O ânimo com a fala do presidente do Fed (Banco Central dos EUA), Jerome Powell, durou pouco, e o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, passou a cair já perto do fechamento do pregão, com a notícia de que os EUA estão negando vistos a autoridades chinesas, que alegadamente estariam ligadas a abusos contra muçulmanos em Xinjiang. A informação faz cair as esperanças de um acordo comercial entre EUA e China, na semana em que as negociações serão retomadas.
No fechamento, o Ibovespa caiu 0,59% para 99.981 pontos, depois de alcançado 101.296 pontos. Já o dólar diminuiu a queda e fechou com recuo de 0,31% para R$ 4,092. No melhor momento do dia, a moeda americana chegou a cair a R$ 4,075.
Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram as ações da Cosan (CSAN3), com avanço de 2,19%, do BTG Pactual (BPAC11), alta de 1,97% e da Qualicorp (QUAL3), de 1,68%. Em baixa, os papéis da CSN (CSNA3), que fecharam com queda de 4,31%, Kroton (KROT3), recuo de 3,70%, e Marfrig (MRFG3), -3,12%.
O comunicado do secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, de que o governo Trump está proibindo vistos aos líderes do governo e funcionários do Partido Comunista, alegadamente ligados à detenção em massa de muçulmanos na província de Xinjiang, derrubou as expectativas do mercado de que a semana poderia terminar com anúncio de uma trégua da guerra comercial entre as duas potências, que vem penalizando o crescimento das economias e das empresas. As negociações serão retomadas nesta quinta-feira (10).
“O governo chinês instituiu uma campanha altamente repressiva contra uigures, cazaques étnicos, quirguizes e outros membros de grupos minoritários muçulmanos”, afirmou Pompeo, em comunicado nesta terça-feira. “Os EUA pedem à República Popular da China que encerre imediatamente sua campanha de repressão em Xinjiang”, acrescenta a nota.
A negação dos vistos foi feita em coordenação com um anúncio do Departamento de Comércio na segunda-feira (7), que restringiu as empresas de exportar produtos fabricados nos EUA para mais 28 empresas e organizações chinesas, das quais 8 são gigantes tecnológicas, também por estarem envolvidas em violações dos direitos humanos contra minorias muçulmanas.
O anúncio do Departamento do Comércio já havia trazido apreensão ao mercado ainda mais depois da China sinalizar que poderia contra-atacar. Em relação à nova iniciativa, o governo chinês ainda não se pronunciou.
“Fiquem atentos”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, pela manhã. “A China continuará a tomar medidas firmes e vigorosas para proteger resolutamente a soberania nacional, os interesses de segurança e desenvolvimento”, acrescentou.
Ainda durante a manhã, foi divulgada uma notícia de que a Casa Branca também estudava limitar investimentos de fundos de pensão do governo na China, que também pesou.
Inflação americana e Powell
Mas o dia teve alguns momentos positivos, um dos logo após a divulgação dos dados da inflação dos EUA, que teve uma queda inesperada em setembro. O índice de preços ao produtor (PPI) dos EUA recuou 0,3% no mês, contra alta esperada de 1%. Com menor pressão da inflação, o Fed (Banco Central dos EUA) está livre para cortar os juros e ajudar na retomada do crescimento americano, que vem sofrendo com a guerra comercial entre o país e a China.
Corte nos juros americanos tornam os títulos do Tesouro americano menos rentáveis, e forçam o investidor a buscar ativos e mercados mais arriscados, como o Brasil e a Bolsa de Valores.
A fala do Powell, pelas 15h30, veio reforçar a expectativa de redução dos juros por lá no encontro do dia 30 deste mês, e também animou. Segundo o presidente do BC dos EUA: “O Fed agirá apropriadamente para manter expansão econômica dos EUA”. Também aproveitou para dizer que vê a inflação nos EUA voltando a níveis normais.
Além dos juros menores nos EUA, o dólar caiu também porque o mercado antecipou o aumento esperado de fluxo com os IPOs (Oferta Públicas Iniciais), operações que marcam a entrada de novas empresas na Bolsa. A Vivara vai listar suas ações no país já nesta quinta (10). Banco BMG e a rede varejista C&A são esperados para o dia 28. As operações devem atrair novos investidores ao país.
Previdência: acordo para destravar votação
O mercado ignorou ou não tomou conhecimento da informação que saiu, já perto do fechamento, de que houve acordo para destravar a aprovação da reforma da Previdência em segundo turno. Preocupações com o avanço da reforma vinham derrubando a Bolsa e puxando o dólar.
O líder do governo no Senado, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), anunciou que chegou a acordo com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para votar um projeto de lei com a divisão dos recursos da chamada cessão onerosa, o leilão de petróleo excedente do petróleo do pré-sal, que vai acontecer em 6 de novembro.
A definição da divisão dos recursos, estimados em R$ 106 bilhões, estava dividindo senadores e deputados, pois havia articulação na Câmara para reduzir a parcela acordada de 15% dos Estados na divisão, aumentando a dos municípios, também acertada em 15%. O PL vem atender aos pedidos dos Estados e dos governadores do Sul/Sudeste, que estavam saindo penalizados com os critérios da divisão, que beneficiaria aqueles com menor renda per capita.
O texto ainda será apresentado aos ministros Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil), para então poder ser votado já nesta quarta-feira (9) pela Câmara e na terça-feira da próxima semana pelo Senado. Com isso, a votação do segundo turno da reforma da Previdência no Senado ficará para o dia 22.
*Com agências