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Ainda em dúvida se vai comprar ações no IPO da Vivara? Veja razões a favor e contra

Prazo para participar da oferta da rede de joalherias termina nesta segunda-feira: veja por que você deve reservar os papéis e os motivos para ficar longe da operação

Bárbara Leite

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A modelo internacional Gisele Bündchen é a garota-propaganda da Vivara; para mercado, ela dá reconhecimento à marca–Foto: Reprodução

Acaba nesta segunda-feira (7) o prazo para reservar ações da rede de joalherias Vivara, que está indo para a Bolsa brasileira, a B3, pela primeira vez. O IPO (Oferta Pública Inicial), como se chama a operação para ela listar suas ações em Bolsa, será o terceiro neste ano na B3–depois da Neoenergia e da Centauro– e tem atraído muita atenção do pequeno investidor e de traders, que ainda têm dúvidas se vale a pena participar da oferta.  As ações ordinárias começarão a ser negociadas na próxima quinta-feira (10), sob o código VIVA3.

O preço por ação estará situado na faixa indicativa entre R$ 21,17 e R$ 25,40, podendo, porém, ser fixado acima ou abaixo da faixa.

No varejo, o mínimo para se investir na oferta é de R$ 3 mil e é preciso ter conta em uma corretora.

Confira abaixo os argumentos de especialistas a favor e contra comprar ações da Vivara na sua oferta inicial.

Por que devo reservar ações da Vivara no IPO…

Liderança do mercado e poder da marca

A Vivara é líder do setor de joias finas, com 234 estabelecimentos–185 lojas, 47 quiosques e duas lojas da Vivara Life, unidade voltada para o público jovem–, espalhados pelas 5 regiões do país, a maioria em shoppings.

A empresa tem cerca de 10% do mercado de joalherias, que é bastante pulverizado e pouco profissional, com várias companhias que têm apenas operações regionais. Para efeito de comparação, outra rede de joias, que também aposta no crescimento em shoppings, a Monte Carlo, tem apenas 40 lojas no país.

Além de joias, vende acessórios, como relógios e fragrâncias, e tem uma marca reconhecida. “Com Gisele Bündchen e Marina Ruy Barbosa do lado da empresa, quando se pensa em joias finas no Brasil, pensa-se em Vivara”, segundo relatório da Levante Ideias de Investimento.

Operação verticalizada e margens altas

Outra vantagem seria o fato de ter uma operação verticalizada, o que permite um maior controle sobre custos e flexibilização da oferta.

A Vivara compra o ouro e a prata no exterior, desenha as peças, produz na Zona Franca de Manaus, e vende em suas 234 lojas próprias no Brasil. “O negócio de Vivara é o mais simples do mundo: compra ouro a 1x e vende ouro, trabalhado, a 5x”, segundo Bruce Barbosa, da Nord Research, que recomenda a compra da ação com cautela.

Em momentos em que o ouro fica mais caro, eles podem reduzir um pouco a percentagem de ouro nas joias, por exemplo, ou mudar o mix.

A operação também desobriga a liquidar estoques (as coleções não saem de moda) e tem margens altas. A margem bruta foi de 71% no ano passado, enquanto a margem do lucro antes de juros impostos, depreciação e amortização (Ebitda, indicador do desempenho operacional da empresa) atingiu 23% no ano passado.

Também joga a favor o baixo nível de endividamento da empresa.

Em Manaus, produzem 80% dos produtos e importam, principalmente da China, os restantes 20%.

Potencial de crescimento e nova marca para a classe C

Para analistas, a empresa tem um grande potencial de crescimento, devido à sua reduzida participação no mercado e às perspectivas de aumento da demanda, em meio às queda dos juros e do desemprego no Brasil.

Também veem um mercado promissor no exterior, principalmente na Ásia, que a empresa ainda não explora, podendo seguindo os passos da Hering, por exemplo.

O mix de produtos, que podem custar de R$ 150 a R$ 100 mil, é vista como uma vantagem, porque a empresa pode se beneficiar de vender para as classes mais altas, menos vulneráveis a crises, e aproveitar a esperada retomada do consumo da classe C.

A empresa anunciou inclusive que vai lançar uma nova marca voltada para a classe média, para tentar aproveitar esse potencial de consumo esperado nos próximos anos.

Em 2011, a companhia lançou a linha Life by Vivara, de artigos de prata e preço mais baixo, que compete com a Pandora, e já responde por 32% das vendas.

O mercado de joias finas estaria reprimido no Brasil. Em 2018, o segmento movimentou R$ 12,6 bilhões, dos quais R$ 10,9 bilhões são referentes ao mercado de joias finas (86,2%), apresentando crescimento de 3% em 2018 quando comparado ao ano de 2017.

Nos EUA, o mercado de joias finas, por exemplo, em 2018, representou US$ 58,8 bilhões, ou seja, aproximadamente 20 vezes o mercado no Brasil. “Nesse sentido, destaca-se o potencial do mercado de joias finas brasileiro, uma vez que este mercado ainda está ‘subpenetrado’ em relação à economia”, segundo a Levante.

Marina Ruy Barbosa é a garota-propaganda da Vivara Life, voltada para o público mais jovem–Foto:Divulgação

…Por que devo ficar longe do IPO da Vivara

Prospecto perfeito demais

Para o analista CNPI, da Condor, Carlos Herrera, lendo apenas o prospecto (com o histórico financeiro da empresa, perspectivas de crescimento e detalhes da oferta de ações) parece que a “venda das ações da Vivara é a oportunidade da sua vida. Faz você até pensar em vender sua casa para entrar no IPO. É como se a minha mãe tivesse feito um prospecto sobre mim”, diz.

