O dólar voltou a escalar de patamar nesta terça-feira (26), chegando a bater os R$ 4,26, maior patamar intradiário, com os investidores reagindo às declarações do ministro da Economia, Paulo, Guedes, sobre o câmbio e a AI-5.
Pelas 10h35, a moeda americana era negociada em R$ 4,266, com alta de 1,20%. Na véspera, a divisa já havia encerrado no maior valor nominal da história: R$ 4,215.
Na noite desta segunda-feira (25), o ministro disse não estar preocupado com o dólar em níveis recorde e sugeriu que a moeda deve continuar nesses patamares por “um bom tempo”.
“O dólar está alto. Qual o problema? Zero. Nem inflação ele (dólar alto) está causando. (…). É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo”, disse ele em entrevista na embaixada brasileira em Washington, capital americana, onde participou do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA.
Segundo o ministro, o dólar em patamares mais elevados é reflexo do ajuste fiscal que o governo está fazendo, combinado com taxas de juros mais baixas. “Quando você tem um fiscal mais forte e um juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio também ele é mais alto”, afirmou.
“Se entrar mais investimento, o câmbio (real) vai apreciar”, disse.
Além disso, o ministro também condenou os discursos do ex-presidente Lula da Silva, que falou em polarizar o país ao deixar a prisão. Guedes classificou Lula como “irresponsável” e vê o petista chamando “todo mundo para quebrar a rua”. Na coletiva, o ministro disse a jornalistas que “não se assustem se alguém pedir o AI-5” diante desse cenário.
Ao mencionar o Ato Institucional Nº5, instrumento da ditadura militar editado em 1968 que fechou o Congresso e cassou as liberdades individuais, Guedes faz referência à afirmação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente Jair Bolsonaro. No fim do mês passado, Eduardo afirmou que poderia haver a necessidade de reeditar o AI-5 caso a esquerda radicalizasse.
A fala assustou o mercado. “Não gostei da entrevista. Estou preocupado”, disse um analista de mercado, que preferiu não ser identificado.
Para outro, o ministro “acabou exagerando na dose (…) ao remoer a infeliz declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o AI-5”.
Bolsonaro torce para o dólar cair
Nesta terça-feira (26), ao deixar o Palácio da Alvorada, ao comentar as declarações de Guedes sobre o câmbio, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que vê “prós e contra” no fato do dólar ter atingido R$ 4,215 na véspera, mas que, ao mesmo tempo, torce para uma queda na cotação.
“Vi e ouvi. Se ele falou, está falado. Espero que caia, torço, assim como torço que caia a taxa Selic. Torço que aumente nossa credibilidade junto ao mundo. Agora, a economia, como eu disse, eu sou o técnico de futebol, quem entra em campo são os 22 ministros. O Paulo Guedes está jogando na economia. Se você for analisar na ponta da linha, tem vantagens pró e contra no dólar a R$ 4,21, como está agora”, disse Bolsonaro.
Com o dólar mais caro as exportações brasileiras ficam mais baratas, beneficiando as indústrias exportadoras. Por outro lado, a moeda em alta encarece produtos e insumos importados, o que pode elevar os preços e a inflação no país.
*Com Reuters