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Conselheiro dos EUA assusta, e dólar fecha a R$ 4,164; Bolsa encosta em recorde, mas cai no fim

Moeda dos EUA salta 1,50%, com ameaças de mais tarifas à China, redução mais forte dos juros no Brasil, manutenção das taxas nos EUA e receio de nova greve dos caminhoneiros; Ibovespa tomba 0,18%, depois de bater os 106 mil pontos

Bárbara Leite

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Dólar ficou 6 centavos mais caro no pregão desta quinta, enquanto Ibovespa, penalizada por bancos, terminou negativa–Foto: Pixabay

O pregão desta quinta-feira (19) começou mal e terminou pior para o dólar comercial, com ameaça dos EUA de elevaram as tarifas à China, receios com a dupla– redução dos juros no Brasil abaixo de 5% e manutenção das taxas nos EUA–, além de preocupações com a possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros, diante da alta do preço do diesel após disparada do petróleo no mercado internacional.  

A moeda americana ficou 6 centavos mais cara, terminando nos R$ 4,164, a cotação mais elevada desde 3 de setembro. A alta do dólar, de 1,50%, foi a maior desde 14 de agosto, quando subiu 1,86%. Com isso, o real foi a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar (-1,16%) em uma cesta com as 17 das principais moedas do mundo, segundo dados da Bloomberg. O comportamento das outras moedas de países emergentes e desenvolvidos também foi negativo: rand sul-africano caiu 0,86%, lira turca (-0,69%), dólar australiano (-0,48%) e peso mexicano (-0,22%).

Já o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, que chegou a subir 1,41% no melhor momento do dia, batendo os 106.001,35 pontos–foi a segunda vez na história que o índice atingiu o nível de 106 mil pontos em termos intradiários, terminou em queda de 0,18% para 104.339 pontos.

Guerra comercial pode ganhar força

O responsável pelo tombo do Ibovespa e pela alta mais intensa do dólar foi o conselheiro da Casa Branca, Michael Pillsbury, que, em entrevista ao jornal “South China Morning Post”, ameaçou elevar tarifas à China a 50% ou 100%, se não houver acordo em breve.

Nesta quinta (19), autoridades dos EUA e China estão reunidas, em Washington, para preparar a reunião de outubro, que era vista como um passo para acabar a guerra comercial entre as duas potências, que dura há mais de um ano e meio e tem enfraquecido as economias dos dois países e de do resto do mundo.

Uma intensificação da guerra comercial afeta o Brasil, que é dependente da venda de matérias-primas para o exterior, que enfraquecido, reduz as compras dos produtos brasileiros.

Os bancos brasileiros foram os que mais sofreram. As ações do Banco do Brasil recuaram 2,60%, as do Itaú Unibanco, 1,67%, enquanto as do Bradesco caíram 1,21%.

Manutenção dos juros nos EUA + Queda da Selic= Recuo do ‘carry trade’=fuga de investidores

Antes da fala de Pillsbury, o dólar negociava bem pressionado, com os analistas apostando que o ciclo de baixas das taxas de juros americanos deve ser interrompido, depois do corte desta quarta. As apostas resultam do placar da decisão desta quarta ter sido dividido e um indicador, o gráfico de pontos, apontar que apenas 7 dos 17 membros do Fed são a favor em cortar novamente os juros.

Cortes nos juros dos EUA tendem a atrair capital ao Brasil, o que seria benéfico para o real e diminuiria a cotação do dólar. Com taxas menores, os títulos americanos de renda fixa pagam menos, e quem deseja ter uma rentabilidade maior precisa “arriscar mais”: colocar dinheiro na Bolsa ou aplicar em países emergentes, como o Brasil.

Se esses cortes não acontecem, o investidor fica com seu dinheiro investido por lá.

Isso combinado com a possibilidade do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) reduzir ainda mais os juros no Brasil, para níveis abaixo dos 5%, deixa o investidor mais afastado do país, que passa a buscar outros países que paguem juros mais altos, uma vez que cortes nas taxas brasileiras deixam, por sua vez, os títulos do governo brasileiro menos atrativos.

Com a fuga do investidor, o dólar sobe e o real cai. Muitos desses investidores que saem, ganham dinheiro com a arbitragem das taxas de juros, operação chamada de “Carry Trade”. Com a queda da Selic maior do que a dos juros dos EUA, cai o ganho de quem pega dinheiro num país com taxa de juros baixa (como os EUA) e aplica a quantia no Brasil, destino que paga retornos maiores. Com isso, o fluxo de capital que viria para o Brasil, com a queda dos juros nos EUA, vai para outros países, como o México.

“O real teve a pior performance nesta quinta com o “Carry Trade” diminuindo, e as perspectivas de que a Selic vai diminuir mais na próxima reunião”, explicou Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.

Mais economistas apostam em Selic abaixo de 5%

Nesta quinta, mais economistas passaram a ver a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, que recuou nesta quarta, de 6% para 5,5% ao ano, depois do Copom sinalizar, em comunicado, que vê menos riscos à inflação brasileira.

Cresceram as apostas da taxa terminar o ano abaixo de 5%. Além do Bank of America Merrill Lynch, Bradesco, Citi, e JP Morgan e Santander, agora também também XP Investimentos, UBS e BNP Paribas acreditam que a Selic caia mais nas próximas duas reuniões– 30 de outubro e 11 de dezembro. O BNP Paribas acredita que o ciclo de cortes só termine em fevereiro de 2020, quando a Selic cairá para 4,25 1% ao ano.

As projeções para a Selic beneficiaram as ações de empresas ligadas ao varejo, uma vez que taxas menores, deixam o crédito mais barato e podem estimular o consumo, e com isso, as vendas dos varejistas.

As ações da Via Varejo (dona das Casas Bahia e Ponto Frio) subiram 5,26%; as da B2W (controladora da Americanas.com e do Submarino) avançaram 5,75%, os papéis da Magazine Luiza fecharam em alta de 2,14% e os das Lojas Americanas, com 2,72% de valorização.

Greve dos caminhoneiros?

Outro fator que adicionou pressão ao dólar foi o receio de uma nova greve dos caminhoneiros. Sempre que o preço do diesel sobe mais forte, esse temor volta. Nesta quinta, a Petrobras subiu o preço do diesel nas refinarias em 4,2%, em razão da disparada dos valores do petróleo no mercado internacional, que na, segunda-feira, saltaram 14,6%. A estatal chegou a dizer que iria aguardar para repassar a alta e o presidente Bolsonaro informou que o repasse não seria imediato.

Leia também: Petrobras sobe preço da gasolina em 3,5% e do diesel em 4,2% a partir desta quinta

Na terça (17) e quarta-feira (18), entretanto, os preços do petróleo internacional caíram e recuperaram parte da alta registrada na segunda. Na terça, o petróleo Brent, referência internacional, terminou com queda de 6,5%; já nesta quarta, a commodity (matéria-prima) teve uma baixa de 1,50%, para US$ 63,63 o preço do barril.

Nesta quarta, porém, o petróleo subiu de novo. A cotação do Brent, referência mundial, fechou em alta de 1,30% para US$ 64,40 o barril. Com isso, as ações da Petrobras fecharam com alta de 0,26%.


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