(Publicada às 18h26; atualizada às 19h10)
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu nesta quarta-feira (31) promover um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros da economia, a Selic, que recua a 6% ao ano, e sinalizou que novas reduções podem ocorrer mais à frente.
A decisão desta quarta (31), que foi unânime, fez o juro básico atingir o nível mais baixo desde a criação do Copom em 1996. No mercado, não havia consenso quanto ao rumo da taxa: apostas variavam de manutenção a corte, entre 0,25 e 0,50 ponto.
Para o órgão, economia ainda fraca, inflação comportada, ambiente externo benigno e avanço da reforma da Previdência justificam os cortes na taxa, que serve de referência para o crédito a famílias e empresas.
“O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”, disse o comunicado.
Economia fraca
Na nota, a autoridade explica que vê como gradual o ritmo de crescimento da economia, o que justificaria uma redução agora da Selic para reanimar essa alta. Com juros menores, haverá, em tese, um incentivo maior para o consumo e o investimento, pois fica mais barato financiar as compras e as obras ou gastos com maquinário, por exemplo.
“Indicadores recentes da atividade econômica sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa retomada ocorrerá em ritmo gradual”, diz.
No mês passado, a autoridade reduziu sua estimativa para o crescimento da economia, de 2% para 0,80%, em linha com o mercado, diante de dados fracos da indústria, comércio e serviços no segundo trimestre.
Cenário externo
O BC também entende que pode diminuir o juro, uma vez que o cenário externo está mais favorável, “em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias”. O órgão se refere ao movimento global de reduções das taxas básicas de juros, queda que tende a diminuir a pressão sobre o dólar e, por consequência, não puxa os preços.
Nesta quarta (31), o Fed (banco central dos EUA) também promoveu uma redução da sua taxa básica, em 0,25 ponto, a primeira em 11 anos. Turquia, Coreia do Sul e África do Sul também já aliviaram seus juros básicos.
Inflação bem comportada
Para o BC, o cenário da inflação em “níveis confortáveis” também permite cortar a Selic. No documento, o BC manteve a projeção de inflação para 2019 pelo cenário de mercado a 3,6%, e para 2020 em 3,9% —mesmos patamares das projeções feitas em junho.
O índice de inflação mais recente, o IPCA-15, a prévia da inflação oficial, de julho, divulgado na semana passada, veio abaixo do previsto (0,09%), o que abriu espaço para o BC reduzir os juros sem pôr em causa a inflação.
Reforma da Previdência
De acordo com o Copom, o avanço da reforma da Previdência, que foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados em meados deste mês, é outro elemento que sustenta a inflação controlada, fato que que permitirá continuar o processo de redução da Selic.
“O Copom reconhece que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que a continuidade desse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes. Em particular, o Comitê julga que avanços concretos nessa agenda são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva”, diz, em nota.
Taxa abaixo de 5%?
A média do mercado entende que a Selic pode fechar o ano a 5,50%, mas há apostas de corte ainda maior, para 4,75%, como a do Bank of America Merrill Lynch, um dos que previa queda de 0,50 ponto percentual na reunião desta quarta.