A cautela voltou a tomar conta do mercado financeiro nesta terça-feira (30), véspera das decisões sobre o rumo dos juros básicos americanos e brasileiros, que podem impactar no humor das cotações da Bolsa e do dólar para o resto do ano. O Brasil acompanhou o exterior, e o dólar fechou na maior cotação em três semanas, enquanto o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, terminou abaixo dos 103 mil pontos.
A moeda dos EUA ficou perto dos R$ 3,80, ao fechar cotada nos R$ 3,791, com alta de 0,19%, no patamar elevado desde 8 de julho. Já o Ibovespa caiu 0,53% para 102.932 pontos.
O humor azedou por aqui e lá fora após críticas do presidente americano, Donald Trump, à China no mesmo dia em que a delegação americana chegou em Shanghai para retomar negociações comerciais. A fala piorou as expectativas em torno da mais nova rodada de conversas entre as duas maiores economias globais.
Segundo Trump, os chineses não têm cumprido suas promessas, a mais nova sendo a compra de produtos agrícolas americanos, e continuam “tirando vantagem” dos EUA.
Há receio de que um aprofundamento da guerra de tarifas entre as duas potências abale o crescimento dessas economias e do resto do globo, que dependem das importações delas para crescer. Com isso, empresas exportadoras poderiam faturar e empregar menos.
Itaú arrasta bancos e a Bolsa
No Brasil, a queda da Bolsa também derivou dos recuos das ações do setor bancário, após o resultado abaixo do esperado do Itaú Unibanco pesar sobre o desempenho do índice.
Segundo relatório da Guide Investimentos, a divulgação dos resultados trimestrais do Itaú trouxe maior aversão ao risco com os grandes bancos do setor em virtude de um cenário mais competitivo. O balanço do Itaú mostra que o banco sentiu a entrada de fintechs ( empresas que desenvolvem produtos financeiros completamente digitais).
O maior banco privado do país registrou uma queda dos spreads (diferença entre o que o banco paga para pegar dinheiro e o que ele cobra para emprestar) e teve um menor crescimento da sua carteira de crédito. A desilusão com o balanço fez as ações do Itaú fecharem com queda de 3,32%, as do Bradesco com recuo de 2,07%, Banco do Brasil (-1,01%) e Santander (-3,71%).
Super-quarta no radar
A cautela comum na véspera de decisões sobre trajetória das taxas básicas de juros ganhou uma pressão adicional nesta terça (30), porque é esperado que o Fed, banco central dos EUA, promova o primeiro corte de juros em mais de um década, desde a crise financeira de 2008. A redução seria uma forma de estimular o crescimento da economia americana e a criação de empregos, já que o crédito mais barato tende a puxar consumo e investimento.
O foco do mercado está no comunicado que será divulgado com a decisão do Fed, às 15h, que deve trazer as sinalizações da autoridade para o rumo futuro dos juros.
Esses acontecimentos nos EUA são importantes para o Brasil, uma vez que cortes maiores dos juros por lá tendem a atrair mais capital para o mercado brasileiro e para o mercado acionário em geral. Com uma queda das taxas no exterior, os investidores estão dispostos a colocar seu dinheiro em países e ativos considerados “mais arriscados”, em busca de aplicações que paguem um retorno mais elevado. Para investir no Brasil, os estrangeiros precisam trocar dólares por reais, movimento que puxa a valorização do real e derruba a da moeda americana.
Além do Fed, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) também vai informar, depois das 18h, a trajetória da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, que também deve cair após dez reuniões de estabilidade em 6,50%. O tamanho do corte não é consenso: apostas variam entre 0,25 ponto (para 6,25%) e 0,50 ponto (para 6%).
Cortes nas taxas diminuem a atratividade de investimentos mais conservadores, como fundos de renda fixa e poupança, podendo elevar a migração para ativos mais arriscados, como, ações da Bolsa.