Ele questiona alguns indicadores da empresa no prospecto e alerta para que o investidor não tome sua decisão apenas lendo o documento. Segundo ele, os bancos que coordenam a operação, que neste caso, são Itaú BBA, Bank of America Merrill Lynch, XP e JP Morgan, têm um motivo bastante grande para ressaltar as qualidades da empresa: vão receber entre R$ 95 milhões e R$ 110 milhões com esta oferta.

Segundo Aline Cardoso, da Trafalgar Asset, as empresas sempre destacam os pontos positivos no prospecto, por isso, antes de decidir comprar–há uma semana, ainda estava com dúvidas sobre o IPO da Vivara– ela tenta conversar com executivos da empresa, como o diretor de marketing, não apenas com o board (administração).

Ação muito cara

Outra razão para ficar fora da oferta seria o fato das ações estarem caras. O preço final só conhecido na terça, mas os bancos definiram um intervalo, e dependendo da demanda–no mercado circula que a procura está 5 vezes a oferta–, ele fica mais perto do limite mínimo ou máximo, mas pode ficar fora dessa faixa.

Neste caso, no ponto médio, se a ação ficar nos R$ 23,29, a Vivara teria um valor de mercado de R$ 5,5 bilhões, o equivalente a 22-24 vezes o lucro previsto para 2020. No topo, sairia avaliada em R$ 5,99 bilhões, com múltiplo mais próximo de 25 vezes. A Renner, considerada um dos nomes de maior qualidade do varejo, negocia a 27 vezes.

“Vivara é barata se crescer. Vivara é cara se não crescer”, alerta Barbosa. Mas, mesmo assim, o analista acha que vale correr o risco, com cautela.

Acionista majoritário vende metade da sua posição

A  companhia vai oferecer 70,85 milhões de ações ordinárias. Desse total, 26% serão papéis novos, destinados a financiar a operação da empresa e seus investimentos– na chamada oferta primária–, e 74% são papéis que pertencem à família Kaufman, fundadora da companhia–a chamada oferta secundária.

Para o professor de finanças do Ibmec São Paulo,  Giácomo Diniz, o fato da oferta secundária ser maior do que a primária, ou seja, o dinheiro levantado em Bolsa será mais para o bolso dos atuais acionistas do que para ser usado no crescimento da empresa, não é um bom sinal. Dos cerca de R$ 1,6 bilhão que a empresa quer conseguir com a oferta, R$ 1,2 bilhão vão para seus acionistas e apenas cerca de R$ 400 milhões para o crescimento da empresa.

O maior vendedor é Nelson Kaufman, cuja participação pode cair de 48% para até 22%, a depender da demanda. O CEO (presidente executivo) Marcio Kaufman, filho de Nelson, e sua irmã Mariana, que é diretora de marketing, também são vendedores: o primeiro vai sair de 28% para 21% e a segunda, de 18% para 14%.

Diniz questiona: “Será que o controlador acredita realmente na empresa?”.

Também a empresa já ter tentado antes, sem sucesso, levantar dinheiro na Bolsa, preocupa.

Mercado vai aquecer? Abertura de novas lojas será um sucesso?

Do valor destinado à empresa, cerca de R$ 407 milhões, 65% irão para abertura de lojas, 15% para expansão da fábrica, 12,5% para lançamento de marcas e 7,5% para inovação e tecnologia. 

A empresa quer dobrar o número de lojas, abrindo mais 200. Também há a possibilidade de ter uma nova fábrica em Manaus.

Para Herrera, os R$ 400 milhões são um valor baixo para atender aos planos de crescimento da empresa.

Também se colocam as questões: será que a demanda brasileira vai mesmo aquecer e a abertura das novas lojas será um sucesso? A classe média e a classe alta brasileiras vão comprar mais joias finas? Para o analista da Condor, a insegurança no Brasil é um limitador do mercado de luxo. A alta desigualdade de renda no país, como uma baixa classe média, também pode travar os planos de crescimento do país.

Disparada do ouro e comércio online

Outros riscos são o impacto da disparada do ouro e da prata nas margens e do dólar alto, já que 20% dos produtos são importados.

A operação no online da empresa agrada aos analistas em geral: o site conta com mais de 2,4 milhões de visitantes únicos por mês e, respondeu por 8% da receita líquida no primeiro semestre de 2019, próximo das operações de outras redes do exterior. Mas Herrera vê limitação de crescimento nas vendas online por questões de logística devido aos altos índices de roubo no Brasil.

Também há risco da empresa ganhar outros competidores online.

‘Flipar’? Tem prioridade na oferta quem optar por não mexer nas ações por 45 dias

Quem pensou em entrar no IPO apenas para “flipar” as ações, ou seja, para vender nas primeiras horas ou dias de negociação, talvez não consiga. Isto porque a empresa vai dar prioridade na oferta a quem optar pelo chamado “lock-up”, ficar com os papéis sem poder vendê-los durante um período, que, para os pequenos investidores (ofertas de R$ 3 mil a R$ 1 milhão) será de 45 dias, e para os investidores qualificados, de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões, de 120 dias. Para os pequenos, o prazo até poder vender é 23 de novembro, para os institucionais, 6 de fevereiro de 2020.

Ou seja, para quem pensou em ganhar dinheiro com a especulação, participar deste IPO pode não ser uma boa opção. Existe sim a possibilidade de não aceitar o “lock-up”, mas a empresa vai dar prioridade na oferta a quem permanecer com os títulos em carteira durante aquele período.

*Com Investing e Brazil Journal

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