O vaivém nesta sexta-feira 13 acabou com o Ibovespa, índice de referência da B3, a Bolsa brasileira, terminando com um novo recorde de fechamento nos 112.564 pontos, o segundo da semana.
O avanço de 0,33% foi embalado pela confirmação pelos chineses e depois pelo presidente dos EUA, Donald Trump, do acordo parcial entre EUA e China, que vai suspender a entrada em vigor de novas tarifas sobre produtos chineses, que estavam previstas para este domingo (15). Na véspera, o indicador já havia encerrado nas máximas históricas.
O volume financeiro do dia foi forte, e atingiu 25,84 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumulou alta de 1,24%. No ano, o avanço já é de 28,01%.
O risco-país brasileiro seguiu em queda na semana, e caiu para o menor nível em sete anos, e nesta sexta, chegou a recuar abaixo da marca psicológica de 100 pontos (leia abaixo).
Além da expectativa com o avanço do acordo, que foi confirmado nesta sexta, puxou o desempenho do Ibovespa na semana a melhora na perspectiva da nota do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), diante das reformas e crescimento mais forte do país e a aprovação da nova lei do saneamento pela Câmara, que abre a atividade à iniciativa privada e pode atrair investimentos ao país.
Também agradou o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que confirmou o corte da taxa básica de juros, a Selic, para 4,5% ao ano, o menor da história, e não fechou a porta para novas baixas da taxa em 2020. Os economistas do Itaú Unibanco, por exemplo, mantiveram sua projeção de que a Selic caia a 4% no próximo ano.
Além disso, a nota do Fed (Banco Central dos EUA) que acompanhou a decisão da autoridade manter os juros após três cortes seguidos de que não deve aumentar as taxas no ano que vem também trouxe otimismo ao mercado.
Queda da Petrobras e acordo abaixo das novas expectativas
A alta desta sexta não foi maior devido ao tombo das ações da Petrobras (PETR4), após o BNDES informar que vai vender sua parte na petrolífera, e porque o acordo comercial de “fase 1” ficou restrito ao recuo de imposição de novas tarifas.
Bloomberg e depois o jornal ‘The Wall Street Journal” elevaram as expectativas do mercado sobre a abrangência do acordo nesta primeira etapa.
O jornal americano havia noticiado nesta quinta (12) que negociadores americanos ofereceram corte de até 50% nas tarifas em vigor sobre US$ 360 bilhões em importações provenientes da China, além do cancelamento, que foi confirmado, de novas taxações de cerca de US$ 160 bilhões sobre produtos do país asiático, inicialmente planejadas para entrar em vigor no próximo domingo (15).
Segundo o jornal, em troca, a China se comprometeu em compras de US$50 bilhões anuais pela China de produtos agrícolas, mais do que o dobro das compras de Pequim em 2017, antes da guerra comercial.
Pela manhã, Trump fez questão de desmentir o jornal, e acabou assustando o mercado, levando o Ibovespa a cair a 111.779 pontos. “A história do Wall Street Journal sobre o acordo com a China está completamente errada, especialmente a declaração sobre tarifas. Notícias falsas. Eles devem encontrar um melhor informador!”
Nesta sexta, o BNDES comunicou à Petrobras a sua intenção de avaliar a venda de até a totalidade de ações ordinárias da empresa detidas pela instituição. A operação seria feita por meio de uma oferta pública secundária de ações, com esforços de distribuição no Brasil e o no exterior, acrescentou a Petrobras.
Em 30 de novembro de 2019, o BNDES detinha 734.202.699 ações ordinárias da Petrobras, representando cerca de 10% do total de ações ordinárias emitidas pela companhia, segundo a nota.
China confirma que acordo ‘fase 1’ foi assinado
O otimismo voltou aos mercados, após a China dar coletiva em que anunciou que chegou a acordo com os EUA sobre o texto de um acordo comercial da fase um e agora passará a assinar um acordo abrangente o mais rápido possível.
Os EUA vão descartar tarifas sobre produtos chineses em fases, uma prioridade para Pequim, disse o vice-ministro do Comércio Wang Shouwen. No entanto, Wang não detalhou quando exatamente os EUA reverteriam as taxas.
