Nesta sexta-feira 13, nem houve pânico pelos mercados, mas o real voltou a assombrar o humor e terminou a semana na liderança das moedas de países emergentes que mais perderam valor em relação ao dólar.
De acordo com uma cesta composta pelas 24 principais divisas de nações emergentes, o real, junto com a lira turca, foram as únicas moedas que tiveram desvalorização nesta sexta, com a brasileira somando queda de 0,64%, segundo dados da agência Bloomberg.
Na semana, o mesmo cenário “assombroso”: a moeda nacional também foi a que mais perdeu valor ante o dólar, mas vice-liderança semanal ficou com o peso da Argentina, que vive um momento de crise econômica e política.
No fechamento, o dólar ante o real subiu 0,88% nesta sexta, interrompendo uma sequência de três quedas consecutivas, encerrando nos R$ 4,088. No melhor momento do pregão, chegou a cair a R$ 4,04. Na semana, a alta acumulada foi de 0,16%. Ou seja, a valorização desta sexta anulou as quedas acumuladas nos últimos dias.
De acordo com Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, são três os motivos que explicam o desempenho ruim da moeda brasileira: “Velocidade da reforma (da Previdência), velocidade da reforma e velocidade da reforma”.
Nesta semana, o andamento da reforma da Previdência e polêmicas envolvendo a reforma tributária, que levaram à demissão do secretário de Paulo Guedes, Marcos Cintra, preocuparam o mercado, principalmente, os investidores estrangeiros que querem ver aprovadas medidas que possam evitar uma maior deterioração das contas públicas.
Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, onde tramita a reforma da Previdência, após ter sido aprovada na Câmara dos Deputados em julho, deu duas más notícias: a reforma não seria votada em plenário nesta semana, apenas na próxima, e depois veio dizer que já não era nem na próxima, apenas na seguinte. Com isso , o primeiro turno da votação ficou para o dia 24. O atraso deixa os investidores céticos quanto ao aval à medida, que deve gerar uma economia de ao menos R$ 870 bilhões em dez anos.
Também não agradou a notícia de que mudanças promovidas por Tasso Jereissati (PSDB-CE) na reforma poderiam levar a proposta de volta para votação na Câmara ou até acabar sendo contestada na Justiça. Tasso já veio afirmar que as alterações que atrasarem a tramitação serão modificadas.
CPMF e mais uma baixa na Economia
A semana também foi marcada para mais uma baixa no Ministério da Economia. O secretário da Receita caiu porque um adjunto seu, Marcelo da Silva, foi a público detalhar o item mais polêmico da reforma tributária, que ainda não havia tido o aval Guedes nem do presidente Jair Bolsonaro: a recriação da CPMF.
Bolsonaro não gostou de ver estampado em todo o lugar que o governo iria promover a volta do imposto do cheque e mandou Guedes demitir Cintra, que, no dia seguinte, foi ao Twitter afirmar que o imposto na Argentina “deu excelentes resultados”.
O Congresso, que já se articula para as eleições municipais de 2020, também recebeu mal o novo tributo. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados (DEM-RJ) falou que a reação dos deputados ao novo imposto foi “contundente” e que ele teria muita dificuldade para passar na Casa.
Agora, o mercado questiona como Guedes vai bancar a prometida desoneração da folha de pagamentos.
Reuniões de 9 BCs do mundo
A sexta também foi de cautela na expectativa da decisões sobre os juros, que vão acontecer semana que vem. Serão nove Banco Centrais que farão encontros, incluindo EUA, Inglaterra, Japão e Brasil.
O mais aguardado é o do Fed,–que está programado para a próxima quarta, dia 18, mesmo dia do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC brasileiro–, que, nesta sexta, motivou uma alta maior da moeda americana aqui no Brasil.
Depois que os EUA anunciaram dados mais fortes das vendas do varejo nesta sexta, aumentaram os receios de que o Fed possa não reduzir a sua taxa de juro, o que deixou o ambiente mais negativo. Cortes por lá tendem a levar o investidor estrangeiro a se arriscar mais–para tentar manter a rentabilidade– e colocar seu dinheiro em locais que paguem juros maiores, como o Brasil.
Possível acordo entre EUA e China
A alta do dólar ante o real se deu mesmo depois de notícias, tanto do lado americano como do lado chinês, de que os EUA e China costuram um acordo, ainda com caráter provisório, para tentar amenizar os efeitos da guerra comercial que os dois travam há mais de um ano e meio.
A China estaria disposta a isentar as tarifas de carne de porco e soja americanos, depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, fez um “gesto de boa vontade” e adiou a entrada de novas tarifas de dia 1º para o dia 15.