendo a democracia, temos que evitar a desordem. Aí distorcem uma defesa da democracia em ataque à democracia”.
“Eu falo: temos um trabalho enorme pela frente, não vamos nos deixar desviar, temos os extremos. Eu falei de fatos, não inventei nada. Tinha um ex-presidente falando “vamos pra rua quebrar tudo”, e aí tem uma outra pessoa falando que vai ter resposta. Aí eu estou justamente falando que temos todos de ser responsáveis. E o que eu observei? Um tratamento irresponsável”.
O (deputado) Eduardo (Bolsonaro) não falou isso do nada. Quebraram tudo no Chile. Aí o Lula sai da cadeia e fala: vamos fazer igual no Chile. Eu estava advertindo contra isso, em defesa da democracia”.
Privatizações
“Sim (a agenda de privatizações está sendo mais difícil do que imaginava)”.
“Teve um movimento muito importante este ano que foi o STF definir uma regra clara. Você pode vender todas as subsidiárias das estatais agora, mas, se quiser vender uma empresa-mãe, tem de levar para o Legislativo”
“O objetivo de privatização é difícil? Sim. Mais difícil do que eu esperava? Sim. De onde está vindo a dificuldade? No primeiro ano cumprimos a meta (Foram R$ 100 bilhões; a meta era de R$ 80 bilhões)”.
“E privatização? Vou vender tudo. Essa é a meta. Tem uma particularmente que pode ser de R$ 250 bilhões”
Déficit fiscal zerado
“Deu tudo errado. Mas é o melhor déficit em seis anos”
“O previsto era R$ 139 bilhões e vai ser R$ 80 bilhões”
“Todo ano eu vou tentar (zerar o déficit das contas públicas). Vai ser possível? Não sei. Mas vou tentar”
Cheque especial
“O (presidente do BC, Roberto) Campos Neto estudou cinco meses o problema do descalabro dos juros do cheque especial. É um negócio completamente absurdo. Os juros estavam em torno de 400% ao ano. Quem recorre ao cheque especial é quem não tem dinheiro. A classe média também usa muito, mas o pobre recém-bancarizado é o usuário intensivo”
“Eu sempre adverti o seguinte: não gostamos de tabelamento de juros, embora haja uma razão teórica. Qualquer liberal pode, sim, intervir num mercado em que haja alta concentração de poder econômico. Você tem fundamento teórico para intervir. Quando a economia é competitiva, você não precisa se preocupar com exploração do uso”.
“Eu falei para o Campos: esse tabelamento até um liberal tem razões teóricas para fazer, mas acho isso esculhambação. Aí ele disse: não, mas vamos derrubar de 400% pra 200%. Eu falei: pô, aí vai me arrumar problema político. Vão nos criticar que somos liberais e estamos tabelando preço. Assim a gente não precisa de oposição. Então minha reação inicial há cinco meses foi: Campos, cuidado onde você está indo… Ele então argumentou que não era tabelamento e sim a redefinição do produto: “Eu sei onde nós bancos estamos fazendo a maldade. Eu vou desmontar a maldade”.
Balanço do primeiro ano de governo
“O senso que eu tenho é de missão. Está dando para fazer mais do que eu fazia no setor privado”
“É menos do que eu gostaria de fazer, mas é mais do que eu já fiz antes”
“Por exemplo, tentei fazer uma Previdência com capitalização. Não consegui”.
“Estou aprendendo e muita gente está me ajudando, muita gente séria, no TCU (Tribunal de Contas da União), no Supremo, na Câmara, no Senado, e na equipe econômica. Gente de extraordinária qualidade, que já estava, diamantes brutos”.