O dólar teve um alívio nesta quinta-feira (28), mesmo após o aumento da tensão ente EUA e China e menor liquidez por conta do feriado de Dia de Ação de Graças, nos EUA, com a atuação do Banco Central (BC) pela manhã e a divulgação, à tarde, da revisão dos dados da balança comercial de novembro, que passaram a mostrar superávit, e não déficit como informado na segunda-feira (25).
A moeda americana fechou nos R$ 4,216, uma queda de 1%, interrompendo um ciclo de três recordes seguidos na semana.
De acordo com Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, a queda do dólar pode ser atribuída a dois motivos. Por um lado, diz, “o mercado está com a impressão de que existe uma resistência sintética nos R$ 4,27”, e por outro, “a notícia da revisão dos dados da balança comercial também derrubou o dólar nesta quinta”.
A sequência da disparada do dólar começou na segunda (25), após o Ministério da Economia divulgar os números das contas externas, e continuou nos dias seguintes com as declarações do ministro Paulo Guedes avisando que o mercado deveria se acostumar a juros baixos e a dólar alto por “um bom tempo”. Naquele dia, em que a divisa dos EUA encerrou em nova máxima histórica na era do Real, nos R$ 4,215, preocupou o mercado os dados das exportações, que foram revisados nesta quinta pelo órgão.
Afinal, segundo o Ministério da Economia, o país exportou o equivalente a US$ 13,5 bilhões nas primeiras quatro semanas do mês de novembro, ante US$ 9,7 bilhões reportados antes. Com isso, a balança comercial deixou de mostrar um rombo de US$ 1,099 bilhão no acumulado de novembro, mas um saldo positivo de US$ 2,7 bilhões.
Os números antes de revisados elevaram as preocupações do mercado sobre o cenário para fluxos, depois da frustração com os leilões de petróleo do pré-sal. A revisão dos dados a partir da revisão da balança comercial ajudava a acalmar os ânimos sobre eventual escassez de dólar.
Nesta quinta, o real liderou os ganhos entre 33 rivais moedas ante o dólar nesta sessão, depois de dias entre os piores desempenhos.
BC despeja US$ 1 bilhão e avisa o mercado
O dólar já iniciou em queda depois que o BC avisou, na véspera, que iria realizar um leilão de venda de dólares à vista no valor de US$ 1 bilhão, para dar liquidez aos agentes, e assim, pressionar menos a moeda, já que o feriado de Dia de Ação de Graças nos EUA, deixou as Bolsas fechadas por lá, tirando capital do mercado brasileiro.
Pela primeira vez, desde que começou a fazer leilões de venda de dólares à vista, quando usa parte das reservas, sem compromisso de recompra, a autoridade anunciou a operação e o montante envolvido. A maior previsibilidade agradou ao mercado.
Tratou-se da quarta intervenção desde que Guedes, afirmou, na segunda-feira (25) à noite que estava confortável com o dólar alto. Foram dois leilões não programados na terça e um ontem.
As atuações do BC, porém, não haviam sido suficientes para impedir que o dólar batesse recorde; haviam sido três na semana: segunda-feira (R$ 4,215), terça (R$ 4,24) e quarta (R$ 4,259).
Acordo comercial ‘azeda’
A queda da moeda americana ante o real se deu apesar da primeira fase do esperado acordo comercial entre EUA e China para pôr fim a uma parte da guerra de tarifas entre as duas potências poder estar comprometida depois que o presidente americano, Donald Trump, assinou o projeto de lei que apoia os manifestantes pró-democracia em Hong Kong, e a China já avisou que vai retaliar.
De acordo com a agência Reuters, o texto determina que o Departamento de Estado americano se certifique anualmente de que Hong Kong mantém autonomia suficiente que justifique o comércio com os EUA.
Mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores em Pequim emitiu uma nota informando que a decisão de Trump “é pura interferência nos assuntos internos da China. A lei trata Hong Kong com intimidação e ameaças”.
Segundo o editor-chefe do Global Times, a China estuda colocar legisladores americanos em lista de entrada proibida, como uma das retaliações a Trump.
O Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau, que lida com as duas regiões especiais chinesas, divulgou nota afirmando que o ato do governo Donald Trump é “cheio de preconceito e arrogância”, e que “fatos provam que os EUA é a maior ‘mão negra´ por trás da interferência em Hong Kong”.
*Com Reuters