(Publicado às 15h52; atualizado às 17h15)
O dólar, que já iniciou o dia em queda, acentuou o tombo nesta sexta-feira (18) e fechou cotado mais de 5 centavos mais barato do que no dia anterior.
No fechamento, a moeda americana ficou nos R$ 4,119, com recuo de 1,22%, a maior queda desde 4 de setembro. Na véspera, a divisa encerrou a R$ 4,17.
“O dólar está caindo desde manhã, com o IGP-M, a produção industrial da China e pelo BC ter colocado os US$ 525 milhões no mercado. O real se aprecia ante o dólar, acompanhando todas as moedas emergentes do planeta, e devido à fala positiva de Campos Neto, de que o fluxo de privatizações e leilões pode derrubar o dólar”, disse Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
Segundo Syper, “vai entrar muito dinheiro depois que a reforma da Previdência for aprovada. Vai ser muito positivo e é isso que ele já está vendo. Depois da reforma, vai haver chuva de dólar”.
Pela manhã, a moeda reagia positivamente a dois indicadores econômicos, um do Brasil e outro da China.
Da China, apesar do crescimento econômico ter crescido 6% no terceiro trimestre, no menor ritmo em 27 anos, em meio à guerra comercial com os EUA, agradaram os números de produção industrial e vendas no varejo, que vieram positivos.
IGP-M 2ª prévia: mais pressão sobre os preços
No Brasil, foi a segunda prévia do IGP-M, a chamada inflação do aluguel, que trouxe alívio, ao subir 0,85%, bem acima do esperado (0,72%) e da queda de 0,28% registrada na segunda leitura de setembro.
O avanço dos preços, que se deu no atacado, pode sinalizar que um arrefecimento nos preços verificado em setembro, que fez disparar as apostas de que a taxa básica de juros, a Selic, ia cair mais do que o previsto antes, não se estendeu para outubro.
Com a maior pressão do preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) pode não ter tanto espaço para reduzir mais os juros, como os economistas andavam prevendo nos últimas semanas. O mercado já começava a ver chances maiores de que a Selic pudesse cair 0,75 ponto neste mês e terminasse o ano em 4%.
O aumento das apostas de uma redução maior da Selic vinha afastando investidores do país que especulam com taxas de juros, e pressionando a moeda americana contra o real.
É que a queda maior dos juros no Brasil, que não deve ser acompanhada na mesma magnitude pelas taxas americanas, diminui ainda mais o “carry trade”, quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e se aplica a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).
Dados do BofA (Bank of America Merrill Lynch) mostram que o diferencial de “carry” (retorno) pago pelo real, atualmente, ainda sem contar com os novos cortes esperados, já é de pouco mais de 2%, bem atrás de pares emergentes como peso mexicano (quase 6%), rupia indiana (5%), rupia indonésia (5%), rublo russo (perto de 5%) e rand sul-africano (também próximo de 5%), segundo a Reuters.
A segunda prévia do IGP-M veio indicar que, afinal, a Selic pode não cair tanto.
Ação e fala do presidente do BC
Fora isso, o Banco Central (BC) conseguiu colocar todos os dólares à venda no mercado à vista, no total de US$ 525 milhões, fato que também contribui para pressionar menos a moeda. Com a operação, a autoridade injeta liquidez no mercado para evitar uma disparada da divisa.
Já a fala do presidente do BC, Roberto Campos Neto, uma reafirmação do que ele já havia dito, na véspera, em evento fechado nos EUA, e tinha puxado do dólar no fim do pregão desta quinta, teve uma segunda leitura, e ajuda a aliviar a cotação da moeda nesta sexta (18).
Campos Neto disse estar aberto a intervir no câmbio, comprando dólar no fim do ano, se houver um fluxo muito acentuado que gere uma ruptura no mercado. Ou seja, o presidente da autoridade monetária sinaliza que o real pode subir a um nível tão elevado–que prejudicaria a competitividade das indústrias–, que o órgão pode ter de comprar dólar para puxar a sua cotação frente ao real, já que espera um aumento do fluxo de capital estrangeiro pelas operações de privatizações e de leilões de petróleo.
“Fazemos correção quando achamos que tem uma ineficiência no mercado, uma ruptura por gap de liquidez ou por um fluxo muito acentuado que gere uma ruptura de qualquer tipo”, explicou o presidente do BC, em entrevista na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta sexta. Ele está em Washington para reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial.
Oferta de ações do BB
Também pode explicar a queda da moeda american oa investidor estrangeiro participando da precificação na oferta subsequente (follow on) de ações do Banco do Brasil, cujo volume gira em cerca de R$ 5,8 bilhões. O investidor que quer comprar ações do banco precisa vender dólar e comprar reais, o que também arrefece a alta do dólar.
Crise entre PSL e Bolsonaro: mercado de câmbio ‘ignora’
Os ruídos políticos com aumento do racha no partido de Jair Bolsonaro parecem não incomodar o mercado de câmbio. Nesta sexta, em meio à convenção do PSL, o deputado Major Waldir, que, na véspera, falou que ia “implodir” o presidente Bolsonaro, disse que “a parte do partido (dissidência de Bolsonaro) só vai votar em pautas do governo em que houver convergência”.
Depois do vazamento do áudio da declaração, que fez em reunião com aliados do presidente do partido, Luciano Bivar (PE), negou que tenha algo para “implodir” o presidente.
Destituída da posição de líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou na véspera que a Presidência da República estava sendo usada para interferir no Legislativo. “O próprio presidente estava ligando e pressionando deputados para assinar uma lista”, disse.