Economia Bárbara
  

Seu Bolso

Apesar de EUA-China, apostas da Selic pesam, e dólar fecha semana com alta de 0,95%

Otimismo com acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo, que avançou nesta sexta, não foi suficiente para contrariar a expectativa de fuga de investidores com a esperada redução mais forte dos juros no Brasil, e divisa americana subiu ante o real

Bárbara Leite

Publicado

em

Na semana anterior, a moeda dos EUA havia registrado a maior baixa desde fevereiro–Foto: Pixabay

O otimismo geral vistos nas Bolsas mundo afora nos últimos dias, com a possibilidade do fim da guerra comercial entre EUA e China, contagiou apenas em parte o mercado de câmbio brasileiro. Nesta sexta-feira (11), o dólar fechou com queda de 0,68% a R$ 4,095, em dia em que as duas potências chegaram um acordo parcial, mas, mesmo com a baixa, a moeda acumulou uma alta semanal de 0,95%. Na semana anterior, a divisa, ao contrário, havia dado uma “alegria” aos turistas: recuou 2,39%, a maior baixa desde fevereiro.

A guerra comercial, que já dura há 18 meses e vem afetado o crescimento das economias das duas potências e do resto mundo, vinha elevando as expectativas de uma recessão a nível global.

Mas, apesar da queda desse risco com o acordo, o dólar subiu ante o real diante das apostas de que a taxa básica de juros, a Selic, deve fechar 2019 abaixo do previsto. Ao menos dois bancos–UBS e Bradesco– revisaram, nesta semana, suas projeções, de 4,75% para 4,50% ao ano. A Selic, que está em 5,50%, de acordo com as duas instituições, deve sofrer duas novas quedas de 0,50 ponto–na reunião do dia 30 deste mês e do dia 11 de dezembro.

Isso ocorreu depois do IBGE anunciar que a inflação em setembro fechou mais negativa (-0,04%) que o projetado, levando a taxa acumulada em 12 meses em 2,89%, o que dá espaço para o Banco Central (BC) cortar os juros em uma intensidade até maior do que a esperada anteriormente.

Sem pressão da inflação, o BC pode cortar os juros para tentar ajudar na retomada da economia, que segue em crescimento apenas gradual e lento, como confirmam os dados divulgados nesta semana do varejo e dos serviços brasileiros.

Segundo divulgou o IBGE nesta quinta (10), o varejo terminou agosto com uma alta de apenas 0,1% ante os projetados 0,3%, enquanto o avanço de julho teve forte revisão em baixa, de 1% para 0,5%. Os serviços, por sua vez, puxados pelo setor de transportes, muito ligado à atividade da indústria, caíram 0,2% em agosto e também tiveram o dado de julho revisto em baixa (de 0,8% para 0,7%), de acordo com os números do IBGE, divulgados nesta sexta (11).

Para reforçar a inflação baixa também foi divulgado que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) planeja reduzir, até ao fim do ano, o valor da taxa extra da bandeira amarela a cada 100 killowatts-hora (kWh) consumidos, dos atuais R$ 1,50 para R$ 1,34. Tarifa mais baixa, menos pressão sobre os preços.

Especuladores e Previdência

O que estaria afastando os investidores do Brasil, em particular, os que ganham com especulação das taxas de juros, seria a aposta de que esse corte na Selic não será acompanhado na mesma intensidade pelos juros nos EUA. Há agora expectativa, depois da ata da última reunião do Copom americano, que foi divulgada nesta semana, de que as taxas possam cair também neste mês, mas em apenas 0,25 ponto percentual, como no mês passado, abaixo, portanto, do 0,50 ponto percentual esperado no Brasil.

Com o Brasil pagando menos juros, fica menos interessante fazer o chamado “carry trade”– quando se pega o dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e se aplica a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).

Para Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, além da menor atratividade pelo “carry trade”, a espera com a votação da reforma da Previdência também pesou. “Não tem notícia, há diminuição do ímpeto para fazer ‘carry trade’ devido à redução do diferencial dos juros esperada e cautela com votação da reforma da Previdência no dia 22”, explicou.

Nesta semana, a Câmara dos Deputados até aprovou a divisão dos recursos do megaleilão do excedente do petróleo do pré-sal, a chamada cessão onerosa, que estava travando a votação da reforma em segundo turno no Senado, mas a expectativa de queda de fluxo de capital ao Brasil acabou pressionando o humor, apesar da boa notícia do Congresso.

Acordo para fim da guerra comercial ganha primeiro capítulo

Depois de um início de semana conturbado, com os EUA colocando mais 28 empresas na lista negra (elas não podem importar produtos americanos) por supostas violações de direitos humanos contra minorias muçulmanas, enquanto impuseram restrições de visto às autoridades chinesas envolvidas, às vésperas da retomada das negociações comerciais com a China, as duas potências chegaram a um acordo parcial nesta sexta (11), o que animou os mercados em geral.

O presidente Trump ajudou a alimentar esse otimismo, antes mesmo do anúncio oficial, com tuítes durante os dois dias de negociações. Nesta sexta, ele recebeu o vice-premiê chinês, Liu He, na Casa Branca.

Segundo Trump o acordo agora firmado incluirá questões de propriedade intelectual e serviços financeiros, além de compras entre US$ 40 e US$ 50 bilhões em produtos agrícolas americanos pela China. Ele deve ser assinado em três semanas, disse. Entretanto, começa já a segunda fase do acordo, que pode ter até três etapas.

O secretário do Tesouro Steven Mnuchin, que também esteve nas negociações, anunciou no Salão Oval que a Casa Branca cancelou uma nova rodada de tarifas sobre as importações de produtos chineses, que entrariam em vigor em 15 de outubro.

Mesmo otimista, Trump não garantiu o acordo a 100%. Falou que não acha que o acordo vá naufragar nas próximas semanas, apesar de haver uma possibilidade de que poderá.

*Com agências

Publicidade
Subscreva nossa Newsletter!
Cadastre seu e-mail para receber nossa Newsletter com dicas semanais.
Invalid email address

Mais Lidas