Economia
Guedes: ‘É bom se acostumar com câmbio mais alto por um bom tempo’
Ministro da Economia, que está em Washington, onde participou do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, não está preocupado com o dólar em nível recorde e fala em tributar dividendos em 20%
(Publicado às 22h50; atualizado às 8h)
Em Washington, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não estar preocupado com o dólar alto–a divisa fechou nesta segunda em R$ 4,215, novo recorde– e sugeriu que a moeda deve continuar nesses patamares por “um bom tempo”.
“O dólar está alto. Qual o problema? Zero. Nem inflação ele (dólar alto) está causando. (…). É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo”, disse ele em entrevista na embaixada brasileira na capital americana, onde participou do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA.
Leia também: Vinho, gasolina e até conta da luz mais cara: veja o que o dólar alto pode impactar no bolso
Segundo o ministro, o dólar em patamares mais elevados é reflexo do ajuste fiscal que o governo está fazendo, combinado com taxas de juros mais baixas. “Quando você tem um fiscal mais forte e um juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio também ele é mais alto”, afirmou.
“Se entrar mais investimento, o câmbio (real) vai apreciar”, disse.
Também rechaçou preocupações com o aumento do déficit em transações correntes (contas externas) do país, destacando que os resultados têm refletindo uma recuperação da economia e ainda são plenamente financiáveis pelos investimentos diretos no país.
Tributação de dividendos: alíquota de 20%
O ministro afirmou ainda que com inflação baixa, possivelmente o Banco Central (BC) vai baixar os juros mais um pouco e que “temos que elevar o imposto sobre os dividendos”.
Segundo o ministro, a ideia é tributar os dividendos com uma alíquota de 20%.
Leia também: Guedes ‘troca’ nova CPMF por tributação de dividendos
Guedes participou de reunião do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, com presença do secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, e vinte empresários, dez de cada país. Pelo Brasil, estão, entre outros, representantes da Natura, da Embraer, da Votorantim e Gerdau.
AI-5 e Lula
Na entrevista, Guedes também condenou os discursos do ex-presidente Lula da Silva, que falou em polarizar o país ao deixar a prisão. Guedes classificou Lula como “irresponsável” e vê o petista chamando “todo mundo para quebrar a rua”. Em coletiva de imprensa realizada em Washington, o ministro disse a jornalistas que “não se assustem se alguém pedir o AI-5” diante desse cenário.
Ao mencionar o Ato Institucional Nº5, instrumento da ditadura militar editado em 1968 que fechou o Congresso e cassou as liberdades individuais, Guedes faz referência à afirmação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente Jair Bolsonaro. No fim do mês passado, Eduardo afirmou que poderia haver a necessidade de reeditar o AI-5 caso a esquerda radicalizasse.
“É irresponsável chamar alguém pra rua agora pra fazer quebradeira. Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo o mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?”, disse Guedes.
Grevistas da Petrobras
Também falou que, se fosse o presidente da Petrobras e a empresa fosse privada, demitiria os funcionários que entraram em greve nesta semana.
“Todos os sinais [econômicos] melhorando e greve na Petrobras. Só porque melhorou, querem greve? É empresa pública ou privada? É Estado e Bolsa. Uma greve importante, demite as pessoas e contrata outras pessoas que queiram trabalhar. Estou surpreso. Se eu fosse presidente de uma empresa… tem coisas que eu não quero falar”, disse.
“Você tem excelentes salários [na estatal], bons benefícios, você tem quase estabilidade de emprego e tenta usar o poder político para tentar extrair aumento de salário no momento em que há desemprego em massa? Se fosse uma empresa privada e eu fosse o presidente de uma empresa privada, eu sei o que eu faria”, acrescentou o ministro.
*Com Folha.com, Reuters e Bloomberg