O dólar despencou para R$ 4,058 nesta segunda-feira (16) em um pregão dominado pelo bom humor com o acordo comercial parcial firmado entre EUA e China e dados econômicos melhores do país asiático. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, que chegou a bater um novo recorde intradiário, virou no fim após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que “todas as alternativas estão sobre a mesa” sobre a possibilidade da volta da CPMF.
No fechamento, a moeda americana ficou nos R$ 4,058, um tombo de 1,23%, o equivalente a uma baixa de 5 centavos ante a última sexta (13). Foi a maior queda desde 22 de outubro (-1,33%), atingindo o patamar mais baixo desde 5 de novembro.
Já o Ibovespa terminou em 111.896 pontos, com recuou de 0,59%, penalizado por ações de bancos. Mais cedo, o indicador alcançou um novo patamar máximo intradiário da história, nos 113.196 pontos.
“O bom humor externo fez a Bolsa bater a nova máxima intradiária e o dólar ir à mínima de R$ 4,06. O mercado digeriu o acordo comercial e os números que saíram melhores da China. O Itaú que reviu a alta do PIB para 1,2% este ano também contribuiu e fez o risco-país cair a 98 pontos”, disse Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
O giro financeiro da B3 nesta segunda foi reforçado pelo vencimento de opções sobre ações. Na quarta-feira (18), será a vez do vencimento de opções sobre o Ibovespa.
EUA-China e dados chineses
Na sexta, o acordo comercial parcial EUA-China menos abrangente que o esperado fez o dólar ante o real fechar em alta. Nesta segunda, lá fora após declarações de autoridades dos dois países neste fim de semana, o mercado voltou a ficar animado com o pacto “fase 1” entre as duas nações.
Neste domingo (15), o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, disse que o acordo vai quase dobrar as exportações dos EUA para a China ao longo dos próximos dois anos e já está totalmente concluído apesar da necessidade de traduções e revisões do seu texto.
Neste domingo (15), o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, disse que o acordo vai quase dobrar as exportações dos EUA para a China ao longo dos próximos dois anos e já está totalmente concluído apesar da necessidade de traduções e revisões do seu texto.
Embora muitos detalhes ainda sejam desconhecidos, a “fase 1” do acordo comercial cancelou a imposição de novas tarifas neste domingo e prevê a redução de taxas sobre US$ 120 bilhões em produtos chineses de 25% para 7,5%.
Também animaram os dados da China, divulgados no domingo (15) à noite, de que a sua produção industrial cresceu 6,2% em novembro ante 4,7% em outubro e os 5 % previstos e que as vendas de varejo subiram 8% batendo a estimativa de 7,6% e o dado do mês anterior (7,2%).
Risco-país brasileiro vai ao menor patamar desde 2010
O risco-país do Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos foi ao menor nível em nove anos nesta segunda-feira (16). Depois de nove quedas consecutivas, o índice recuou mais 3% e caiu a 98 pontos, patamar mais baixo desde novembro de 2010.
O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade do país saldar suas dívidas.
Itaú Unibanco revisa projeções para o PIB
Os economistas do Itaú Unibanco divulgaram um novo relatório revisando para cima as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) do Brasil para 2019, de 1 % para 1,2%. Para 2020, a expectativa foi mantida em 2,2%. Já para 2021, o banco vê que o “crescimento deve acelerar para 3,0%”.
Fala sobre CPMF derruba ações de bancos; porta-voz nega decisão
O mau humor chegou no fim do pregão após a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a possível volta de um imposto sobre transações financeiras, aos moldes da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Todas as alternativas estão na mesa”, disse Bolsonaro a jornalistas, após reunião com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.
“Nós não queremos criar nenhum novo tributo, a não ser que seja para extinguir outros. E assim mesmo, colocado junto à sociedade, para ver qual a reação da sociedade, a gente vai levar avante essa proposta ou não”, acrescentou o presidente.
Mais tarde nesta segunda, o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, afirmou que a decisão da possível volta do imposto não está na alçada do presidente.
“Não obstante essas questões que são muito técnicas –e aí eu incluo a antiga CPMF ou coisa que o valha– ainda não está no escantilhão do próprio presidente e eventualmente pode estar sendo analisado pelo Ministério da Economia, mas nós não temos dados nem referência mais objetiva para afiançarmos se isso vai adiante ou não”, completou.
Em setembro deste ano, o ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, foi exonerado por uma sequência de desentendimentos, inclusive com Bolsonaro, que envolvia a defesa do retorno de um imposto nos moldes da antiga CPMF.
Paulo Guedes vinha defendendo a criação do imposto sobre pagamentos financeiros, que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) já afirmou que não passa na Casa, para desonerar a folha de pagamento das empresas. Com a negativa do presidente, a equipe econômica equacionava aplicar uma taxa de 20% sobre os dividendos.
A declaração de Bolsonaro derrubou as ações de bancos. As ações do Itaú (ITUB4), que fecharam em queda de 2,28%, foram as que mais contribuíram para a baixa do índice. As ações do Bradesco (BBDC4), que recuaram 1,75% e as do Banco do Brasil (BBAS3), com recuo de 1,36%, também estão no top 5 dos papéis que mais levaram à queda do Ibovespa nesta segunda (16).
Ata do Copom
A atenção estará voltada nesta terça (17) para a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC para ver alguma sinalização sobre o futuro da taxa básica básica de juros, que caiu a 4,50% ao ano na última quarta (11).