Após atingir, em agosto, a maior alta mensal em quatro anos, o dólar pode ter um alívio neste mês de setembro, mas a menor pressão sobre a moeda americana ante o real vai depender, em grande parte, da melhora do cenário externo–, em especial, da postura do presidente dos EUA, Donald Trump–, e do cumprimento do cronograma da reforma da Previdência, segundo estimam economistas.
Em agosto, a divisa dos EUA fechou nos R$ 4,142 e acumulou uma alta de 8,50%, a maior para um mês desde setembro de 2015. Nesse período, a divisa avançou 9,09% depois do Brasil perder a classificação grau de investimento, o chamado selo de bom pagador, pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, e depois pela Moody’s.
O real foi a segunda moeda com maior desvalorização numa cesta de 24 principais divisas do mundo, só perdendo para o peso argentino, que despencou 35,79% no mês passado.
“Acredito que a moeda terá um alívio no próximo mês, já que as questões na Argentina já foram quase totalmente precificadas”, afirmou Alvaro Bandeira, economista-chefe do Banco digital Modalmais.
A crise na Argentina se agravou em agosto, depois do resultado surpresa das eleições prévias que deixou os investidores receosos com a provável eleição da esquerda e com o risco de que o país não honre suas dívidas.
Bandeira também prevê um quadro internacional mais amistoso neste mês em relação às relações entre os EUA e a China. Porém, lembra: “Donald Trump é sempre grande incógnita em sua ciclotimia”. A Europa, diz, também deve ajudar: a política na Itália pacificada traz bons reflexos para a região, que anda preocupada com a desaceleração da Alemanha e esperando decisões do BCE (BC europeu) que estimulem a recuperação da região. Já a situação no Reino Unido, com a possibilidade cada vez maior de sair da União Europeia, no chamado Brexit, sem acordo sobre os termos do “divórcio”, pode adicionar alguma pressão à divisa neste mês.
A crise diplomática com a França devido ao desmatamento e incêndios da Amazônia está razoavelmente superada, mas um possível boicote mais sério aos produtos brasileiros, já sinalizado por algumas multinacionais, pode afastar investidores do país e segurar uma queda da moeda.
A previsão é que a melhora externa traga de volta investidores ao Brasil. No mês passado, investidores estrangeiros tiraram cerca de R$ 12 bilhões do país. Em setembro, com o fim das férias de verão no hemisfério norte, o fluxo de entrada de capital estrangeiro tende a aumentar.
Fed: corte das taxas será boa notícia
O Fed (banco central dos EUA) também pode dar uma boa notícia ao mercado. No dia 18 de setembro, a autoridade pode promover o segundo corte na sua taxa básica de juros–o presidente da instituição, Jerome Powell, já sinalizou que isso pode acontecer–, o que tenderia a atrair mais capital para economias, como a brasileira, que mesmo sendo mais arriscadas, pagam juros mais altos.
Nesse 18 de setembro, o nosso Banco Central (BC) também decide o rumo dos juros no Brasil, que estão em 6% ao ano, depois do corte de 0,50 ponto percentual em 31 de julho, quando a taxa básica, a Selic, estava em 6,50%.
Com a disparada do dólar e um crescimento maior do esperado para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) do Brasil no segundo trimestre–alta de 0,4%–, há a expectativa que o BC contabilize esses novos fatos e a Selic caia menos do que os 0,50 ponto percentual esperados.
Um corte menor nos juros brasileiros, à medida que os EUA reduzem suas taxas, pode contribuir para dar uma amenizada na alta do dólar em setembro.
Neste mês, o BC dará sequência aos leilões de dólar que fez em agosto, quando a autoridade monetária retomou a venda direta de dólares no mercado à vista pela primeira vez em 11 anos. Essas operações visam dar liquidez ao mercado, e dessa forma, conter uma alta mais acentuada no dólar.
Velocidade da reforma da Previdência no radar
Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, defende uma postura cautelosa em setembro, embora preveja um quadro externo mais benigno para o mês. Para ele, na cena doméstica, as atenções vão estar voltadas para a tramitação da reforma da Previdência no Senado. Um eventual atraso no cronograma pode pressionar o dólar.
“O cenário externo está melhorando, mas Trump é Trump. O Macri vai perder as eleições e a Argentina tem um passado horrível pela frente. Recomendo prudência para setembro. No Brasil, tudo o que importa é a velocidade da aprovação da reforma da Previdência. Nada mais importa”, disse Spyer.
Nesta segunda-feira (2), os mercados devem abrir mais calmos, em função do feriado do Dia do Trabalho nos EUA.