Apesar da forte turbulência do mercado financeiro, com recuos e avanços da guerra comercial, crise na Argentina, impeachment do presidente dos EUA, Donald Trump, adiamento da aprovação da reforma da Previdência, ruídos políticos e atraso na reforma tributária, o investimento campeão em setembro foi a Bolsa.
O Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, fechou o mês em alta de 3,57% e liderou o ranking das principais aplicações financeiras do país. Foi o terceiro melhor mês do ano para o mercado de ações nacional, só perdendo para junho (+4%) e janeiro (+10,8%).
O indicador do mercado acionário se beneficiou com o corte dos juros básicos no Brasil e nos EUA pelo Fed (Banco Central americano), que deixa menos atrativos outros investimentos mais conservadores e eleva o apetite por aplicações em mercados emergentes.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou a Selic de 6% para 5,50% ao ano no dia 18, mesmo dia em que o Fed, reduziu a taxa em 0,25 ponto percentual, e ainda sinalizou mais reduções adiante. Os economistas já esperam que o juro básico brasileiro feche 2019 abaixo de 5% (entre 4,50% e 4,75%), novo nível mais baixo da história, que deve continuar animando o mercado de ações.
O anúncio da liberação de mais 25 frigoríficos para exportar carne para a China também foi bem-vindo. A crise do petróleo, com disparada da cotação da commodity no mercado internacional, depois do ataque à maior refinaria do mundo na Arábia Saudita que suspendeu a produção de 6% do petróleo do mundo, acabou beneficiando uma das empresas mais importantes do Ibovespa, a Petrobras.
A Europa também ajudou a Bolsa: o parlamento britânico aprovou uma lei que pode impedir a saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, sem acordo, e o BCE (Banco Central Europeu) anunciou medidas de estímulos à economia para evitar que a Zona do Euro entre em recessão.
Guerra comercial: fim à vista?
A guerra comercial, que começou o mês com a entrada de novas tarifas às exportações de EUA e China, acabou com expectativas de um acordo entre os dois países, ainda que de alcance reduzido, depois de muitas acusações e contra-respostas das duas partes.
Durante o mês, os dois países cederam e retiraram taxas sobre produtos dos rivais para mostrar boa vontade para chegar a um entendimento.
O temor de uma desaceleração global devido à guerra comercial tem sido um dos fatores que mais têm pesado sobre as Bolsas no mundo inteiro.
Ouro e Bitcoin: lanterna
Um sinal de que o medo da recessão recuou é que o ouro foi o vice-lanterna do ranking dos investimentos em setembro, com queda de 3,86%.
O metal, que costuma ser refúgio em épocas de incerteza, só perdeu para a moeda virtual Bitcoin, que terminou o mês com queda de 13,94%.
Títulos públicos lideram na renda fixa
Apesar da queda da Selic ter reduzido a rentabilidade dos investimentos em renda fixa, os títulos do Tesouro Direto, atrelados à inflação (Tesouro IPCA+), e os prefixados (Tesouro Prefixado), brilharam no mês. O IMA-B, índice de referência da Anbima (entidade do mercado de capitais) que mede a performance do Tesouro IPCA+, subiu 2,86% no mês, e virou o vice-líder do ranking mensal das melhores aplicações financeiras, segundo dados da Economatica da última quinta (26).
Logo atrás ficou o IRF-M, índice da Anbima que acompanha os títulos do Tesouro Prefixado, que terminou com rendimento de 1,38% em setembro.
Estas são as rentabilidades nominais. Os índices não levam em conta o desconto do Imposto de Renda (IR), que incide sobre títulos do Tesouro Direto e também sobre fundos. Com o pagamento do imposto, o ganho real dos investidores é menor.
Fundos de renda fixa perdem até para a nova poupança
Fora os títulos públicos ajustados pela inflação e os prefixados, o restante da renda fixa rendeu muito pouco no mês. O destaque negativo foram os fundos de renda fixa simples, que deram 0,32%, em média, em setembro, até menos que o ganho da nova poupança (depósitos feitos após 4 de maio de 2012), que caiu para 0,34%, contra 0,37% no mês anterior.
Com a queda na Selic, a caderneta agora paga menos de 3% ao ano, percentagem que reajustava as contas do FGTS antes no novo cálculo, que dobrou a rentabilidade do fundo.
A poupança antiga continua pagando 0,50% ao mês, batendo assim o retorno dos CDB (Certificado de Depósito Bancário), que ficou em 0,41%, na média, no último mês, e do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que somou 0,46% em setembro.
Dólar: entre os piores investimentos
Já o dólar “teimou” em não recuar em setembro, apesar do bom desempenho da Bolsa, e fechou com alta de 0,31%, ainda abaixo do avanço de 1,60% em agosto.
A moeda americana tem sofrido com os atrasos na aprovação da reforma da Previdência, que afasta investidores estrangeiros, e com a migração de capital, que viria ao país com os juros mais baixos nos EUA, para países, como México e Turquia, que pagam juros maiores.
A fuga se deve à expectativa de queda nos juros no Brasil mais intensa que nos EUA. A aprovação da reforma pode fazer a divisa cair abaixo de R$ 4, mas a falta do aval do Senado pode puxar a moeda a R$ 4,50.
Confira o ranking dos melhores e piores investimentos em setembro
Investimento | Rentabilidade no mês |
Ibovespa | 3,57% |
IMA-B* | 2,86% |
IRF-M* | 1,38% |
Poupança antiga* | 0,50% |
CDI | 0,46% |
CDB | 0,41% |
Poupança nova | 0,34% |
Fundos de renda fixa simples* | 0,31% |
IGP-M | -0,01% |
Ouro | -3,86% |
Bitcoin | -13,94% |
Fonte: Anbima, B3, Valor Pro, FGV, Tesouro Direto, Coinbase; *até ao dia 27 **depósitos feitos até dia 4 de maio de 2012