(Publicado às 10h35; atualizado às 11h20)
Os negócios do mercado de câmbio mal iniciaram a semana e o presidente dos EUA, Donald Trump, já deixou mais uma marca negativa. Logo após a abertura da negociação do dólar por aqui, o líder americano foi ao Twitter ‘cutucar” a China e o presidente do banco central dos EUA, Fed, indicando que o agravamento da guerra comercial entre EUA e o país asiático deve prosseguir.
“O tuíte de Trump puxou mais dólar para cima”, diz Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset.
Pelas 9h57, a moeda dos EUA era negociada a R$ 3,941, com alta de 1,27%. Na semana passada, a divisa saltou 3,10%, na pior semana desde 17 de maio.
Um acirramento da guerra comercial tem potencial para desacelerar o crescimento das economias mundiais, incluindo o Brasil, cenário que afasta os investidores do mercado de ações, que preferem se refugiar em ativos considerados mais seguros, como dólar e ouro, puxando as cotações dessas aplicações financeiras.
“A China reduziu o preço de sua moeda para uma baixa quase histórica. É chamado de “manipulação da moeda”. Você está ouvindo o Federal Reserve? Esta é uma violação importante que enfraquecerá a China ao longo do tempo!”, diz o presidente Trump, no tuíte da manhã desta segunda-feira (5).
A mensagem é uma resposta ao movimento chinês de deixar, nesta segunda-feira, sua moeda, o yuan, no nível mais baixo em uma década–agora um dólar vale mais de sete yuanes–, em uma iniciativa, que pode ser lida, como uma retaliação à nova tarifação, prometida por Trump na quinta, de aplicar 10% de taxas a mais US$ 300 bilhões a produtos importados chineses a partir de setembro.
No tuíte, o presidente dos EUA sugere ao Fed (Federal Reserve) que o movimento da China tende a enfraquecer mais as exportações americanas e que a autoridade precisa baixar os juros, para animar a economia e elevar o comércio exterior. Ainda diz que o país asiático, já impactado pela guerra de tarifas com os EUA e pelo anúncio de nova tarifação, está recorrendo a artifícios ilegais, como a desvalorização artificial da sua moeda, para deixar seus produtos mais baratos, e por isso, mais competitivos no exterior, uma maneira de tentar elevar suas exportações.
O banco central da China nega, no entanto, que tenha desvalorizado a sua moeda para responder a Trump. Em comunicado divulgado, o banco central vinculou a fraqueza do yuan às consequências da guerra comercial, mas disse que isso não mudaria sua política cambial e que flutuações no valor do yuan são normais.
Nas entrelinhas, Trump diz a Jerome Powell, presidente do Fed, que a economia dos EUA não anda nem vai andar assim tão bem, que precisará de estímulos, como mais cortes na taxa básica de juros, para conseguir crescer, e que a guerra comercial entre os dois países tem, sim, de ser levada em consideração na definição da trajetória dos juros.
Na semana passada, Powell, sugeriu, na entrevista que se seguiu à decisão de cortar o juro em 0,25 ponto, que aquele movimento seria pontual, apenas para acertar o andamento do crescimento econômico, e que novos cortes na taxa estariam descartados, o que gerou críticas de Trump.
Alguns analistas viram no anúncio do dia seguinte, de aplicar 10% de taxas a mais US$ 300 bilhões a produtos importados chineses a partir de setembro, não uma decisão comercial, mas monetária: uma forma de obrigar Powell a continuar baixando as taxas. O presidente americano considera o barateamento do crédito como essencial para a retomada do país e do emprego–pautas que trabalha pensando na reeleição em 2020.