O preço elevado dos ativos brasileiros e ruídos em torno da aprovação das reformas econômicas em meio a uma aversão global ao risco com a guerra comercial entre EUA e China e dúvidas sobre o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) são fatores que explicam o pouco interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil, disse Evandro Buccini, diretor de Renda Fixa e Multimercados da Rio Bravo Investimentos, em entrevista por e-mail ao Economia Bárbara.
Segundo Buccini, em reuniões com investidores globais, Argentina e México têm despertado maior atenção, com os estrangeiros vendo chances de ganhos mais elevados nos mercados de capitais locais.
“A oportunidade na Argentina pode ser grande caso Alberto Fernández seja pragmático no campo econômico. Alguns até sonham com uma virada do Macri”, disse o diretor da Rio Bravo, gestora fundada pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco.
Fernández é o candidato da oposição às eleições presidenciais argentinas do próximo domingo (27) e aparece em primeiro nas pesquisas de intenções de voto. Quando Fernández, de esquerda, que tem Cristina Kirchner como sua vice, ganhou as prévias em agosto ao atual presidente, o liberal Mauricio Macri, a Bolsa e o peso despencaram, com medo da volta de políticas populistas.
De acordo com o economista, o México agrada por dois motivos: políticas econômicas do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecido por AMLO, longe do populismo, e juros em patamar mais elevado do que no Brasil.
“Eu diria que parte da explicação (pouco interesse por ativos de risco do Brasil) é devido ao preço. (…) O ganho significativo de curto prazo do Brasil já aconteceu”, disse Buccini.
No mês de outubro, os investidores estrangeiros retiraram R$ 10,673 bilhões da B3. No acumulado do ano, este saldo está negativo em R$ 31,477 bilhões.
Para o diretor da Rio Bravo, o investidor também não esqueceu o “passado difícil” brasileiro nem o “Joesley Day”, dia em que vazou o áudio gravado pelo dono da JBS, Joesley Batista, no qual o então presidente Michel Temer dava aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que estava preso por conta de desdobramentos da Lava Jato.
Nesse 18 de maio de 2017, o Ibovespa, referência da B3, fechou com queda de 8,8%, a mais alta desde a crise de 2008, depois de ter chegar a recuar acima de 10%.
Uma sinalização clara de que a agenda reformista vai continuar depois da aprovação da reforma da Previdência e o prosseguimento das políticas de concessões e privatizações devem ajudar a atrair mais capital para o Brasil, estima Buccini.
Confira abaixo a entrevista completa com Evandro Buccini:
1. Como o investidor estrangeiro está vendo o Brasil?
Em reuniões com investidores globais, pouco tempo é dedicado ao Brasil. Há interesse em entender Argentina, em aprofundar a situação no México, mas o Brasil não atrai muito interesse. Eu diria que parte da explicação é devido ao preço. A oportunidade na Argentina pode ser grande caso Alberto Fernández seja pragmático no campo econômico. Alguns até sonham com uma virada do Macri. No México, se AMLO continuar evitando o populismo econômico, os preços dos ativos de risco por lá podem melhorar. O ganho significativo de curto prazo do Brasil já aconteceu.
2. O que está fazendo o investidor estrangeiro se afastar do Brasil?
Lembrança de um passado difícil, mesmo quando as coisas estavam melhorando com o “Joesley Day”. E como já comentado acima, os preços próximos das máximas em um ambiente global de muitas dúvidas também não contribui, assim como todo o ruído em torno da aprovação das reformas.
3. Ouvi relatos de que em reuniões no exterior, o Brasil é colocado de lado, com o México bem à frente do interesse dos gestores. É isso mesmo?
Em termos de atenção, perguntas até mesmo sobre a Argentina estão à frente. Mas isso não necessariamente significa fluxos maiores para esses países, dado que as incertezas macroeconômicas desses países são maiores do que a do Brasil. Vale ressaltar que a curva de juros mexicana está em um patamar mais alta do que a do Brasil, o que contribui para o interesse adicional dos gestores no México.
4. O que pode melhorar a imagem e trazer mais capital ao país?
A diminuição de incertezas globais como uma trégua mais concreta da guerra comercial e uma resolução do Brexit podem acelerar a atividade global e fazer com que os investidores voltem a ter apetite a risco. Uma sinalização clara de que a agenda reformista continuará após a aprovação da reforma da Previdência também ajudaria a trazer mais capital ao país. Paralelamente, a agenda de concessões e privatizações conduzida pelo governo também ajuda a atrair capital estrangeiro para o país.