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Programa de saques do FGTS foi ‘perda de tempo’, diz Sérgio Vale

Economista-chefe da MB Associados entende que o foco da equipe econômica deveriam ser as reformas, como a tributária

Bárbara Leite

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Sérgio Vale acredita que o valor baixo permitido para saque deve desestimular uma ida às agências-Foto: Reprodução

O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, classificou a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), anunciada na última quarta-feira (24), como uma “perda de tempo” do governo.

“Acho que o governo perde um tempo precioso num projeto de curto prazo, ao invés de gastar energia com a reforma tributária e outras de longo prazo necessárias”, disse o economista-chefe.

Ele engrossa o coro dos que preveem impacto marginal no crescimento da economia, com os saques permitidos no fundo. “O impacto será relativamente pequeno, próximo de 0,1 ponto percentual de crescimento”, estimou.

Tanto o governo como a média do mercado estimavam, antes do anúncio, que o país cresceria na faixa de 0,8%. Por isso, um impacto de 0,1 ponto, levaria a economia a avançar no máximo 0,9%.

Para Vale, apenas uma parcela dos R$ 30 bilhões com liberação prevista até o fim do ano deve se transformar em consumo. A fatia maior deve servir para pagamento de dívidas, o que poderia no máximo melhorar a capacidade de tomada de crédito das famílias.

Ele diz que a limitação dos saques a R$ 500 por conta neste ano deve até desestimular o cotista a ir a uma agência da Caixa. “Como o limite é baixo, talvez para muitas pessoas vai acabar acontecendo desse valor não ser resgatado”, apontou.

Outros economistas projetam um efeito reduzido na recuperação econômica. André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, também estima um impacto de 0,10 ponto no crescimento da economia, enquanto Vitor Velho, economista da LCA Consultores, prevê alta de 0,15 ponto, caso o governo liberasse R$ 46 bilhões nos seis meses a partir de setembro.

O governo, por seu lado, prevê um aumento de 0,35 ponto percentual no PIB com a iniciativa e justifica que a limitação a R$ 500 serve para não complicar o financiamento de casas populares–o setor da construção civil usa recursos do FGTS para o Minha Casa Minha Vida.

Diz que os R$ 500 atendem a maioria dos cotistas, já 81% das contas de 54,7 milhões de trabalhadores têm menos do que esse valor depositado. O montante, segundo a equipe econômica, poderia levar 23 milhões a deixar a lista de negativados.

O Congresso já sinalizou que pode elevar esse valor. “A equipe econômica do presidente Bolsonaro está tímida em relação ao saque do FGTS. Não vai resolver nada. É um grão de areia num oceano. Tinha que seguir o exemplo da equipe comandada por Henrique Meirelles [ministro da Fazenda do governo Michel Temer]”, disse, nesta semana, o líder do Podemos, o deputado José Nelto (GO), que defende uma liberação de, no mínimo, R$ 1.000.

‘FGTS de Temer’: apenas um terço do valor virou consumo

O valor total a ser liberado– R$ 30 bilhões (R$$ 28 bilhões do FGTS e R$ 2 bilhões do PIS/Pasep) em 2019 e R$ 12 bilhões em 2020, num impacto total de R$ 42 bilhões– é similar ao do governo Temer ( R$ 44,3 bilhões), mas o impacto no crescimento econômico deve ser menor pois será mais diluído ao longo do tempo. Além disso, como o valor liberado é baixo, há o risco de que muitas pessoas nem irão sacar.

Estimativas feitas com base em pesquisas qualitativas do Ibre/FGV em 2017 e um mapeamento feito pelo Banco Central no início de 2018, apontam que, em 2017, quando foram liberados os saques das contas inativas por Temer, apenas um terço deste valor virou consumo e o impacto no PIB foi de 0,2 ponto percentual.

*Com agências

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