O dia foi de correções no mercado financeiro nesta quinta-feira (24), com a euforia após a aprovação da reforma da Previdência dando lugar à cautela com resultados corporativos do terceiro trimestre, em dia que as atenções também se voltaram para o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão em segunda instância.
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, encerrou com queda de 0,52% nos 106.986 pontos, depois de bater três recordes consecutivos de fechamento. O volume de negócios na B3 voltou a subir, somando R$ 18,8 bilhões.
Já o dólar ensaiou o terceiro pregão de queda pela manhã, e até chegou a cair abaixo da barreira dos R$ 4, mas não resistiu e terminou o dia em alta de 0,30% nos R$ 4,045. No melhor momento do dia, a moeda recuou a R$ 3,9991, menor nível intradiário desde 19 de agosto.
“O que vimos hoje foi um movimento de cautela, após a frustração com CSN e Localiza, que trouxe receios para os resultados da Vale e da Petrobras. A aprovação da reforma da Previdência foi bom, mas agora precisamos ver o resultados positivos das empresas”, disse Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
O dólar acabou subindo à tarde, com os investidores aproveitando o patamar baixo para voltar às compras. Na semana, a moeda ainda acumula uma queda significativa frente ao real, de 1,85%.
Em relatório divulgado pela manhã, José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, ponderou que, apesar das quedas do dólar ainda é cedo para se falar em uma reversão. “Ainda é muito cedo para afirmar que o dólar cairá para R$ 3,90 e muito cedo para imaginar a moeda perdendo a sua longa tendência de alta, que começou no ano passado. Para termos a reversão de tendência, precisaríamos ver a cotação rompendo R$ 3,85”, disse, em relatório.
Além da cautela com os balanços do terceiro trimestre, os investidores também realizaram lucros (venda das ações para embolsar os ganhos), após as valorizações registradas nos últimos três pregões.
Resultados da CSN e Localiza desanimam
Os principais destaques negativos do Ibovespa foram a CSN e a Localiza, que apresentaram resultados do terceiro trimestre, que decepcionaram os analistas. As ações da CSN recuaram 6,85%, depois da empresa divulgar prejuízo de R$ 992,9 milhões no terceiro trimestre, puxado por um aumento de quase 300% nas despesas. O resultado negativo, que surpreendeu os analistas, foi provocado pela queda da receita líquida, significativo avanço das despesas operacionais e o aumento da despesa financeira líquida, que dobrou no período.
Já a Localiza fechou com queda de 6,1%, após informar lucro líquido de R$ 204,7 milhões de julho a setembro, abaixo da previsão média de analistas compilada pela Refinitiv, de R$ 235,5 milhões. A depreciação dos carros, que resultou em perdas de R$ 145,2 milhões, afetaram o balanço.
A queda da Localiza arrastou o desempenho de outras locadoras de carros, como a Movida, que terminou em baixa de 4,15%, e a Unidas, cujas ações recuaram 3%.
Petrobras e Vale
Também pressionaram o Ibovespa em queda as ações de Petrobras (-1,65% a ON e -1,55% a PN) e Vale ON (-0,66%). As duas anunciaram os resultados após o fechamento do mercado. A Vale lucrou 17,5% mais para US$ 1,654 bilhão, apesar de ser um resultado positivo após dois trimestre de queda, o número veio abaixo do esperado.
Já o lucro da Petrobras bateu as projeções. A petrolífera teve resultado líquido de R$ 9,08 bilhões no terceiro trimestre, uma alta anual de 36,8%. O mercado esperava R$ 8,4 bilhões. Já a receita da estatal recuou 13,5% para R$ 77,05 bilhões no período.
STF: possível decisão do STF causa desconforto
O mercado também esteve de olho no julgamento sobre a constitucionalidade da prisão após a segunda instância. O voto da ministra Rosa Weber era o mais esperado, e antes do mercado fechar, ela seguiu o relator, o ministro Marco Aurélio Mello, votando contra a prisão após a condenação em segunda instância. Esse entendimento pode beneficiar o ex-presidente Lula e outros presos da Lava Jato.
O julgamento foi suspenso quando estava 4 x 3 a favor da prisão, mas a expectativa é que, com a decisão de Rosa Weber, que era considerada o fiel da balança, ficou mais perto dos réus só poderem ser presos após esgotados todos os recursos na Justiça.
Apesar do tema não ter força para afetar diretamente o mercado financeiro, essa decisão pode atrapalhar a imagem do Brasil pelos investidores externos, que já estão cautelosos em relação ao país.