O dólar, que teve alívio após a confirmação pelo Fed (banco central dos EUA) de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juro americana, acelerou a alta, depois que o mercado interpretou que a decisão dividida–7 membros apoiaram o corte de 0,25 e três foram contra, o maior número de dissidentes em três anos–pode pôr em causa novos cortes nas taxas neste ano.
Também ajudaram a fortalecer a divisa as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, que não se comprometeu com novas reduções da taxa.
No fechamento, a moeda americana subiu 0,61% para os R$ 4,103; na véspera, a divisa havia recuado 0,30%.
Dos três membros que foram contra, dois (Esther L. George e Eric S. Rosengren) queriam a manutenção e outro (James Bullard ) um corte maior, de 0,50 ponto, na taxa, que agora está entre 1,75% e 2% ao ano. Trata-se da segunda redução no ano; em julho, a autoridade também decidiu reduzir o juro em 0,25 ponto percentual, o primeiro recuo em 11 anos.
Para o mercado, o placar dividido pode impedir reduções nas taxas por lá que, em teoria, seriam benéficos ao real, já que cortes dos juros nos EUA tendem a atrair capital ao Brasil. Com taxas menores, os títulos americanos de renda fixa pagam menos, e quem deseja ter uma rentabilidade maior precisa “arriscar mais”: colocar dinheiro na Bolsa ou aplicar em países emergentes, como o Brasil.
Para o banco Credit Suisse, o conjunto de informações ficou aquém do que o mercado esperava, por isso a alta do dólar ante o real. “A reunião mostrou um Fed dividido, não convencido de que cortes adicionais são necessários”, escrevem em relatório na tarde desta quarta-feira.
Powell: “Não há caminho predefinido”
Na entrevista coletiva, após a decisão o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu que as autoridades do Fed estão fortemente divididas sobre o caminho mais sábio para o rumo das taxas de juros neste ano. “Este é um momento de julgamentos difíceis e perspectivas díspares”, afirmou o presidente. “Eu realmente acho que isso não é nada além de saudável”, afirmou.
Powell disse que “não vemos como necessário um longo ciclo de cortes” e que as decisões serão tomadas a cada reunião, analisando os dados disponíveis. “Não há um caminho predefinido”, disse.
Além disso, afirmou que o consumo e o mercado de trabalho seguem fortes, o que deve permitir que a economia americana cresça em torno de 2% neste e no próximo ano.
“Não vemos uma recessão e não esperamos uma recessão, ajustamos a política para dar suporte ao cenário positivo”, disse Powell.
Corte preventivo
Para Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, que mora em Nova York, “Powell sinalizou que o corte foi mais uma medida preventiva para se precaver do que está acontecendo com a economia mundial”.
“Powell falou que a economia segue bem, a inflação está controlada, o ambiente é positivo. Com isso, a crença em novos cortes na taxa foi colocada em dúvida”, disse Cantreva.
Os Bancos Centrais cortam as taxas de juros para ajudar no crescimento da economia, mas sempre de olho se os cortes não geram inflação.
EUA sem recessão e acordo com a China
Para Cantreva, a probabilidade da economia americana entrar em recessão no curto prazo é muito baixa. Ele acredita que não há risco da guerra comercial entre EUA e China se prolongar e afetar o crescimento econômico americano.
“Acreditamos os EUA devem chegar a um acordo com a China até ao fim do ano, antes de 2020, ano eleitoral. Não será o acordo dos sonhos, mas será um acordo em que os dois lados podem dizer que ganharam”, afirmou o sócio da Portofino Investimentos.
*Com agências