A semana para a Bolsa brasileira pode ser dividida em duas: antes e depois do feriado de Consciência Negra, na quarta-feira (20). O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, que ia mal das “pernas”, com o contágio das turbulências no Chile e Bolívia e incertezas quanto ao acordo comercial entre EUA e China, virou e fechou em alta de 2% na semana, melhor desempenho entre as Bolsas mundiais.
O motivo: uma onda de recomendações otimistas para as ações brasileiras, divulgadas na quinta-feira (21), volta do feriado, e nesta sexta (22).
“Até ontem às 14h-15h era ‘Goodbye Brazil’, mas, às 16h, passou a ‘Let’s buy Brazil’. Houve uma guinada brutal”, disse Pablo Syper, diretor da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, se referindo às recomendações de compra da Bolsa brasileira por seis grandes bancos: Morgan Stanley, JP Morgan, UBS, Credit Suisse, BTG Pactual e Bradesco.
Os bancos veem potencial para as empresas brasileiras, diante da queda das taxas de juros, que reduzem o custo do capital e o endividamento, e expectativas de aumento mais robusto da economia, em meio à continuidade das reformas econômicas.
Também ajudaram à virada as notícias que indicam que a primeira fase do acordo comercial entre EUA e a China está mais perto de ser assinado. Os presidentes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping reforçaram essa expectativa nesta sexta.
Em um raros comentários sobre as tensões comerciais com Washington, Xi Jinping disse que Pequim quer elaborar um pacto comercial provisório ou a “fase um” “com base em respeito mútuo e igualdade”.
Horas mais tarde, Trump afirmou à Fox News que um acordo comercial com a China está “potencialmente muito próximo”, embora tenha insistido que qualquer acordo teria de ser ponderado para favorecer os EUA depois de anos de desequilíbrio comercial com a China.
Outro elemento que animou os investidores do mercado de ações foram as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmando que os juros devem continuar caindo no Brasil.
Além disso, a prévia da inflação, o IPCA-15, subiu 0,14% em novembro, menos que os 0,17% esperados e na menor variação para o mês em 21 anos, abrindo espaço para novos cortes nos juros, que tendem a forçar os investidores a tirar seus investimentos em renda fixa para ativos mais arriscados.
Nesta sexta, o Ibovespa subiu 1,11% e retomou os 108 mil pontos, tendo encerrado aos 108.692 pontos. Na terça, antes do feriado, o índice estava nos 105.666 pontos.
Euforia não chega ao real
A euforia na Bolsa, porém, não foi sentida pelo real. O dólar fechou estável nesta sexta e na semana nos R$ 4,193, depois de ter alcançado o recorde da história na segunda (18) nos R$ 4,206.
“Desta vez, as boas notícias refletiram muito mais nos juros do que no dólar. Os juros fecharam nas mínimas. O dólar demora mais um pouco. Tem que lembrar que ele subiu devido aos US$ 25 bilhões iam entrar por conta dos leilões do pré-sal. Ali, o dólar mudou de patamar, passou para os R$ 4,12”, afirmou Spyer.
Além da frustração com a fraca presença de empresas estrangeiras nos leilões de petróleos do pré-sal, que reduziu o fluxo esperado de capital, nesta época, o dólar costuma sofrer pressão, já que muitas empresas multinacionais enviam seus lucros para o exterior. A moeda também segue sendo penalizada devido às turbulências políticas de sociais nos vizinhos da América Latina.
Segundo o diretor da Mirae, “o final de semana vai servir para todo o mundo digerir as recomendações. O Brasil é a bola da vez na América Latina. É o país onde todo o planeta deve investir. A semana que vem pode ser que a gente possa ver um pouco do otimismo no dólar”.
Ele destacou, no entanto, que “ninguém sabe o futuro do dólar”. “O dólar foi feito para botar economista no devido lugar, de insignificância”, avaliou.
No mês de novembro, o dólar acumula alta de 4,54%.