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Na véspera do ‘dia mais importante do ano’, dólar fecha a R$ 4,13 com Focus e Brexit
Moeda americana segue pressionada pela indefinição com a saída do Reino Unido da UE e pela estimativa de uma queda ainda mais forte na Selic em 2019; votação da reforma da Previdência, na “Super Terça”, também traz cautela ao mercado
(Publicada às 13h10: atualizada às 17h40)
O dólar já iniciou em alta na manhã desta segunda-feira (21) com dúvidas em relação aos desdobramentos da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, e novas estimativas do Boletim Focus projetando uma queda maior na taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
A cautela se deu em meio à expectativa com a conclusão da votação da reforma da Previdência no Senado, prevista para esta terça-feira (22), o “dia mais importante do ano” para o mercado de câmbio, segundo destacou Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, em seu “morning call: “O Minuto Econômico com Pablo Syper”.
No fechamento, o dólar comercial ente o real ficou nos R$ 4,13, alta de 0,27%, longe das máximas do dia, quando chegou a subir a R$ 4,148.
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“Há uma pressão com a expectativa de uma queda mais forte na Selic, depois do Boletim Focus divulgado hoje, que deixa o dólar um pouco arisco. O Brexit também pesa”, explicou Syper.
“Mas a grande notícia do dia é que amanhã será uma ‘Super Terça’ no Brasil, quando vai ser votada a reforma da Previdência em segundo turno no Senado. É extremamente importante. É o dia mais importante do ano para o Brasil. Estamos esperando esse dia há 14 meses”, acrescentou.
Brexit: acordo não vai ser votado nesta segunda
O mercado financeiro seguiu atento à “novela” do Brexit, que não chega a uma definição. Nesta segunda-feira (21), o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, rejeitou a pretensão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de colocar para votação no Parlamento o acordo para o Brexit, que ele acertou com a UE na última quinta, depois que, no sábado, uma emenda aprovada na Casa, também impediu que os termos do “divórcio” fossem apreciados pelos deputados.
“A minha decisão é que a moção não será debatida hoje”, disse John Bercow no Parlamento. “Seria repetitivo e desordenado”, acrescentou.
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Com isso, segue indefinido o futuro do Brexit. Johnson quer que o país saia da UE no prazo que ele prometeu dia 31 deste mês, mas, forçado pelo Parlamento, pediu, a contragosto, um adiamento para deixar o bloco europeu. Uma saída sem o acordo com a UE aprovado pelo Parlamento britânico pode gerar caos no mercado financeiro local, e contagiar o resto do mundo.
Selic em 4,50%: nova projeção
Na cena doméstica, pressionou o humor do mercado a nova projeção para a Selic, no Boletim Focus, divulgada nesta segunda (21), dos anteriores 4,75% para 4,50% ao ano. O corte se dá após várias casas de investimentos, como UBS e Bradesco, terem reduzido as projeções do juro básico para 2019, para 4,50% ao ano, diante do enfraquecimento dos preços e retomada ainda lenta da economia brasileira.
Uma queda maior no juro básico sem ser acompanhada na mesma magnitude pelo Fed (banco central dos EUA), deixa ainda menos atrativo o chamado “carry trade”, afastando do país investidores estrangeiros que ganham com especulação das taxas de juros.
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“Carry trade” é quando se pega dinheiro em um país que paga uma taxa de juros mais baixa, como os EUA, e aplicar a quantia em outro destino que pague retornos maiores (caso de emergentes, como o Brasil).
Dados do BofA (Bank of America Merrill Lynch) mostraram que o diferencial de “carry” (retorno) pago pelo real, atualmente, ainda sem contar com os novos cortes esperados, já é de pouco mais de 2%, bem atrás de pares emergentes como peso mexicano (quase 6%), rupia indiana (5%), rupia indonésia (5%), rublo russo (perto de 5%) e rand sul-africano (também próximo de 5%), segundo a Reuters.
Reforma da Previdência: “Dia D”
As atenções estiveram voltadas para a votação em segundo turno no Senado da reforma da Previdência nesta terça, em meio a expectativas do mercado de que o projeto seja aprovado. A proposta, que vai gerar ao menos R$ 800 bilhões de economia aos cofres públicos em dez anos, é vista pelos estrangeiros como essencial para equilíbrio das contas públicas e a retomada do crescimento do país.
Também permaneceu no radar a crise política envolvendo o partido do presidente da República, o PSL. O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que não há uma crise política e nem riscos para a aprovação final da reforma da Previdência.
Leilão do BC
Atenuou um pouco a alta, a meio da manhã, a venda no leilão à vista pelo BC de US$ 275 milhões. Apesar de não ter conseguido colocar os US$ 525 milhões previstos, o valor ajuda a dar liquidez ao mercado e a conter a pressão sobre a moeda americana.