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Dólar atinge novo recorde da história: R$ 4,215

Moeda americana sobe para novo patamar, e desta vez, a culpa foi das contas externas; em novembro, divisa avança mais de 5%: entenda os motivos

Bárbara Leite

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Moeda dos EUA acumula alta de quase 9% no ano–Foto: Pixabay

Uma semana depois, e mesmo após quatro grandes bancos internacionais (Morgan Stanley, JP Morgan, UBS e Credit Suisse) terem recomendado a seus clientes investir no Brasil, o dólar renovou seu recorde. A moeda americana atingiu, nesta segunda-feira (25), o maior valor nominal da história do Real nos R$ 4,215, ao subir 0,53%. 

O resultado das contas externas de outubro, divulgado nesta manhã, foi o motivo que levou a divisa a bater a nova marca histórica. O recorde anterior era da última segunda (18) em R$ 4,206.

“As contas externas vieram piores do que o estimado e puxaram o dólar para cima”, disse Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.

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De acordo com o Banco Central (BC), o Brasil registrou déficit em transações correntes (contas externas) de US$ 7,874 bilhões em outubro, maior que o estimado por analistas e o mais intenso para o mês desde 2014, na esteira de um fraco resultado comercial no mês. Analistas ouvidos pela Reuters esperavam que o déficit ficasse em US$ 5,475 bilhões.

As contas externas consideram os resultados da balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).

“O incremento no déficit decorreu, fundamentalmente, da redução no saldo positivo da balança comercial de bens, de US$ 5,3 bilhões [em outubro de 2018] para US$ 490 milhões [no mês passado]”, diz relatório do BC.

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Os dados mostram que as exportações estão caindo, como resultado da desaceleração global, e estão saindo mais dólares do que entrando, movimento que enfraquece o real ante o dólar.

Em outubro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 6,815 bilhões, também abaixo da projeção de analistas de US$ 7,5 bilhões.

Frustração com os leilões do pré-sal e turbulências na AL

A recente alta do dólar começou após a decepção com os leilões de petróleo do pré-sal, no início de novembro, com a fraca participação de empresas estrangeiras, que puxou a divisa acima dos R$ 4.

Antes, a moeda se encaminhava para cair abaixo de R$ 4, após a aprovação da reforma da Previdência, uma das condições dos estrangeiros para voltarem a investir no país.

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O mercado esperava um fluxo de capital ao país na ordem dos US$ 25 bilhões que acabou não acontecendo. Sem entrada de dólares, o real se enfraquece.

A alta foi agravada pelo aumento das turbulências políticas e sociais no Chile e na Bolívia. Os protestos chilenos enquadraram o presidente Sebastián Piñera, que aceitou iniciar um processo para mudar a Constituição, algo que o mercado não quer nem ouvir falar. Passou a aumentar o receio de que o mesmo poderia acontecer em outros países da América Latina, como o Brasil.

“Carry trade”

Outro motivo que também está “afugentando” o investidor estrangeiro é a diminuição do interesse pelo chamado “carry trade” (quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e se aplica a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).

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Com a queda da taxa Selic, que não tem sido acompanhada por cortes na mesma magnitude pelo Fed (Banco Central dos EUA), aumenta o diferencial dos juros americanos para o brasileiro, e o investidor prefere ficar com o dinheiro lá em vez de migrar o capital para outros mercados, que apesar de pagarem juros maiores também são mais arriscados.

Guerra comercial EUA-China

Também as incertezas em relação à guerra comercial entre EUA-China, que vem penalizando as economias do mundo todo, têm feito os investidores se refugiaram no dólar em um movimento global de busca por segurança, o chamado “Fly to quality” (“voar para a qualidade”).

Boletim Focus

A piora recente do dólar já veio refletida no Boletim Focus, que reúne as projeções de cerca de cem economistas do mercado financeiro, divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (25). Agora, o mercado prevê que a moeda americana termine 2019 em R$ 4,10, contra R$ 4 anteriormente.

Remessas de lucros ao exterior

Nesta época também costuma pressionar o dólar a tradicional remessas de lucros das multinacionais ao exterior, que explica parte da saída dos dólares do país.

Liquidez fraca por feriado nos EUA

Nesta semana, em que as Bolsas americanas vão ficar fechadas na quinta-feira (28) por conta do Dia de Ação de Graças e terminar mais cedo, às 13h, na sexta (29), o real tende a continuar pressionado, já que nesses dias a tendência é que a liquidez no mercado brasileiro caia.

Em novembro, o dólar acumula alta de 5,07% sobre o real. No ano, o avanço é de 8,74%.

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