Em meio aos receios do impacto do coronavírus no crescimento da economia chinesa, do mundo e na retomada do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) do Brasil, o dólar avança quase 1% nesta segunda-feira negra para os mercados financeiros globais. A moeda americana, que é considerada um ativo de refúgio em momentos de instabilidade, chegou a encostar em R$ 4,23. Pelas 14h30, o dólar comercial era negociado em R$ 4,219, com alta de 0,80%.
O real registrava o quarto pior desempenho entre 24 divisas emergentes frente ao dólar; peso chileno, rand sul-africano e rublo russo perdiam mais.
Além do temor de que a escalada do coronavírus possa reduzir as exportações brasileiras para a China, principal parceiro comercial do Brasil, o dólar sobe também com o aumento da chance de corte na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) da quarta-feira que vem, 5 de fevereiro. A probabilidade de um corte de 0,25 ponto na taxa, de 4,50% para 4,25% ao ano, subiu a 80%.
O mercado passou a ver maior expectativa do juro básico cair uma vez que o coronavírus vai afetar a economia chinesa, e por consequência, as economias dependentes de “commodities”, como a brasileira. A inflação estável já sustentava as apostas de que o Copom continuaria o ciclo de baixa de juros, apesar da sinalização de pausa no último encontro de 2019. Agora a possibilidade da retomada da economia ser afetada pela desaceleração chinesa abre mais espaço para o corte dos juros.
O BC corta a Selic para baratear o crédito, e assim, estimular o consumo e os investimentos no país, e dessa forma, puxar o crescimento do PIB, cuja previsão está em alta de 2,5% em 2020. Em 2019, o país deve ter crescido perto de 1%.
O Boletim Focus, com as projeções de cerca de cem analistas do mercado financeiro, divulgado nesta segunda (27), já trouxe que a maioria do mercado acredita que a Selic termine 2020 em 4,25% ao ano. Ou seja, que para os analistas haverá um corte na taxa até ao fim do ano. Nas semanas anteriores, a previsão estava em 4,50% ao ano, o que significava que eles não acreditam que houvesse mexidas na taxa neste ano.
O aumento da chance da Selic cair a 4,25% ao ano puxa o dólar ante o real nesta segunda (27), uma vez que um corte nos juros aqui sem que o Fed (banco central dos EUA acompanhe a trajetória, aumenta ainda mais o diferencial de juros aqui e nos EUA, reduzindo o apetite pelo chamado “carry trade”. Os investidores preferem deixar seu capital investido em títulos americanos ou em outros emergentes, que paguem um retorno maior, vez de investirem no Brasil.
Com expectativa de menos dólares entrando, o mercado “corre” para comprar a moeda americana, puxando a sua cotação.
Agenda a partir de 4ª pode trazer mais volatilidade ao câmbio
A volatilidade tende a ser maior a partir desta quarta-feira (29), quando o Fed vai decidir sobre o rumo dos juros por lá, lembrou José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos. Ele recomendou os exportadores esperarem antes de venderem seus dólares.
A expectativa é que a taxa nos EUA permaneça no intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano, mas a fala de Jerome Powell, presidente da autoridade, pode mexer com o humor do mercado.
No dia seguinte, sai o IGP-M, a chamada inflação do aluguel, de janeiro, o primeiro grande índice de preços que será divulgado antes do Copom. O mercado vai monitorar se os preços seguem estáveis.
Também será divulgado o PIB americano de 2019 e a taxa de desemprego no Brasil no último trimestre do ano passado.
Mortes sobem de 26 para 81; feriado é ampliado, viagens suspensas e impacto no PIB
O coronavírus de Wuhan, cidade chinesa onde foi detectado o primeiro caso em 7 de janeiro, se espalha rapidamente e já atinge 15 países de 4 continentes, além da China. O último balanço desta segunda (27), divulgado pela CCTV, é que o número de mortos subiu para 81; na sexta (24), após o fechamento do mercado, eram 26; neste domingo (26), 56. O número de pessoas infectadas subiu a 2.798.
Neste sábado (25), o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou que a situação é grave. A confirmação de que o novo vírus é contagioso mesmo antes de aparecerem os sintomas trouxe uma preocupação adicional.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou nesta segunda (27) que cometeu um erro e passou a classificar como “elevado” o risco internacional de contágio do novo coronavírus.
Nos EUA, os casos eram cinco neste domingo (26), com suspeita de outras 100 pessoas infetadas.
Nesta segunda, a China suspendeu viagens internacionais e de ônibus para tentar conter o vírus durante o feriado de Ano-Novo Lunar, que foi estendido por mais três dias até domingo (2). Os chineses já voltariam ao trabalho nesta sexta (31), o que deve afetar comércio, indústria e serviços, com risco de impactar a economia mundial.
Com o mesmo intuito, gigantes corporativas chinesas, incluindo o Alibaba Group Holding e a Tencent Holdings, disseram ter pedido a suas equipes que trabalhem de casa por uma semana após o término do feriado do Ano Novo Lunar, previsto para esta quinta (30).
Em Hong Hong, que decretou emergência, o feriado para as escolas vai durar até 17 de fevereiro.
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) previa uma queda de 1,2 ponto percentual no PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país) chinês com baixa de 10% no consumo de transporte e entretenimento no feriado, mas as viagens, só no 1º dia, caíram 30%.
Bolsas globais caem; Ibovespa cai quase 3%: apenas 3 ações sobem
As Bolsas globais caem nesta segunda, em que o feriado chinês deixou as Bolsa chinesa e de Hong Kong fechadas por lá. O mercado acionário japonês, que abriu, encerrou com queda de 2,03%. Na Europa, tudo no vermelho. Nos EUA, também.
Pelas 15h40, o Dow Jones recuava 1,12%, enquanto o Nasdaq tombava 1,58%.
O Ibovespa, índice de referência da B3 (Bolsa de Valores brasileira), caía mais: 2,77% para 115.103 pontos. Apenas três ações– Santander (SANT11), TIM (TIMP3) e Vivo (VIVT4)– registravam alta nesta segunda.