(Publicado às 11h13; atualizado às 20h10)
O pregão desta quarta-feira (28) seguiu nervoso. Em uma hora de negociação, o dólar virou duas vezes em meio às incertezas em torno do agravamento da guerra comercial entre EUA e China, cenário político conturbado, mudanças da reforma da Previdência no Senado que podem pôr em causa a economia prevista com a proposta e atuação mais forte do Banco Central (BC) para segurar a alta da moeda americana.
Pelas 10h50, a moeda dos EUA era negociada a R$ 4,153, com queda de 0,13%, depois de ter recuado a R$ 4,142 na abertura e avançado para R$ 4,165 logo depois. No fechamento, o dólar ficou praticamente estável, com alta leve de 0,01%, a R$ 4,157, ainda no maior patamar desde 18 de setembro do ano passado. Foi a quinta valorização consecutiva.
Em agosto, a moeda acumula a segunda pior desvalorização entre 24 moedas, só perdendo para o peso argentino, segundo Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
O aumento da aversão ao risco global, diante da proximidade de nova escalada de tarifas comerciais entre EUA e China, que pode enfraquecer ainda mais as economias mundiais, esteve novamente no radar dos investidores.
No pregão desta quarta, os temores de uma recessão global continuam afetando o humor do mercado, que vem penalizando mais o Brasil devido à sua condição de país emergente e à crise diplomática criada com a França pelos incêndios na Amazônia, que pode pôr em causa o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
A crise da Argentina, que tem levado a uma maior busca de dólares no Brasil pelos vizinhos também ajuda a pressionar a divisa.
As atenções também se voltaram para o cenário político local, após a divulgação, nesta semana, da queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e da denúncia de corrupção envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal articulador das reformas do governo no Congresso.
Mudanças na reforma da Previdência, que começou nesta quarta a tramitar no Senado, também preocuparam, já que o relator Tasso Jereissati (PSDB-CE), propôs, na véspera, algumas alterações ao projeto já aprovado na Câmara dos Deputados.
Entre as novidades estão a redução do tempo mínimo de contribuição de 20 para 15 anos para todos os homens, estando no mercado de trabalho ou não, a garantia de um salário mínimo para quem recebe pensão por morte e fim das novas regras para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que podem desidratar a reforma em quase R$ 100 bilhões.
Para compensar essas perdas, o senador propôs, no entanto, novas fontes de receitas, como a tributação de entidades filantrópicas, o fim de isenção aos agroexportador e mudanças no Simples, que dariam um ganho extra de R$ 155 bilhões. No final, diz, a economia com a nova proposta, que vai incluir Estados e municípios em uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) paralela subirá dos atuais R$ 933,5 bilhões em dez anos para R$ 1,35 trilhão.
O mercado vê na reforma da Previdência uma forma de desafogar as contas públicas, estimular investimentos, atrair capital ao país e aumentar o crescimento da economia brasileira.
BC atua mais forte para segurar a alta
Nesta sessão, o Banco Central (BC) continuou atuando mais fortemente para amenizar a alta da moeda, que, na véspera, chegou a ser negociada no maior patamar da história, a R$, 4,196. A autoridade não conseguiu forçar uma baixa da divisa, mas vem atenuando a alta da moeda.
Nesta terça (27), a autoridade quebrou um tabu e usou as reservas a “seco” (vendeu dólares à vista sem associar uma operação para recomprá-los lá na frente) para estancar a disparada da moeda. Nesta quarta, além dos valores que já havia acertado, o órgão vai despejar mais dólares para garantir liquidez ao mercado e ajudar a conter a alta.