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Moratória ‘branca’ da Argentina deve pressionar dólar nesta quinta

Anúncio desta quarta de pedido do governo do país vizinho de novo prazo para pagar empréstimos com o FMI e outros credores pode afetar os ânimos no mercado brasileiro

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Após uma quarta-feira (28) estável, com a forte atuação do Banco Central (BC) amenizando a pressão sobre a moeda das preocupações com a guerra comercial entre EUA e China, recessão americana, temores de um Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) sem acordo, cenário político local e crise diplomática com a questão amazônica, o dólar terá um motivo adicional para subir nesta quinta-feira (29): a moratória “branca” da Argentina.

Nesta quarta, o ministro das Finanças argentino, Hernán Lacunza, pediu um novo prazo para pagar os empréstimos do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras dívidas com credores privados, depois que o peso sofreu um novo golpe e a classificação de risco do país disparou. 

Lacunza afirma que pediu ao FMI que “inicie o diálogo para reorganizar as datas de vencimento de nossa dívida com essa organização”.

Segundo ele, o motivo não seria a falta de dinheiro para pagar, mas uma forma de conseguir tempo para que o peso se valorize–ele está em patamares mínimos históricos– e deixe a dívida em dólares mais baixa. “Isso se deve a estresse de liquidez de curto prazo e não devido a problemas com a solvência da dívida”, explicou.

No total, o governo argentino quer adiar pagamentos de US$ 7 bilhões em títulos mantidos por investidores institucionais neste ano e buscará mudar o perfil de outros US$ 50 bilhões em dívidas de longo prazo. Também iniciará conversações sobre o pagamento dos US$ 44 bilhões que já recebeu em empréstimos do FMI. O plano de resgate, acordado em maio de 2018, prevê US$ 57 bilhões de ajuda à Argentina, o maior valor já dado pelo fundo.

Peso argentino já se desvalorizou 28% contra o dólar desde a eleição de 11 de agosto-Foto: Reprodução

Em nota, o FMI disse que vai”ficar ao lado da Argentina”. “O Fundo continuará com a Argentina durante esses tempos difíceis”, disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, em comunicado, acrescentando que a instituição está analisando e avaliando o impacto do anúncio feito nesta quarta-feira por autoridades locais. 

O peso argentino desvalorizou 28% em relação ao dólar, desde o resultado surpresa da eleição prévia da presidencial de 11 de agosto. No pleito, o atual presidente, o liberal Mauricio Macri, perdeu para o candidato de esquerda, Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice na sua chapa, indicando que ele não se deve reeleger em 27 de outubro. A volta de um partido de esquerda e de medidas populistas assustaram o mercado.

A divisa recuou mesmo com a forte atuação do Banco Central local para segurar a alta. A autoridade já usou US$ 10 bilhões das reservas, desde a eleição, para conter a queda do peso.

Dezenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas da capital nesta quarta-feira para exigir que o governo faça mais para mitigar o impacto da crise econômica em um país que não cumpriu sua dívida oito vezes desde a independência da Espanha.

Resta saber como o mercado vai reagir. Mas moratórias, mesmo que brandas, não costumam cair bem aos investidores. A crise econômica e cambial argentina já respinga no Brasil e deve continuar a afetar a economia e o mercado financeiro por aqui. O setor produtivo mais atingido é o automotivo. A crise já reduziu em cerca de 45% as exportações de carros brasileiros para o vizinho. Os investidores também estão penalizando a América Latina como um todo, devido aos problemas argentinos.

Em agosto, o real ostenta o segundo pior desempenho entre as emergentes em relação ao dólar, atrás apenas do peso argentino.

Nesta quarta, a atuação surpresa de terça do BC, que usou dólares das reservas para conter a divisa, que chegou a bater recorde antes do fechamento, foi considerada responsável pelo real não ter perdido valor diante de fatores negativos externos e internos. A autoridade deve continuar atuando neste pregão para mitigar a alta agora com uma pressão adicional no radar.

*Com agências

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