O IPCA-15, a chamada prévia da inflação oficial, fechou julho com alta de 0,09%, abaixo do esperado pela média dos analistas (0,13%), o que abre espaço para que o Banco Central (BC) seja mais “ousado”na semana que vem e decida cortar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual, dos atuais 6,50% para 6% ao ano.
O dado, divulgado nesta terça-feira (23) pelo IBGE, era o que faltava para confirmar que a inflação segue bem comportada e que, uma possível redução na Selic não traria solavancos para os preços. Antes de decidir cortar a Selic, o BC avalia se uma diminuição na taxa não pode provocar um barateamento do crédito a tal ponto que o consumo mais alto leve a uma disparada dos preços, puxando a inflação.
Os números do IBGE mostram que a inflação está em patamar baixo. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 2,42% e, em 12 meses, de 3,27%.
A expectativa de um corte maior na Selic–a maioria do mercado projeta uma redução de 0,25 ponto percentual para 6,25% ao ano–tende a ganhar força caso o governo confirme que a liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) será limitada a R$ 500 conta. Estudos iniciais davam conta de que cada cotista poderia sacar até 35% do saldo, com potencial para injetar R$ 42 bilhões na economia, puxando consumo, e possivelmente, os preços.
Na nova opção, o consumo sairia beneficiado, mas o impacto no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) seria mais tímido, dando respaldo para o BC fazer um corte maior na Selic.
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC sobre a trajetória da Selic ocorrerá na próxima quarta-feira (31).
Combustíveis empurram inflação para baixo
Apesar do preço das passagens aéreas terem sofrido, em julho, um salto de 18,1%, movimento típico em época de férias escolares, o grupo de transportes foi a que mais empurrou a inflação para baixo em julho. As quedas de 2,79% nos preços da gasolina, do etanol (-4,55%), do diesel (-1,59%), e do gás veicular (-0,49%) explicam esse contributo, segundo o IBGE.
Já o grupo habitação, que subiu 0,43%, foi responsável pela maior influência positiva no IPCA-15. O maior impacto foi da energia elétrica (1,13%), que teve a sexta alta seguida. O aumento deste mês foi devido à entrada em vigor da bandeira amarela, que onera as contas de luz em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos.
A alimentação ficou praticamente estável, com variação de 0,03% em relação a junho. No lado das quedas, o destaque mais uma vez foi o feijão-carioca (-12,47%), cujos preços caíram pelo quarto mês seguido. As frutas (-1,22%) e o leite longa vida (-0,96%) também tiveram deflação em julho, este último após uma alta de 2,80% em junho.