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Mercado está dividido: veja os três cenários para o polêmico Copom desta quarta
Confira o que esperam os economistas sobre o rumo da taxa básica de juros do Brasil, que será decidido logo à tarde
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), desta quarta-feira (31), é esperada com grande expectativa, tanto que o mercado não chegou a um consenso sobre qual rumo terá a Selic, a taxa básica de juros da economia, que serve de referência para as taxas cobradas no país, das empresas às famílias.
A dúvida é: vai ficar no mesmo nível que está desde março de 2018, nos 6,50% ao ano? Vai cair 0,25 ponto percentual, para 6,25%? Ou o recuo será mais agressivo, de 0,50 ponto, para 6%?
As opiniões se dividem nesses três cenários. A única certeza dos economistas é de que, em algum momento do segundo semestre, a taxa vai cair, o que pode baratear, ainda que de forma reduzida, o crédito para comprar a geladeira ou o automóvel, por exemplo.
De acordo com levantamento da XP Investimentos, um terço dos analistas pesquisados projeta a Selic em 5,50% no fim de 2019; outros 24% apostam que ela fique em 5%; 16% veem o juro básico em 5,25% e 11%, em 5,75%.
O Economia Bárbara foi ouvir economistas para entender os argumentos que sustentam as apostas.
Taxa não mexe e fica em 6,50% ao ano
O menos consensual dos cenários é este: o Copom não mexe na Selic, que permanecerá nos mesmos 6,50% ao ano que está há dez reuniões. A corretora Mirae Asset e a Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac) são das que acreditam que a autoridade será conservadora, uma vez que, como a reforma da Previdência ainda tramita no Congresso, haveria risco dela ser mais desidratada- a previsão é que ela gere uma economia de R$ 900 bilhões ante estimativa inicial de R$ 1,16 trilhão- e acabar não resolvendo o problema das contas públicas, o que geraria inflação lá na frente.
“Tenho a impressão que o mercado está mais ‘dovish’ (prevendo cortes maiores nas taxas) do que deveria. Somente com a reforma da Previdência aprovada, o Brasil terá credibilidade fiscal perante outros países para poder cortar juros de maneira sustentável sem fazer com que a inflação dispare. Não vejo nenhuma mudança estrutural na economia que viabilize tamanha sensação otimista”, disse Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset.
Para Spyer, apesar da inflação estar em patamar baixo, permitindo ao BC cortar a taxa para estimular o crescimento econômico sem recear impacto nos preços (com a esperada alta do consumo pelo crédito ficar mais barato), ela chegou nesse nível de maneira não saudável.
“Todos falam em inflação baixa, e é verdade, mas pelas piores razões possíveis, como desemprego altíssimo e população endividada e devendo com nome negativado no Serasa. O BC tem deixado claro que sim, se preocupa com crescimento do país, obviamente. Mas não mostra sinais de que possa colocar a inflação em risco para que o país cresça”, contou.
Taxa recua a 6,25%, com corte mais comedido
Até à divulgação, na semana passada, do IPCA-15, a prévia da inflação oficial, de julho, que ficou em 0,09%, abaixo do previsto, este era o cenário que reunia as maiores apostas: o BC deve iniciar um ciclo de cortes já na reunião de julho, de 0,25 ponto percentual para estimular o crescimento da economia, que estagnou no primeiro semestre. Com isso, a taxa ficaria em 6,25%.
A frustração com o crescimento econômico, que, em 2019, não deve ir além dos 0,80%, quando, no início do ano, as previsões eram de alta de mais de 2%, o avanço da reforma da Previdência-texto já passou em primeiro turno na Câmara dos Deputados-, e a cena externa mais favorável, com indicação de que os juros também recuarão lá fora, são os argumentos apontados por quem projeta que o BC faça o primeiro corte em 16 meses para puxar a recuperação da economia.
Porém, defendem um corte mais comedido, após sinalizações do próprio BC e devido a receios, ainda que remotos, de problemas com a aprovação da reforma da Previdência.
“Estamos na expectativa de um corte de 0,25 ponto percentual, um pouco mais comedido, para respeitar o próprio discurso que o Banco Central tem tido nos últimos comunicados, que têm saído num linha mais cautelosa. O fato da reforma da Previdência ainda tramitar no Congresso, com risco de ser desidratada, favorece um início mais cauteloso”, disse Silvio Campos Neto, sócio e economista sênior da Tendências Consultoria Integrada.
Segundo Campos Neto, que projeta a Selic em 5,75% no fim do ano, “o próprio relatório de inflação do BC contempla níveis de inflações próximos às metas, indicando que a margem para cortar de juros sem pressionar a inflação não é assim tão grande”.
Para José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, estão reunidas as condições para o juro básico ser cortado. “De um lado, o balanço de riscos está claramente mais favorável a uma queda da Selic para nível mais estimulativo. O exterior faz pressão deflacionária e juros estão em queda. A atividade doméstica se arrasta e a ociosidade segue enorme. A reforma da Previdência avançou concretamente”, afirmou.
De acordo com Gonçalves, o “perfil da diretoria”, e o fato de um corte maior, de 0,50 ponto, puder ser enxergado como um reconhecimento do próprio BC de que começou a aliviar as taxas tarde demais explicariam a aposta em 0,25 ponto.
Camila Abdelmalack, economista na CM Capital Markets, também prevê um corte de 0,25 ponto, acreditando que será o início de um ciclo de cortes “não tão intenso” e que “será feito de forma mais lenta”. Ela vê a taxa em 5,50% no fim de 2019.
Corte mais agressivo leva juro básico a 6%
Já a diminuição da Selic para 6% um corte de 0,50 ponto percentual passou a ganhar adesões depois que indicadores econômicos mostravam que a produção, o varejo e os serviços não recuperaram no segundo trimestre. O mercado espera que a produção industrial, por exemplo, cresça 0,50% em 2019, contra alta de 0,71% há quatro semanas.
A inflação em patamar baixo também atesta o argumento. No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA-15, uma prévia da inflação oficial, está em 3,27% e sinaliza que a inflação pode ficar bem abaixo da meta de 4,25% de 2019.
“Vejo uma disposição maior do BC em dar um corte de 0,50 ponto, o que é compatível com o alcance das metas de inflação pelos seus modelos. Minha projeção atual é dois cortes de 0,50 ponto até o fim do ano, mas, dependendo da recuperação da atividade econômica, podem ser três”, disse Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
Com o corte na Selic, o BC quer que os bancos reflitam a redução e barateiem o crédito para empresas e famílias consumirem e investirem, e assim, puxarem a atividade de indústria, varejo e serviços, ajudando a alavancar o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país).