Segundo Han Jun, vice-ministro da Agricultura e Assuntos Rurais, Pequim aumentará significativamente as compras agrícolas, embora não tenha especificado quanto. O presidente Donald Trump insistiu que Pequim compre mais produtos agrícolas americanos como parte de um acordo mais geral para pôr fim à guerra comercial entre as duas potências que dura há 20 meses.
O acordo em desenvolvimento envolve propriedade intelectual, transferências de tecnologia, produtos agrícolas, serviços financeiros e expansão do comércio, disseram autoridades chinesas.
O acordo ainda precisa passar por procedimentos legais, acrescentaram.
Trump diz que acordo prevê apenas recuo em novas tarifas
Já a confirmação por Trump de que o acordo “fase 1” foi assinado, mas que não inclui a retirada de tarifas já impostas, esfriou os ânimos do mercado.
O dólar acabou por fechar em alta de 0,41% para R$ 4,109, depois de ter negociado em queda na faixa dos R$ 4,08.
“Concordamos em um acordo muito grande com a China. Eles concordaram com muitas mudanças estruturais e compras maciças de produtos agrícolas, energia e bens manufaturados, além de muito mais. As tarifas de 25% permanecerão como estão (…)”, escreveu Trump sobre o acordo.
Em outra mensagem, diz, o presidente diz que as novas taxas que passariam a valer no domingo não vão avançar e que as negociações para a fase 2 já começam agora: “As tarifas de penalidade fixadas para 15 de dezembro não serão cobradas pelo fato de termos firmado o acordo. Começaremos as negociações sobre o acordo da segunda fase imediatamente, em vez de esperar até depois das eleições de 2020. Este é um negócio incrível para todos. Obrigado!”
Vitória de Boris e Brexit com acordo mais perto
Na abertura, animou o mercado os resultados das eleições gerais no Reino Unido, com vitória esmagadora de Boris Johnson, do partido Conservador, que deixa a saída do país da União Europeia (UE), o chamado Brexit, com acordo mais perto de acontecer.
Uma saída brusca do país do bloco preocupava os mercados, o que poderia trazer incertezas ao sistema financeiro britânico e contagiar o mundo inteiro.
Prévia do PIB: pior do que o esperado
Outro dado que mexeu com o humor foi o IBC-Br, considerada uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) brasileiro, que foi divulgado pelo Banco Central (BC) nesta sexta.
O indicador mostrou que o PIB cresceu 0,17%, acima das estimativas de analistas ouvidos pela Reuters (0,10%). Em relação a outubro de 2018, o IBC-Br apresentou ganho de 2,13% e, no acumulado em 12 meses, houve alta de 0,96%.
Risco-país no menor patamar em 7 anos
Acompanhando o bom desempenho do Ibovespa, o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, um termômetro do risco-país, recuou para 100,89 pontos nesta sexta (13), mesmo com a alta do dólar, para níveis em que o país estava quando tinha o grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador que atrai investimentos.
O patamar atual é o menor desde 7 de novembro de 2012, quando atingiu 100,25 pontos.
Durante o dia, o indicador chegou a cair aos 99 pontos. A última vez em que a pontuação fechou abaixo de 100 pontos foi em novembro de 2010.
O indicador é usado para acompanhar a confiança de investidores internacionais no país. Quanto menor o índice, maior a confiança dos investidores internacionais no país.
Veja as ações que mais subiram nesta sexta…
- Via Varejo (VVAR3): R$ 10,87 (8,70%)
- MRV (MRVE3): R$ 22,16 (6,23%)
- Metalúrgica Gerdau (GOAU4): R$ 8,57 (5,80%)
- Yduqs (YDUQ3): R$ 47,20 (4,87%)
- Cielo (CIEL3): R$ 8,78 (4,52%)
… e as que mais caíram
- Petrobras ON (PETR3): R$ 31,33 (-4,69%)
- BRF (BRFS3): R$ 33,95 (-4,39%)
- Petrobras PN (PETR4): R$ 29,98 (-3,20%)
- IRB Brasil (IRBR3): R$ 36,68 (-2,29%)
- Rumo (RAIL3): R$ 25,41(-1,82%)
*Com CNBC, Bloomberg e Reuters