No cenário de juros historicamente baixos em 2019, que deixou as aplicações em renda fixa menos atrativas, o brasileiro resolveu mudar sua forma de investir, assumindo mais risco. De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (9) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos de ações (fundos de investimento que investem no mínimo 67% dos recursos em ações ou em papéis cotados na Bolsa) tiveram captação recorde no ano passado, ao mesmo tempo, em que os fundos de renda fixa tiveram perda de recursos, no pior resultado desde 2008.
Os fundos de ações captaram R$ 86,2 bilhões no ano passado, o recorde da classe para um ano e uma alta de 195% em relação a 2018. Somente em dezembro, foram aplicados R$ 16,9 bilhões na categoria.
Com o ingresso de recursos, os fundos de ações fecharam o ano com patrimônio de R$ 497 bilhões, uma fatia de 9,2% do total da indústria de fundos (R$ 5,4 trilhões). Ao fim de 2018, essa proporção era de 6,6%.
Por outro lado, o destaque negativo ficou com os fundos de renda fixa. Em 2019, pelo segundo ano consecutivo, essa classe registrou saída líquida. O saldo ficou negativo em R$ 69,3 bilhões, o pior resultado em 11 anos.
Fundos de ações batem ganho do Ibovespa
A rentabilidade dos fundos de ações também chamou a atenção. Nove dos 12 tipos de fundos de ações terminaram o ano com retorno acima do Ibovespa, que fechou 2019 em alta de 31,58%.
Os maiores resultados partiram dos fundos small caps, que investem em ações de empresas com baixa capitalização de mercado. Em média, os fundos desse tipo subiram 52%.
Indústria de fundos dobra
Segundo a Anbima, a indústria de fundos de investimento encerrou 2019 com captação líquida de R$ 191,6 bilhões, mais que o dobro do registrado em 2018, quando entraram R$ 95,4 bilhões. O resultado foi o melhor desde o recorde de 2017 (R$ 263,8 bilhões).
Os fundos multimercados apareceram com o segundo melhor resultado no ano, ao registrarem captação líquida de R$ 66,8 bilhões em 2019, elevação de 37,3% em relação a 2018.
“A busca dos investidores por produtos mais arriscados e por diversificação foi ótima para a indústria de investimentos como um todo, especialmente a de fundos”, afirmou, por meio de nota, Carlos André, vice-presidente da Anbima.
Poupança perdeu R$ 25 bilhões em 2019
O Banco Central (BC) divulgou nesta quarta (8) que a poupança fechou 2019 com captação líquida de R$ 13,327 bilhões, o menor saldo desde 2016. Ao longo do ano, a caderneta perdeu R$ 25 bilhões.
Um dos motivos é o mesmo que explica o bom desempenho dos fundos de ações e multimercados: a queda da taxa básica de juros, a Selic. O juro básico sofreu quatro cortes durante o ano, tendo terminado nos 4,50% ao ano, o menor nível da história.
Com isso, investimentos atrelados à Selic e ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), índice de referência de investimentos em renda fixa que segue a Selic) tiveram seus rendimentos reduzidos. A poupança, por exemplo, agora rende apenas 3,15% ao ano, menos que a inflação.