O Ibovespa, índice da B3, a Bolsa brasileira, que já avançava com humor externo e dia de vencimento de opções do índice, acelerou o otimismo após a entrevista coletiva do ministro da Economia, Paulo Guedes, fazendo o indicador fechar, nesta quarta (18), com alta de 1,51% aos 114.314 pontos, novo recorde de fechamento. No ano, o Ibovespa acumula valorização de 30%.
No balanço de fim de ano da pasta, Guedes afirmou, entre outras novidades, que o Brasil vai viver uma “avalanche de investimentos” em 2020, que virão tanto do mercado interno quanto de estrangeiro, que a economia crescerá pelo menos 2% no ano que vem, que o déficit fiscal ficará menor que os R$ 139 bilhões do Orçamento em 2019, entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões, além de admitir que a “CPMF virou um imposto maldito”, e que estuda um imposto para taxar as transações digitais.
Também revelou que não vai fazer uma política para reajuste do salário mínimo para os próximos anos e que mantém o plano de privatizar todas as estatais.
“O ano foi difícil, duro, mas foi extraordinariamente produtivo. Encontramos dificuldades pela frente, mas também muita ajuda”, disse Guedes. “Fizemos reformas estruturais importantes. Mas o mais importante é o seguinte: nem começamos.”
No evento, o ministro esteve acompanhado de toda a equipe econômica, e teceu elogios aos secretários. Chegou a circular que o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, estava de saída do governo.
“Mansueto nos ajudou muito e eu confio muito nele. Ele viu a coisa pegando fogo, sempre fala a verdade e é muito realista”, disse Guedes. O ministro ainda disse que José Tostes, secretário da Receita Federal, levará o país a “outro patamar” no que diz respeito ao sistema tributário. “Vamos caminhar para padrões da OCDE.”
Ao citar o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, Guedes o qualificou como o “senhor reforma”. “Tem que dar uma desligada nele, senão vai reformar o Natal também”, brincou.
Confira abaixo as frases mais importantes de Paulo Guedes no balanço de um ano da pasta:
CPMF
“A CPMF virou um imposto maldito, já desde a campanha. O presidente falou: eu não quero esse troço. E todo mundo. Então, acabou-se. Nós, por outro lado, sempre examinaremos bases amplas. Nós precisamos de bases amplas”.
“O que nós sabemos é o seguinte: sempre consideramos que para desonerar a folha de pagamentos, só tem um jeito de desonerar a folha de pagamentos, que é o mais cruel e perverso de todos os impostos”.
Imposto sobre transações digitais
“A ideia de tributar não só consumo e renda como transações é uma ideia que consideramos desde o início. Nunca foi a CPMF, sempre foi um imposto sobre transações. Como tributamos isso? Tem transações digitais”.
“Você nem vai passar mais em banco, [vai] transferir dinheiro pelo celular. Como vai tributar essa transação? Essa transação digital? Você precisa de um imposto. Tem que ter um imposto para transação digital”.
Reforma tributária
“É tolice jogar uma terceira PEC para tumultuar o jogo. Vamos mandar o conteúdo das nossas propostas e isso vai ter um processamento político no Congresso”.
“Do ponto de vista de tramitação, gira tudo mais rápido se aproveitar o que já está girando lá dentro”.
PIB
“O PIB [Produto Interno Bruto, som das riquezas produzidas em um país] crescerá no mínimo 2% ano que vem. Essa é uma estimativa conservadora da nossa parte. Acreditamos que a economia crescerá pelo menos o dobro deste ano. Se 2019 fechar com 1,2% [de crescimento do PIB], [a economia] crescerá 2,4% em 2020”, explicou o ministro.
Sobre varejo e construção: “Teremos o melhor Natal dos últimos cinco anos.”
Crédito privado
“O crédito privado está acelerado e é maior do que o público hoje. Com isso temos um crowding-in, com os investimentos privados crescendo”.
“Estamos bancarizando os brasileiros em vez de deixar empoçado com meia dúzia de campeões”.
Spread bancário
“Bancos, competição. Competição para derrubar esse spread. O spread é absurdo. Está errado”.
Microcrédito
“Se havia campeão nacional, agora é ‘zereta’, o crédito vai para os pequenos”.
“O negócio é o microcrédito”.
Caixa
“Inovamos na Caixa Econômica Federal. Criamos a indexação (do crédito) pelo IPCA. Se o banco é público, não precisa otimizar o lucro. O crédito imobiliário está bombando”.
Investimentos
“O “S” do BNDES agora é de saneamento. O Brasil tem 100 milhões de brasileiros com lixo a céu aberto, sem água, sem esgoto. Como (projeto de lei) foi aprovado agora (na Câmara), isso vai empurrar o Brasil para outro patamar. De um lado, investimentos em saneamento, de outro, investimentos em infraestrutura. Agora, vamos disparar uma onda de investimentos privados internos e internacionais. Vem uma avalanche de investimentos no ano que vem”
“Os investimentos vão literalmente tocar fogo na infraestrutura brasileira”.
Salário mínimo
“Nós não temos que formular uma política de salário mínimo. Tem gente que gosta de anunciar três, quatro, cinco anos à frente [a política para o salário mínimo]. Nós temos de anunciar para o ano seguinte, e a cláusula constitucional é garantir a inflação. Foi [anunciado] R$ 1.031, mas a gente sabe que, como INPC repicou, vai ser R$ 1.038”.
Reforma da Previdência
“A primeira torre que derrubamos foi a da Previdência Social, que era uma fábrica de privilégios insustentáveis.
“O programa (do governo) é muito abrangente. Começamos atacando o problema fiscal mais importante, que era a Previdência. A reforma começou com objetivo de R$ 1,2 trilhão e acabou equilibrada, com R$ 800 bilhões para a União”.
Dívida e juros
“Nossa segunda grande torre são os gastos da dívida pública. Vamos despedalar os bancos públicos, mandando de volta [para o Tesouro] a dívida que eles têm com a União. Desaceleramos o endividamento com bancos públicos devolvendo dinheiro. O secretário Salim Mattar está privatizando. Assim estamos desacelerando o endividamento em forma de neve”.
“Vamos economizar de juros em torno de R$ 100 bi de juros, de um ano para o outro.”
Funcionalismo público
“A terceira torre é o gasto com o funcionalismo. Nos últimos 15 ou 16 anos, os servidores tiveram, em média, reajustes de 50% acima da inflação, com aposentadorias generosas. Temos um shutdown [congelamento de serviços públicos] à brasileira. Em vez de parar de pagar todo mundo, é só não dar aumento. Está lá no pacto federativo”.
Déficit fiscal
“É perfeitamente possível promover ajuste fiscal estimulando crescimento econômico, empurrando crescimento privado, crédito privado”.
“O déficit fiscal deve ficar entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões este ano”.
Privatizações
“Privatização, quero vender todas as estatais”.
“Salim [Mattar, secretário especial de Desestatização] cumpriu a meta dele e vem aí com o ‘fast track‘ (acelerar)”.
“O Salim está dobrando a meta dele”.
Congresso e Bolsonaro
“O balanço desse ano do meu ponto de vista: chegamos, ano difícil pela frente, presidente nos dando escudo institucional para que possamos avançar. E com um Congresso reformista”.
AI-5 e democracia
“Ninguém controla o Brasil. O Brasil é grande sociedade aberta em construção. Eu jamais hesitei em relação à firmeza da democracia brasileira”.
*Com Agência O Globo e Agência Brasil