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Dólar ‘ignora’ Argentina e cai a R$ 3,98 com queda de risco-país e ‘Efeito Previdência’

Moeda americana fura, novamente, marca dos R$ 4, ainda em decorrência da aprovação da reforma previdenciária e recuo do CDS, que marcou nova mínima no ano nesta segunda-feira

Bárbara Leite

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Na semana passada, a divisa americana somou o maior tombo desde fevereiro–Foto: Pixabay

O dólar voltou a furar a marca de R$ 4 nesta segunda-feira (28), apesar da guinada à esquerda na Presidência da Argentina, em meio ao otimismo ainda com a aprovação da reforma da Previdência e queda do risco-país pela terceira semana. Expectativas positivas com o acordo comercial entre EUA e China e a extensão do prazo para o Brexit (saída do Reino Unido da UE) também ajudam ao bom humor do mercado financeiro brasileiro.

Pelas 13h, o dólar era negociado em R$ 3,979, com queda de 0,75%, enquanto o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, subia 0,49% para 107.894 pontos. Na semana passada, a moeda americana encerrou com tombo de 2,69%, o maior desde fevereiro.

“O mercado segue digerindo a reforma da Previdência. O CDS confirma a queda em sintonia com o dólar. O CDS chegou a cair a 117 pontos. São três semanas em queda. Estamos entrando na quarta semana de recuo. Isso quer dizer que a percepção de que o Brasil não é mais insolvente está o melhorando o humor”, disse Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.

Segundo Syper, o mercado “está fazendo um ajuste fino para a decisão do Copom e Fed na ‘Super Quarta’. A expectativa é de um alívio aqui de meio ponto e há 20% de probabilidade implícita de corte de 0,75 ponto. Nos EUA, as probabilidades estão com 90% de um corte de 0,25 ponto”.

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O CDS (custo do contrato de swap de default de crédito, na sigla em inglês), medida usada para calcular o risco-país, do Brasil, cravou nesta segunda-feira (28) uma nova mínima no ano, nos 117,287 pontos, e recuava 1,77%. O CDS está no patamar quando o Brasil tinha o chamado grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador.

Por aqui, o mercado segue na expectativa com o programa econômico do governo após a aprovação da reforma da Previdência, que vai gerar, ao menos R$ 800 bilhões de economia aos cofres públicos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vai ao Senado nesta terça-feira (29) falar sobre o Pacto Federativo, que pode ajudar nas contas públicas dos Estados brasileiros, que estão endividados.

Argentina: Bolsa sobe 6% mesmo após vitória de Fernandéz

Até o próprio mercado de capitais argentino “ignorou” o fato do país ter eleito para a Presidência do país o candidato peronista e a sua vice, a senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), neste domingo (27) em primeiro turno, derrotando o atual presidente, o liberal Mauricio Macri. O Merval, índice da Bolsa da Argentina, subia 6% na manhã desta segunda-feira.

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A alta pode refletir a medida anunciada para impedir uma desvalorização do peso ante o dólar, bem como as expectativa de que Fernández, apesar de ser de esquerda, tenha uma agenda pró-mercado, como o ex-presidente Carlos Menem.

O Banco Central argentino limitou a compra de dólares a US$ 200 por pessoa física com contas bancárias e a US$ 100 em espécie até o dia 31 de dezembro. Até sexta-feira (25), este limite era de US$ 15 mil. Não haverá, no entanto, restrições cambiárias para viagens internacionais e para a retirada de dinheiro em contas no exterior. A retirada de dinheiro no exterior com cartões argentinos, por sua vez, só poderá ser efetuada em contas locais do cliente em moedas estrangeiras.

A medida visa conter uma fuga do mercado argentino e preservar as reservas internacionais do país.

EUA-China e Brexit

O mercado seguia otimista quanto aos avanços para um acordo comercial parcial entre EUA e China, que pode impedir uma desaceleração maior nas economias dos dois países e ao redor do mundo.

Na sexta-feira (25), o Escritório do Representante Comercial (USTR, na sigla em inglês) dos EUA relatou avanços no diálogo com a China, ressaltando que os dois lados estão próximos de finalizar algumas partes da chamada “fase 1” de um acordo comercial.

Existe uma expectativa de que os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, assinem um acordo parcial durante reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que ocorrerá em meados de novembro, no Chile.

O anúncio nesta segunda-feira 28) de que a UE aceitou adiar o Brexit para 31 de janeiro de 2020 trouxe alívio ao mercado. O prazo acabava nesta quinta (31) e havia temores de que o Reino Unido saísse do bloco europeu sem um acordo, o que poderia gerar caos financeiro e desabastecimento geral ao país.

“Super Quarta”

No radar dos investidores seguem as decisões sobre o rumo dos juros básicos nos EUA e no Brasil na “Super Quarta”. A expectativa é que o Fed, BC dos EUA, anuncie, nesta quarta (30) um corte de 0,25 ponto percentual na sua taxa, que está no intervalo de 1,75% a 2% ao ano. Já o BC brasileiro deve promover uma redução maior, de 0,50 ponto, para 5% ao ano, enquanto uma minoria acredita na possibilidade de redução de 0,75 ponto.

Esse diferencial tende a diminuir o chamado “carry trade” – quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e se aplica a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil)– e a afastar investidores do Brasil.

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