A indústria brasileira interrompeu dois anos consecutivos de crescimento, e recuou 1,1% em 2019, segundo divulgou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (4). Foi o pior ano desde 2016, quando o indicador desabou 6,4%. Em 2018, a produção industrial havia subido 1% e em 2017, 2,5%.
De acordo com o gerente da pesquisa, André Macedo, a queda da indústria pode ser explicada pelos efeitos do rompimento da barragem, da Vale, em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019.
“Tiveram grande peso nesses resultados negativos os efeitos na indústria extrativa, em decorrência do rompimento da barragem de Brumadinho no início de 2019”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo. Ele ressalta que, se o setor extrativo (-9,7%) fosse retirado do cálculo, a variação da produção industrial seria de 0,2% no ano.
Também afetou a produção a crise na Argentina, que reduziu as exportações brasileiras, sobretudo de veículos, além do desemprego ainda alto.
“Das 24 atividades pesquisadas, 16 tiveram queda no ano. A produção industrial pode estar sendo impactada pelas incertezas no ambiente externo e também pela situação do mercado de trabalho no país que, embora tenha tido melhora, ainda afeta a demanda doméstica”, comenta.
Entre as atividades, indústrias extrativas (-9,7%) exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pelos itens minérios de ferro. Vale destacar também as contribuições negativas assinaladas pelos ramos de metalurgia (-2,9%), de celulose, papel e produtos de papel (-3,9%), de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%), de outros equipamentos de transporte (-9,0%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), de produtos de madeira (-5,5%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,7%) e de produtos de borracha e de material plástico (-1,5%).
Por outro lado, entre as dez atividades que apontaram ampliação na produção, as principais influências no total da indústria foram registradas por produtos alimentícios (1,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (2,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), produtos de metal (5,1%) e bebidas (4,0%).
Recuperação no segundo semestre
Os números do IBGE mostram que houve, no entanto, uma redução na intensidade das perdas do primeiro (-1,4%) para o segundo semestre do ano (-0,9%), em relação a iguais períodos do ano anterior.
Mesmo assim, o mês de dezembro foi de queda na produção, tanto em relação a novembro (-0,7%) quanto em relação a dezembro de 2018 (-1,2%), bem como o último trimestre do ano (-0,6%).
O desempenho de dezembro foi pior do que o esperado pelo mercado, que era de queda de 0,5%.
Boa notícia: produção de bens de consumo sobe com emprego e FGTS
Do lado positivo do balanço do ano, está a produção de bens de consumo, que subiu 1,1%, tanto duráveis (2%) quanto não duráveis (0,9%).
“O avanço no mercado de trabalho e a liberação de saques do FGTS injetaram dinheiro na economia, impulsionando essa atividade”, diz Macedo.
No ano passado, o desemprego recuou a 11,9%, ante 12,3% em 2018, enquanto o governo liberou saques das contas ativas e inativas do FGTS de até R$ 500, para estimular o consumo.