(atualizada às 17h30 com cotação de fechamento)
O dólar, que abriu em alta nesta segunda-feira (2), após Donald Trump anunciar, pelo Twitter, que vai retomar as tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina, virou com um novo dado sinalizando melhora da economia chinesa e a interpretação da segunda parte o tuíte do presidente americano sobre a taxação sobre os metais.
No fechamento, a moeda americana ficou nos R$ 4,214, uma queda de 0,63%, depois da semana passada ter batido novo recorde histórico nos R$ 4,259 e chegar a ser negociado nos R$ 4,27. Na sexta, a divisa terminou nos R$ 4,24.
“O Trump e as tarifas sobre o aço e o alumínio do Brasil afetaram os negócios, mas os dados da manufatura da China subindo mais do que o esperado se sobrepõem ao clima ruim da notícia”, disse Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
Segundo Syper, o arrefecimento do “nervosismo perante a América Latina, principalmente depois do Brasil ter tido recomendação de compra em bloco” também ajudou a fortalecer o real nesta segunda (2).
“Mas o que derrubou o dólar foi a segunda parte do tuíte de Trump”, avaliou o diretor da Mirae.
Primeira parte do tuíte
Pela manhã, o presidente dos EUA publicou que o país vai voltar a impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio procedentes de Brasil e Argentina, em um movimento de represália já que Trumo considera que os países estão desvaloizando suas moedas para baratear seus produtos agrícolas, prejudicando as vendas dos agricultores americanos. O real enfraquecido é benéfico às exportações brasileiras, tanto que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se mostrou confortável com o câmbio alto.
“O Brasil e a Argentina têm presidido uma desvalorização maciça de suas moedas. O que não é bom para os nossos agricultores. Portanto, com efeito imediato, restaurarei as tarifas de todos os aços e alumínio enviados para os EUA a partir desses países. O Federal ….”, escreveu Trump.
A imposição de tarifas afetará as exportações, e isso afeta o dólar. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, só atrás do Canadá, e o prejuízo da indústria brasileira pode chegar a US$ 4 bilhões (cerca de R$ 16,9 bilhões).
2ª parte do tuíte do Trump
Já na sua parte do tuíte, Trump diz que, se o Fed baixasse a taxa básica não seria necessário impor taxas aos metais.
“…Reserve (Fed) também deve agir para que países, dos quais existem muitos, não aproveitem mais nosso dólar forte desvalorizando ainda mais suas moedas. Isso torna muito difícil para nossos fabricantes e agricultores exportar seus produtos de maneira justa. Taxas mais baixas e afrouxar – Fed!”
É que os EUA não são autossuficientes em aço, e têm de importar o insumo. A taxação vai ser negativa para o país e para as indústrias americanas, que vão precisar pagar mais para conseguir o produto. A mensagem de Trump é lida como uma forma de pressionar o Fed a baixar as taxas, usando o aço e o alumínio.
E se o Fed baixar mais a sua taxa básica–é esperado que a autoridade faça uma pausa já no encontro da próxima quarta (11)–, diminui o diferencial dos juros americanos para os brasileiros, que tem feito os investidores, que ganham com especulação das taxas de juros, se afastarem do Brasil. Daí, a interpretação que a ameaça do Trump pode levar a novas quedas dos juros americanos, ajudando o real.
Leilão de venda de dólares à vista
Além disso, o dólar também recua com a atuação do BC brasileiro, que voltou, nesta segunda (2), a realizar um leilão de venda de dólares à vista, quando usar parte das reservas para dar liquidez ao mercado, e assim, tirar pressão sobre o dólar. Foram vendidos US$ 480 milhões, quase a totalidade dos US$ 500 milhões ofertados.
A operação do BC estava vinculada a outro leilão, de swap cambial reverso, em que também foram vendidos US$ 480,0 milhões.
Dados da China
Nesta segunda, a consultoria IHS Markit e o grupo chinês Caixin divulgaram que o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em ingês) do setor industrial da China apresentou um crescimento de 51,7 em outubro para 51,8 em novembro. Essa é a maior leitura do índice desde dezembro de 2016, quando o PMI do país ficou em 51,9.
Os dados de novembro confirmam o quarto mês consecutivo de crescimento da atividade econômica chinesa. Leituras acima de 50 indicam expansão.
Os números desta segunda se juntam aos divulgados no sábado do PMI oficial chinês, que ficou em 50,2, rompendo a marca de 50 pela primeira vez em sete meses. Eles indicam que a indústria chinesa está mais forte, afastando os temores de uma desaceleração mais intensa do gigante em meio à guerra comercial com os EUA.
Esse dado é particularmente importante para o Brasil, já que o país é o principal consumidor global de commodities (matérias-primas) –como o minério de ferro, o aço, o papel e a celulose, entre outros.