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Dólar dispara: estrangeiro ‘foge’ com ‘carry’, Amazônia, petróleo no mar do Nordeste e PIB fraco

Veja o que pode explicar a valorização da moeda americana, que, nesta terça, foi a R$ 4,165; real foi a moeda que mais perdeu valor entre 24 emergentes

Bárbara Leite

Publicado

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Crescimento econômico lento retrai a entrada de capital no Brasil e puxa o dólar–Foto: Pixabay

O dólar voltou a subir forte ante o real nesta terça-feira (15), fechando em R$ 4,165, no maior valor desde 24 de setembro, com investidores estrangeiros “fugindo” ainda mais do Brasil. A alta da divisa, de 0,89%, foi a maior desde 7 de setembro, deixando o real na liderança das moeda que mais perderam valor contra o dólar, considerando uma cesta de 24 divisas emergentes, de acordo com dados da Bloomberg.

Nesta terça-feira (15), as incertezas políticas com a desavença entre Luciano Bivar, presidente do PSL, e Jair Bolsonaro, que se elegeu pela sigla, somada à ação de busca e apreensão da Polícia Federal a Bivar, não caíram bem nos investidores, devido ao receio do que isso possa impactar na governabilidade e nas reformas econômicas. Por enquanto, essa instabilidade não afetou a aprovação do projeto da divisão dos recursos da chamada cessão onerosa, leilão de petróleo do pré-sal que travava a reforma da Previdência. Ele foi aprovado, por unanimidade, nesta terça à noite no Senado e seguirá para sanção presidencial.

Fora o ruído pontual, o que explicaria a forte pressão sobre a divisa brasileira? Além dos motivos que arrastaram as outras moedas emergentes, como queda das cotações das commodities (matérias-primas), dúvidas sobre os avanços das negociações para pôr fim à guerra comercial entre EUA e China, o real reflete o fato do Brasil ter começado a ficar mais desinteressante desde o último dia 9–quando o IBGE confirmou a deflação de 0,04% de setembro, a maior em 21 anos, levando a taxa acumulada para 2,89%, abaixo da barreira dos 3%.

A partir daí, não pararam de aumentar as apostas de que a taxa básica de juros, a Selic, deve cair para 4,50% em 2019 e pode chegar a 4% ao ano no início do ano que vem.

‘Carry trade’: Brasil perde para outros emergentes

Com a queda na Selic, que não deve ser acompanhada por cortes na mesma magnitude pelo Fed (Banco Central dos EUA), fica ainda menos atrativo para os investidores estrangeiros fazer o chamado “carry trade” (quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e aplicar a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).

Dados do BofA (Bank of America Merrill Lynch) mostram que o diferencial de “carry” (retorno) pago pelo real, atualmente, ainda sem contar com os novos cortes esperados, já é de pouco mais de 2%, bem atrás de pares emergentes como peso mexicano (quase 6%), rupia indiana (5%), rupia indonésia (5%), rublo russo (perto de 5%) e rand sul-africano (também próximo de 5%), segundo a Reuters.

Essa diferença faz com que o dinheiro que sairia dos EUA, com a redução dos juros por lá, não migrará para o Brasil mas para outros emergentes que estão pagando retornos maiores.

PIB fraco, Amazônia e petróleo no mar do Nordeste

Vazamento de petróleo já atinge todos os 9 Estados do Nordeste e atinge paraísos como as praias de Maragogi (AL), Praia do Forte (BA), Porto de Galinhas (PE), Praia do Futuro (CE), Pipa (RN) e João Pessoa (PB)–Foto: Divulgação

As previsões do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) brasileiro–abaixo de 1% para este ano– são outra razão para o Brasil estar menos atraente para o investidor estrangeiro.

A agenda de reformas do governo Jair Bolsonaro ainda é vista com otimismo, porém não é mais suficiente para atrair novos recursos ao mercado brasileiro. O investidor vê que, mesmo com as propostas de reforma, o país não consegue retomar o crescimento robusto.

Além disso, as polêmicas com os incêndios na Amazônia, que podem pôr em causa o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) e já levaram a fundos a retirar o dinheiro do país, e o recente desastre ambiental com manchas de petróleo que atingiu 132 praias no Nordeste, como as famosas Maragogi (AL) ou Porto de Galinhas (PE), também estão afastando os investidores.

“O dólar sobe com o derramamento de óleo no Nordeste do Brasil, que afetará o turismo no Brasil por anos. Além disso, a economia está desacelerando. E a situação na Amazônia também não está promovendo o Brasil, disse ao Economia Bárbara, um investidor estrangeiro, que preferiu não ser identificado.

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