O dólar comercial ante o real dispara nesta quarta-feira (25), em reação a uma série de notícias negativas que afastam os investidores de mercados e ativos mais arriscados, como o brasileiro.
Pelas 10h24, a moeda americana era negociada a R$ 4,191, com alta de 0,51%, depois de ter atingido R$ 4,193 mais cedo, perto do maior patamar que a divisa já registrou na história do Plano Real, de R$ 4,1957.
O atraso na votação da reforma da Previdência no Senado, que se acreditava que fosse tranquila, deixa os investidores receosos.
Nesta terça-feira (24), a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Simone Tebet (MDB-MS), confirmou que a votação em primeiro turno da reforma da Previdência não aconteceria mais nesta quarta (25), mas semana que vem. Com isso, segundo ela, a votação final não ocorrerá mais em 10 de outubro, mas no dia 16 de outubro.
Além da pressão pela aprovação de emendas para liberar recursos para os parlamentares, o adiamento seria uma forma de retaliação do Senado à ação da Polícia Federal que atingiu o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, e à liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que autorizou os mandados de busca e apreensão.
Ele é suspeito em operação que apura desvios em obras públicas do Ministério da Integração Nacional, pasta comandada pelo parlamentar entre 2011 e 2013.
Entretanto, a PF diz ter encontrado um arquivo denominado de “doadores ocultos” em gabinete do líder do governo Bolsonaro.
Os investidores, principalmente os estrangeiros, aguardam a aprovação da reforma, que pode gerar economia aos cofres públicos de ao menos R$ 870 bilhões em dez anos, para colocarem dinheiro no Brasil. Para eles, apenas com o controle das contas públicas, o país pode crescer de forma sustentável.
Impeachment de Trump
Outro fator de pressão geral é a confirmação do pedido de impeachment contra o presidente dos EUA, Donald Trump, protocolado já após o fechamento dos mercados.
Embora o mercado não acredite que Trump vá sofrer impeachment- ele tem maioria no Senado- há receios que o evento possa impactar no avanço das negociações entre EUA e China e que a investigação se prolongue e cause mais incerteza política e paralisia na administração local.
Esse cenário deverá impactar toda a economia mundial, incluindo o Brasil.
“Um presidente que passa de controlador do noticiário para se tornar reativo ao noticiário e a fatos produzidos na Câmara perde poder de narrativa (seu grande trunfo)”, disse o cientista político Thiago de Aragão, da Arko Advice.
Pela Constituição americana, impeachment é uma figura jurídica equivalente à do indiciamento. A palavra final para o possível afastamento de Trump cabe ao Senado, onde o Partido Republicano detém maioria. No momento, a tendência é a de que o impeachment não seja concluído, mesmo se for aprovado na Câmara.
O pedido foi feito pela líder democrata e presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que vinha relutando em avançar com o processo. Os democratas acusam Trump de usar o cargo para perseguir um adversário político, após um telefonema feito, há dois meses, ao presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski.
A suspeita é de que Trump teria bloqueado uma ajuda militar de US$ 391 milhões para pressionar o líder ucraniano a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, e candidato à Casa Branca para 2020, e seu filho, advogado de uma empresa ucraniana de energia.
“O presidente precisa ser responsabilizado pelos seus atos”, disse Pelosi. “Ninguém está acima da lei.” Segundo placar do jornal “New York Times”, a destituição de Trump tem o apoio de 179 dos 435 deputados, 183 não definiram voto e 73 são contra. São necessários 218 votos. Ou seja, para obter maioria, os democratas precisam virar o voto de 39 parlamentares.
Agora, a Comissão de Justiça da Câmara investigará se houve crimes que justifiquem que Trump seja impedido de exercer o cargo. Em caso afirmativo, a Câmara vota pelo impedimento, que é aprovado por maioria simples.
Guerra comercial: fala de Trump na ONU causa apreensão
Fora isso, o discurso de Trump, na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU ) nesta terça, também traz apreensão aos mercados.
Trump voltou a acusar a China de manipulador de câmbio, de desvalorizar artificialmente sua moeda, o yuan, para deixar seus produtos exportados mais baratos e competitivos no mercado americano. Também disse que não aceitará nenhum acordo ruim para os EUA.
O discurso ocorreu um dia após as esperanças sobre um acordo entre as duas potências terem sido renovadas, depois que o secretário de Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, ter afirmado que as negociações seriam retomadas em duas semanas.
Em resposta aos comentários de Trump, o ministro de Relações Exteriores chinês, Wang Yi, alertou que a separação das economias da China e dos EUA é uma rota que levaria a “problemas infinitos” para ambos os países. Para Wang, “dissociar-se da economia chinesa seria dissociar-se de oportunidades e do futuro”.
*Com agências