Após iniciar o pregão em queda, o dólar fechou em forte alta nesta segunda-feira (19), com temores renovados de uma desaceleração econômica global e dúvidas de que Fed (banco central dos EUA) siga seus parceiros globais e corte mais seus juros básicos.
No fim, o valor do dólar hoje fechou nos R$ 4,068, uma valorização de 1,60%, depois de ter caído a R$ 3,992 pela manhã, mas abaixo da máxima do dia (R$ 4,0743). É a maior cotação para a moeda dos EUA desde 20 de maio. Com a alta desta segunda (19), a divisa acumula avanço de 6,48% em agosto e de 4,94% no ano.
O Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, não resistiu e fechou em queda de 0,34% nos 99.468 pontos, baixo da marca psicológica dos 100 mil pontos. O indicador passou boa parte do pregão em alta, em linha com as Bolsas no exterior.
A cautela geral sentida nas últimas semanas bateu mais forte nos emergentes, como Turquia e África do Sul, nesta segunda-feira, com os investidores buscando ativos mais seguros.
“Há uma sensação positiva com alívio da guerra comercial, mas ela favorece o dólar, e não as moedas emergentes. Ou seja, o “fly to quality” (voo para a qualidade–quando investidores buscam ativos mais seguros) está sendo para o dólar”, explicou Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
Pela manhã, as expectativas de novos estímulos às economias europeias animava os investidores. Mais tarde, a fala do presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, mesmo não tendo direito a voto na decisão sobre os juros americanos, azedou o humor. Ele sinalizou que a autoridade pode não reduzir os juros, mesmo diante de uma agravamento da guerra comercial dos EUA e China, que tende a frear mais a economia americana. Um corte das taxas americanas deixa países emergentes, como o Brasil, mais atrativos.
Segundo Rosengren, não é porque outros países estão afrouxando suas políticas monetárias que os EUA também deveriam fazê-lo. Além disso, para ele, as condições monetárias já estão acomodatícias e a economia está em muito bom estado no momento.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, diante da disparada, o Banco Central (BC) brasileiro “deve atuar no câmbio novamente e com maior vigor”.
“Nos preocupa, contudo, se a autoridade monetária mostrar as cartas antes de atuar, ou seja, mostrar o tamanho da munição em termos de uso de reservas. Isto seria uma escalada onde o mercado iria especular fortemente contra o dado patamar”, alertou.
A partir desta quarta-feira (21), o BC vai começar a entrar no mercado para conter a alta da divisa, com venda de dólares à vista, usando suas reservas internacionais pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. O anúncio foi feito na semana passada, quando a moeda galgou a marca dos R$ 4.
*Com Reuters