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Fernández derrota Macri em volta da esquerda à Argentina

Em aliança com Cristina Kirchner, peronista venceu a eleição presidencial argentina em primeiro turno neste domingo e terá como desafio uma crise econômica grave; eleito se reúne com o atual chefe de Estado nesta segunda para iniciarem uma transição “tranquila”

Redação

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Alberto Fernandéz e sua vice, a senadora e ex-presidente Cristina Kirchner: eleito é desafeto de Bolsonaro e amigo de Lula–Foto: Reprodução

A Argentina foi às urnas neste domingo (27) e elegeu presidente o candidato de oposição Alberto Fernández, 60 anos, em primeiro turno. Com 96,66%% das mesas de votação apuradas, ele obteve 47,97% dos votos, contra 40,51% de Mauricio Macri, atual chefe de Estado. O ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, ficou em terceiro lugar, com 6,17%.

Não foi uma vitória esmagadora como previam as pesquisas, mas foi suficiente para Fernandéz e sua companheira de chapa, a senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), ganharem a eleição presidencial em primeiro turno.

Para vencer a eleição no primeiro turno na Argentina é necessário alcançar 45% ou 40% com pelo menos dez pontos de vantagem em relação ao segundo colocado.

Pouco depois das 22h, Macri reconheceu a derrota em discurso e disse que já convidou o opositor para uma conversa sobre a situação do país:

“Parabenizo o presidente eleito Alberto Fernández. Acabei de falar com ele pela grande eleição que fez. O convidei para tomar amanhã um café da manhã na Casa Rosada porque deve começar uma transição ordenada que leve tranquilidade aos argentinos”

Em seu discurso de vitória, Fernández anunciou que aceitou o convite:

“Vamos colaborar em tudo o que possamos porque a única coisa que nos preocupa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez por todas”, disse.

Fernández: articulador político

Alberto Fernández, advogado e peronista de carteirinha, o novo presidente tem uma enorme experiência em tecer acordos. Foi essa habilidade que o levou a ser chefe de Gabinete dos presidentes Néstor e Cristina Kirchner. Ele estava afastado de cargos públicos desde 2008, mas atendeu o pedido de Cristina para liderar de sua chapa na corrida presidencial.

Seu primeiro cargo público foi na Presidência do Raúl Alfonsín (da União Cívica Radical, de centro-esquerda), como sub-diretor de Assuntos Jurídicos. Ele já era o representante legal do Partido Justicialista (PJ, peronista). No governo do peronista Carlos Menem, tornou-se superintendente de Seguros. Em 1991 foi premiado como um dos Dez Jovens Notáveis da Argentina e eleito o melhor executivo no setor de seguros.

Além de político, Fernández é músico, professor da UBA e autor de diversos livros de direito.

Mercados: receios e esperança

Ele ainda não deu detalhes sobre o seu plano econômico nem indicações de quem vai compor a sua equipe econômica. Mas, na manhã deste domingo (27), mostrou preocupação e tentou acalmar os mercados, que sempre ficam estressados quando a esquerda está no poder, com receio da volta de medidas populistas que descontrolem as contas públicas e levem a um novo calote, como o de 2001.

“Estamos vivendo uma enorme crise e temos de ser responsáveis”, disse Fernández pela manhã, tentando acalmar os ânimos dos que temem uma nova desvalorização do peso nesta segunda-feira (28) com a sua vitória. Neste ano, o peso já se desvalorizou 57% frente o dólar, e boa parte dessa queda se deve à expectativa, hoje confirmada, de que Macri sairia derrotado destas eleições presidenciais.

Há expectativa de que Fernández se pareça mais com Carlos Menem do que com Cristina. Depois de fazer campanha com discurso populista, o ex-presidente Menem (1989-99) fez um governo pró-mercado: privatizou o setor de serviços do país, dolarizou a economia e marcou o início de uma era de políticas neoliberais na região.

Crise econômica

Fernandéz pega uma Argentina em plena crise econômica, com disparada da inflação, queda do peso, aumento do desemprego e da pobreza.

A taxa anual da inflação está em 53,5% e deve fechar o ano em 55%, 15 milhões dos 45 milhões de argentinos estão na pobreza, o desemprego atinge 9,9%, e a maioria dos empregados está na informalidade.

A economia está em recessão e deve fechar o ano com queda de 2,9%

Desafeto de Bolsonaro e amigo de Lula

Fernández é desafeto do presidente Jair Bolsonao, que afirmou que a retomada da esquerda no país vizinho poderia colocar em risco o Mercosul–bloco comercial fundado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que o Brasil poderá deixar o Mercosul se o candidato de esquerda vencesse e decidisse”fechar a economia” para o comércio internacional.

Na manhã deste domingo (27), Bolsonaro deu uma entrevista em tom mais conciliador, ao afirmar que pretende “ampliar qualquer comércio com a Argentina”, e que espera que Fernández não se oponha à abertura comercial desejada pelo governo brasileiro.

Durante a campanha, o agora presidente eleito visitou o ex-presidente Lula da Silva na prisão e neste sábado (26), no dia de seu aniversário, enviou uma mensagem por meio das redes sociais e fez o gesto de Lula livre com os dedos.

*Com Valor.com e ‘O Globo”

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