Sexta-feira (8) começa com os investidores digerindo os dados da balança comercial da China, que vieram melhor do que o esperado, e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar que um réu não pode ser preso, após decisão em segunda instância, apenas depois de esgotados todos os recursos, entendimento que deve soltar vários presos na Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula da Silva.
Na China, a balança comercial bateu as previsões. Porém, as Bolsas asiáticas fecharam negativas nesta sexta, com dúvidas em relação aos avanços divulgados, na véspera, de que o país e os EUA aceitaram remover tarifas gradualmente. O índice Hang Seng (Hong Kong) caiu 0,70%, enquanto o índice Xangai Composto (China) recuou 0,49% nesta sexta-feira (8).
Em outubro, as exportações chinesas tiveram queda de 0,9% na comparação com igual mês de 2018, contra previsão de queda de 3,1%, segundo analistas consultados pelo “The Wall Street Journal”. Já as importações diminuíram 6,4%, também menos que o projetado (8,6%).
Este dado é particularmente relevante para o Brasil, que aumentou suas exportações à China, principalmente de carne suína e soja, com a guerra comercial e a peste suína africana, que afeta a oferta de porcos chineses.
As dúvidas em relação ao fim da guerra comercial persistem. Nesta quinta (7), o Ministério de Comércio chinês anunciou que os países concordaram em remover tarifas sobre importações um do outro “em fases”, a depender do progresso nas negociações para um pacto comercial provisório. Horas depois, porém, a agência Reuters citou fontes dizendo que o plano de remoção de tarifas sofre “forte oposição” internacional na Casa Branca.
Já o diretor do Conselho Nacional de Comércio da Casa Branca, Peter Navarro, disse em entrevista à “Fox Business” que não há nenhum acerto para remover “quaisquer das tarifas existentes” sobre importações chinesas, como parte da chamada “fase 1” de um acordo bilateral. “A única pessoa que pode tomar essa decisão é o presidente (Donald) Trump”, afirmou à emissora.
STF e Lula
A notícia de que Lula pode ser solto deve aumentar a cautela do mercado e puxar o dólar ante o real e derrubar o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira.
Antes do STF declarar inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância, o ex-presidente Lula afirmou que sairá da prisão “mais à esquerda” do que entrou, prometeu “um grande pronunciamento à nação” e que planeja uma partida de futebol com membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) no próximo dia 21 em Guararema (SP).
“É provável que o retorno do ex-presidente Lula ao jogo político contribua para a continuidade do ambiente de polarização do país”, segundo avalia Ribamar Rambourg, coordenador de Análise Política da Genial Investimentos.
A volta da polarização mais acirrada pode afastar mais investidores estrangeiros do país, ainda mais em um cenário de protestos violentos por vários países da América Latina, como o Chile.
Na véspera, o dólar fechou com alta de 0,29% a R$ 4,093, depois da frustração com os leilões do pré-sal, que não tiveram a participação de empresas estrangeiras, à exceção das chinesas CNOOC e CNODC com posições reduzidos nos consórcios com a Petrobras. Sem a esperada entrada de capital de fora, o dólar caminha para R$ 4,10 em uma altura em que se preparava para romper os R$ 3,90, depois da aprovação da reforma da Previdência.
“O PT obterá uma vitória importante, mas o presidente Jair Bolsonaro também poderá ser beneficiado, já que poderá explorar ainda mais a retórica antipetista em seus discursos”, avalia o analista político da Genial.
A decisão do STF, porém, não torna Lula elegível. Segundo a consultoria Arko Advice, ele continua inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Por isso, diz a decisão mais importante para o Lula é a da segunda turna do STF que pode julgar a suspeição do ministro da Justiça, Sérgio Moro, então juiz da Lava Jato, que condenou Lula em 1ª instância. Essa decisão pode anular a única condenação colegiada de Lula e torná-lo elegível.
De acordo com Rambourg, “é pouco provável que haja impactos significativos em relação à tramitação da agenda econômica no Congresso Nacional, que atualmente depende muito mais dos presidentes das Casas Legislativas e das lideranças partidárias do que do Executivo”.
*Com Estadão