Os bancos centrais do Brasil e dos EUA devem reduzir, pela terceira vez consecutiva, a taxa básica de juros de seus países, nesta quarta-feira (30). A expectativa é que a taxa caia em intensidade maior por aqui, e essa possibilidade pode gerar um “repique” do dólar ante o real.
Se as projeções majoritárias se confirmarem, os brasileiros vão conviver com a menor taxa de juros desde que o Comitê de Política Monetária (Copom) foi criado, em 1996. Hoje, ela já está no piso histórico, a 5,50% ao ano. A maioria (90%) prevê um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros brasileira, a Selic, para 5% ao ano. Mas há uma minoria (10%) que aposta num corte mais agressivo, de 0,75 ponto na reunião desta quarta, para 4,75% ao ano.
Se a redução for de meio ponto será a terceira nesta magnitude seguida–a primeira em julho (de 6,50% para 6%), a segunda em setembro (6% para 5,50%) e a de outubro (5,50% para 5%).
A minoria acredita numa redução mais intensa, uma vez que a taxa de inflação está mais baixa do que o previsto e um dos entraves aos cortes maiores, devido ao impacto que poderia ter no câmbio, foi eliminado: a reforma da Previdência foi aprovada, como o mercado aguardava há anos. Com as mudanças previdenciárias, o país deve economizar, ao menos, R$ 800 bilhões, em dez anos, ajudando a equilibrar as contas públicas, podendo levar a melhoras nas notas de risco do Brasil, o que atrairá mais investimento ao país.
Além disso, o mercado já viu, que apesar do dólar ter disparado a R$ 4,20 (há um ano estava na faixa de R$ 3,75), a inflação não sofreu impacto. Em setembro, o IPCA, a chamada inflação oficial, ficou negativa em 0,04%, o nível mais baixo para o mês em 21 anos. A prévia (IPCA-15) de outubro, que variou 0,09%, continuou mostrando fraqueza, por ter ficado abaixo do esperado (0,04%).
Mas essa queda do índice de preços pode não ser um bom sinal: demanda baixa está levando a reduções nos preços. Essa procura enfraquecida pode atrapalhar o crescimento do país. Daí que faça sentido, o BC cortar mais os juros para baratear o crédito para consumo e investimentos, e assim, ajudar na recuperação ainda lenta da economia brasileira.
Nos EUA, mais do que o fraco crescimento doméstico, é a desaceleração global, em meio à guerra comercial entre EUA e China, e a inflação controlada, que deve levar a um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa, que está, atualmente, entre 1,75% a 2% ao ano.
Desde o último encontro, o cenário mundial melhorou– os EUA e a China fecharam as bases para a primeira fase de um acordo geral para pôr fim à guerra comercial, iniciada há 18 meses, e ficou descartada uma saída brusca (sem acordo) do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit–mas os indicadores de atividade econômica e emprego mostram uma economia americana ainda debilitada, o que justificaria o corte esperado para esta quarta.
Dúvida: tamanho no corte no Brasil em dezembro e parada do ciclo nos EUA
Embora os cortes desta quarta já sejam consenso, o tamanho corte no Brasil no encontro de 11 de dezembro, o último do ano, e se o Fed vai parar ou não o ciclo de reduções nesse mesmo dia ainda são dúvida.
O Boletim Focus, que reúne as estimativas de cerca de cem analistas do mercado financeiro, prevê mais um corte de 0,50 ponto na Selic; mas há, de novo, quem preveja cortes mais fortes, de 0,75 ponto, e quem aposte em menores, de 0,25 ponto.
Para os EUA, a questão é outra: o Fed vai parar ou não o ciclo. O mercado está precificando cerca de 40% de chance de outro corte nos próximos cinco meses. Mas a maioria acredita que a autoridade faça uma pausa e espere novos dados para prosseguir com as reduções. David Woo, do BofA (Bank of America Merrill Lynch), alertou, no início desta semana, que “nos últimos 30 anos, o Fed nunca cortou mais do que 75 pontos base seguidos sem que a economia americana estivesse em recessão”.
Essa decisão é importante para o Brasil, já que são essas reduções mais lentas ou até a possível parada que estão impedindo ou vão impedir que o real deslanche, mantendo o dólar em alta.
Queda da Selic: efeito no crédito ao consumidor não é imediato
A redução dos juros no Brasil, porém, não tem tido efeito imediato na economia nem no barateamento do crédito ao consumidor. Existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores que, na média da pessoa física, atingem 116,29% ao ano. A Selic está em 5,50%.
Esse atraso pode justificar a retomada gradual da economia brasileira, apesar dos cortes na Selic desde julho.