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Dólar vira e sobe com dúvidas sobre Brexit e apostas de corte de 0,75 ponto na Selic

Moeda dos EUA, que chegou a cair a R$ 4,129 na manhã desta quinta-feira (17), fechou nos R$ 4,17 com a fala de um dos membros do DUP, que promete encorajar a rejeição ao novo acordo firmado entre o Reino Unido e a UE; a expectativa de uma redução maior no juro básico também pesou no humor

Bárbara Leite

Publicado

em

Moeda americana não sustentou a queda pela manhã, quando chegou a cair abaixo de R$ 4,13–Pixabay

(Publicado às 14h16; atualizado às 17h30)

O dólar, que abriu em queda e acelerou o tombo após a divulgação de dados da produção industrial dos EUA, que reforçam as apostas de novos cortes de juros por lá, passou a subir nesta quinta-feira (17) com dúvidas quanto ao acordo para saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, e apostas de que a taxa básica de juros, a Selic possa cair mais que o previsto antes.

No fechamento, a moeda americana terminou nos R$ 4,17, com salto de 0,39%, o maior valor desde 23 de setembro, depois de estar toda a manhã em queda. No melhor momento do pregão, a divisa recuou a R$ 4,1296. À tarde, a divisa chegou a subir a R$ 4,182.

“O dólar começou a cair com o Brexit, mas tanto os juros como a moeda americana recuaram mais após a divulgação de dados americanos (produção industrial), que aumentaram, novamente, as apostas de corte de juros, ou seja, de alívio monetário do Fed. A fala de Wilson, do DUP, e as previsões de que a Selic possa cair 75 pontos base, reduzindo mais o “carry trade”, levaram à virada”, disse Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.

Indústria americana e Itaú Asset

Segundo o Fed, a produção manufatureira dos EUA caiu 0,5% em setembro, após um aumento revisado de 0,6% em agosto. A greve na montadora General Motors (GM) pressionou a indústria, mas excluindo veículos e peças, a produção industrial geral e a produção manufatureira ainda caíram 0,2%.

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Os dados reforçam o enfraquecimento da economia americana, impactada pela guerra comercial entre o país e a China. Com isso, aumentam as apostas de que o Fed volte a cortar os juros no encontro do dia 30, reduzindo, desse modo, o diferencial esperado com as taxas brasileiras, que estão caindo a um ritmo mais forte e afastando investidores que ganham com a especulação dos juros para outros emergentes, como México e Rússia.

Mas, as apostas de que a Selic possa cair mais, em 0,75 ponto percentual, no encontro deste mês, esfriam os ânimos com a possibilidade de que o corte nos juros americanos pudesse aumentar a atratividade do Brasil, e estimular o chamado “carry trade”(quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e aplicar a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).

Leia também: Itaú prevê dólar a R$ 4,25 e Selic a 4% em 2020

O Itaú Asset Management, gestora do Itaú, reviu nesta quarta-feira, suas projeções para a Selic, e vê que a taxa possa cair dos atuais 5,5% ao ano para 4% em 2019–ou seja, apostando que ela recue 0,75 ponto em cada um das duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC–30 de outubro e 11 de dezembro.

Dados do BofA (Bank of America Merrill Lynch) mostram que o diferencial de “carry” (retorno) pago pelo real, atualmente, ainda sem contar com os novos cortes esperados, já é de pouco mais de 2%, bem atrás de pares emergentes como peso mexicano (quase 6%), rupia indiana (5%), rupia indonésia (5%), rublo russo (perto de 5%) e rand sul-africano (também próximo de 5%), segundo a Reuters.

Brexit: acordo e a negativa do DUP

O mercado iniciou animado após a divulgação de que o Reino Unido e a União Europeia chegaram a acordo para o Brexit (saída do país do bloco europeu). O acordo precisa, porém, do aval, neste sábado (19), do Parlamento britânico, que mostra resistência ao novo premiê Boris Jonhson. Ele vai precisar do apoio dos 10 parlamentares do Partido Democrático Unionista da Irlanda do Norte (DUP), que já vieram dizer que são contra o novo acordo.

O balde água fria veio com a declaração de Sammy Wilson, um dos 10 deputados do DUP, dizendo que encorajará membros do Partido Conservador, sigla do primeiro-ministro britânico Boris Johnson, a se oporem ao seu acordo com o Brexit. Dentro do Partido Conservador, existe o ERG (European Research Group), a ala eurocética da sigla.

“Vamos incentivar outros a se oporem a isso”, disse Sammy Wilson à emissora nacional irlandesa RTE, dizendo que não sabia quantos parlamentares do Partido Conservador de Johnson votariam com o DUP na votação de sábado.

Além de tentar convencer a ala eurocética de seu partido, Jonhson ainda precisa do apoio de parte (ou todos) dos 21 deputados que expulsou de seu grupo parlamentar, por terem votado contra o governo, apoiando a proibição da saída do Reino Unido sem acordo.

Leia também: Reino Unido e UE chegam a acordo para o Brexit

O DUP se opõe ao acordo porque o primeiro-ministro aceitou ceder no polêmico “backstop”– um mecanismo criado para evitar a volta de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte (que é parte da Grã Bretanha) e a República da Irlanda (que é um país independente que faz parte da União Europeia). Jonhson concordou com a criação de uma fronteira aduaneira no mar da Irlanda, abrindo mão dos controles alfandegários e regulatórios de produtos comercializados entre os britânicos e norte-irlandeses, o que sua antecessora Theresa May não queria.

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Com a fronteira, a Irlanda do Norte fará parte, legalmente, do território alfandegário britânico e se beneficiaria de eventuais acordos comerciais negociados pelo Reino Unido após a saída da UE, mas, na prática, entretanto, os norte-irlandeses ficariam dentro do mercado comum europeu e comprometidos com suas normas e tarifas.

Entretanto, o acordo para o Brexit já foi aprovado pelos 27 membros da UE na tarde desta quinta.

Eventos domésticos

Na cena doméstica, investidores também se mantêm atentos ao julgamento que pode rever a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o início de cumprimento da pena após a condenação em segunda instância nesta quinta-feira e ás desavenças no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

O fluxo cambial acumulado neste ano atingiu saldo negativo de US$ 19,8 bilhões, o pior resultado em 20 anos. No ano passado, no mesmo período, o saldo do fluxo cambial era positivo em US$ 20,3 bilhões.

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